Samuel Nunes
Repórter
O primeiro obstáculo que um ex-dependente químico enfrenta é mostrar para a sociedade que é capaz de reescrever sua própria história. Continuando a série de reportagens sobre o mundo das drogas em Montes Claros, nesta edição, exemplos de ex-dependentes químicos que mudaram o curso da vida e, gradualmente, estão sendo reinseridos na sociedade.
Histórias como a de Frederico Alves Batista, que começou a usar drogas aos 16 anos, há dois anos se libertou do vicio em crack e hoje trabalha em um estacionamento na região central da cidade.
- Chegava a gastar entre R$ 120,00 e R$ 150,00 por dia com drogas, além de trazer tristeza para os meus pais, pois sou filho único e estava acabando com a minha vida e da minha família. Mas, graças a Deus e por vontade própria, quis mudar de vida hoje sou um ser humano preocupado com a família. Casei, tenho uma filha e trabalho para sustentar a minha família; drogas nunca mais, afirma categórico.
Fotos: Samuel Nunes
Frederico Alves Batista: - Casei, tenho uma filha e trabalho para sustentar a minha família; drogas nunca mais
Frederico afirma que enfrentou preconceito ao tentar conseguir um emprego.
- Assim que saí de um centro de recuperação, onde permaneci por cinco meses, tive dificuldades em ser reintegrar na sociedade, mas não desisti e cheguei a me tornar gerente de um supermercado. Hoje trabalho em um açougue. Minha vida hoje é de vitórias - comemora.
ALEGRIA
Anderson Rocha Sales, 25 anos, seis dos quais com uso diário de drogas mais precisamente o crack. Segundo ele foram três anos ininterruptos usando crack droga que ele considera a mais nociva.
Anderson Rocha Sales: drogas para mim é coisa do passado
- Fiquei internado em uma clínica para dependentes, cerca de quatro meses, depois que parei de usar drogas aprendi uma profissão, a de pedreiro, e atualmente trabalho em um lava-jato. Graças a Deus e a minha vontade de querer continuar vivendo, drogas para mim é coisa do passado. Só trazia tristeza e desilusão para a minha família, hoje é só alegria - conta.
Manoel afirma que se tornou evangélico e dá o testemunho de sua vida para jovens e adolescentes.
- Meu próximo objetivo é voltar a estudar. Minha vida com drogas era sem sossego e paz. Tudo mudou e para melhor - planeja.
MUDANÇA DE HÁBITO
O Norte conversou também com o pai de Anderson, Manoel da Rocha Brito que comemora a mudança de vida e de comportamento do filho.
- Antes era só tristeza e sofrimento, a mudança dele foi maravilhosa para toda a família, avalia.
Amarildo Junior Gonçalves de Oliveira, 25 anos, casado, disse que antes sua vida era baseada na prostituição e nas drogas.
- Crack é a pior droga que pode existir, durante oito anos da minha vida fui um viciado, mas Deus coloca pessoas em nossa vida que nos ajuda positivamente. Hoje sou um homem casado, trabalhador e que não é mais escravo da prostituição e do crack.
TRATAMENTO
A reportagem conheceu a Clínica da Alma, que trabalha na recuperação de dependentes químicos. Localizada em um terreno de 25 mil metros quadrados, na estrada que dá acesso à cidade de Juramento e abriga atualmente quase 20 dependentes. Pastor Altemar de Freitas Cardoso diretor-presidente da clínica, afirma que em 11 anos de atividades mais de 500 jovens e adultos já foram reintegrados à sociedade.
- Temos alguns estagiários de faculdades como, por exemplo, a Funorte, que presta assistência aos dependentes químicos. Mas aqui priorizamos o lado espiritual por acreditar que somente Deus e a força de vontade própria são elementos que podem tirar um dependente do mundo das drogas, diz.
Altemar afirma que há a preocupação também dos dependentes terem o tempo preenchido com atividades que poderão se tornar úteis depois que sair da clínica onde o assistido aprende artesanato, reforma de sofá e produção de tapetes.
CUSTO
Segundo ele o custo mensal para manter a clínica em funcionamento é de aproximadamente 10 mil reais, afirma ainda que na cidade há cerca de 10 clínicas de recuperação.
- O tempo de internação aqui depende do próprio viciado, que tem que trabalhar viver bem com o outro e querer sair do vício. De nada adianta acompanhamento psicológico se o usuário não tiver vontade, salienta.
José Amadeu, 54 anos, 32 viciado em álcool, está na clinica há 21 dias. Ele diz esperar recuperar deste vicio e voltar a viver normalmente com a família. Luciano Dias Veloso, também interno, elogia o ambiente da clínica e diz que a amizade e tranqüilidade permeiam no local.
Evanilson Andrade, dependente de bebida alcoólica e crack, afirma que tem esperança de uma vida melhor assim que sair do centro de recuperação.
RESGATANDO VIDAS
Varlon Rosilan de Medeiros Santos é fundador do projeto social Resgatando Vidas, entidade de assistência social sem fins lucrativos que presta orientação a dependentes químicos. Chama a atenção para a ausência de políticas públicas que amparem dependentes químicos e ressalta a necessidade do poder público construir um centro municipal de recuperação de usuários de drogas.
Luiz Henrique Xavier Pimenta, idealizador do projeto Águia - Centro de recuperação salvando vidas, explica que o centro de recuperação está sendo criado com objetivo de reintegrar profissionalmente e socialmente os internos. Salienta ainda que isto será feito mediante atividades produtivas e cursos profissionalizantes.
Luiz Henrique lembra que depois de se conseguir uma sede própria, o projeto não deixará de atender a nenhuma família carente com problemas de dependência química.
Na edição de amanhã, o que dizem as autoridades policiais sobre o consumo de drogas em Montes Claros.