Entre greves e congestionamentos, população não sabe mais a quem recorrer

Jornal O Norte
Publicado em 11/05/2010 às 10:09.Atualizado em 15/11/2021 às 06:28.

Anny Muriel


Repórter



Greve dos anestesistas, greve dos servidores do hospital universitário, superlotação nos outros hospitais, falta de atendimento adequado na rede básica de saúde. O caos se instalou na saúde no município e a população montes-clarense já não sabe mais a quem recorrer.



No hospital Alpheu de Quadros, grande parte da aglomeração se deve ao fato de que muitas pessoas não procuram ou, se procuram, não encontram atendimento na unidade básica de saúde do seu bairro.



- Muitas vezes, chegam pacientes se queixando dor de cabeça ou febre e ficam aguardando por atendimento. Enquanto isso, outro paciente está em estado grave sob observação de um enfermeiro, o que inevitavelmente causa demora no atendimento. Por isso, é aconselhável que o paciente procure primeiro o posto de saúde mais próximo – diz o diretor.



A estudante Juliana Rodrigues, 23 anos, moradora do Bairro Independência, disse à equipe de reportagem que há três dias apresenta todos os sintomas da dengue, febre, dor nos olhos, nas articulações e manchas vermelhas pelo corpo, além de se sentir totalmente indisposta.



- É horrível e impressionante como esta doença derruba a gente. No primeiro dia, pensei que estivesse prestes a morrer mesmo. É uma moleza que só quem já teve dengue sabe do que estou falando. Mas, mesmo no estado em que me encontro, nem quis procurar hospital, porque toda hora a gente vê passar na televisão e lê nos próprios jornais impressos que as unidades estão todas lotadas por causa da greve do HU. E, pelos sintomas, acredito que seja dengue mesmo. Daí, minha mãe comprou tylenol, que eu sei que seria o que os médicos me receitariam, e estou tomando, espero me recuperar logo - disse a estudante.



O diretor do hospital Alpheu de Quadros, referência para coleta de material de exames para o diagnóstico da dengue, faz um alerta sobre a automedicação.



- O ideal é, nos primeiros sintomas, procurar o posto de saúde mais próximo, para que realmente seja diagnosticado o tipo de dengue - afirma.



Neste último domingo, a estudante de Educação Física Nayane Lima de Castro, natural de Carinhanha/BA, faleceu, vítima de dengue hemorrágica, no hospital Aroldo Tourinho, de Montes Claros.



No hospital universitário, não há previsão de retorno das atividades normais. Segundo a direção do hospital, dos 171 leitos, apenas 43% estão ocupados; as cirurgias eletivas foram suspensas; o pronto-socorro atende somente 17% de sua capacidade diária. A média do universitário é de 180 atendimentos por dia em seu pronto-socorro. Com a greve, o número caiu para 30; às vezes até menos.  



Os programas de residência médica podem parar a qualquer momento e de 8 a 10 mil exames laboratoriais para o público externo deixaram de ser realizados. A falta das cirurgias eletivas comprometeu as atividades dos residentes, principalmente nas áreas de otorrinolaringologia, ginecologia e anestesiologia.



A maioria dos grevistas é formada por técnicos-administrativos, técnicos em radiologia e auxiliares de enfermagem, que cumprem a escala mínima de trabalho em torno de 30%. O comprometimento poderia ser ainda maior caso a paralisação atingisse as consultas especializadas no centro ambulatorial de especialidades Tancredo Neves. Como esse tipo de serviço depende mais diretamente dos médicos, até a semana passada nada havia sido cancelado.



A média do HU é de 300 cirurgias eletivas por mês, que são classificadas dessa forma por respeitarem uma programação. Caso não sejam feitas dentro do prazo estabelecido pelo médico, pode agravar o quadro do paciente transformando o caso em uma urgência.



A direção do hospital universitário Clemente de Faria informou por meio de nota oficial que a greve já traz prejuízos e comprometimentos incalculáveis para o usuário do serviço daquela unidade, uma vez que é o único que atende exclusivamente pelo SUS em Montes Claros e Norte de Minas. O pronto-socorro está funcionando com sua capacidade mínima, atendendo somente casos graves, com risco de morte, e referências como acidentes com animais peçonhentos, mordedura de cães, gatos etc.

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