Cidade

Em MOC, filha corre contra o tempo para salvar a mãe

“Que sistema é esse que não cuida dos seus doentes?”, questiona filha da dona de casa que aguarda cirurgia de urgência

Márcia Vieira
Publicado em 01/03/2023 às 23:24.

Filha de Maria mostra documentos que comprovam a necessidade da cirurgia (ARQUIVO PESSOAL)

Filha de Maria mostra documentos que comprovam a necessidade da cirurgia (ARQUIVO PESSOAL)

 A saúde da dona de casa de Montes Claros Maria Aparecida Alves começou a se deteriorar há dois anos e meio. Na ocasião, ela procurou o posto de saúde Santo Antônio, no bairro de mesmo nome, em busca de alívio para as dores na bexiga, e foi informada de que deveria passar por uma cirurgia de períneo, um procedimento inicialmente simples para uma situação que acomete muitas mulheres e pode ser provocada por múltiplos fatores, como partos vaginais difíceis, idade, histórico familiar de prolapso genital, exercício físico intenso e crônico, histerectomia prévia, obesidade e asma, entre outros. 

A dona de casa entrou na fila para a cirurgia, com mais de 700 pessoas à frente. A longa espera agravou a situação – a locomoção ficou difícil e coube a filha, Kelly Alves, iniciar a maratona entre hospitais, consultórios e Secretaria de Saúde. 

Do posto de saúde saiu com o encaminhamento para marcar a cirurgia que deveria ser de urgência, mas, um ano depois, a solução ainda não veio. 

“O útero ficou exposto e não deu para esperar mais. O reto também já está exposto. A enfermeira viu que o problema era grave e com o encaminhamento eu deveria procurar um hospital. Ela fez um relatório para a Secretaria de Saúde expondo a situação. Fui ao hospital e me mandaram voltar a Secretaria de Saúde com os papéis para pegar a autorização. Tudo depende da secretaria. Nessa altura, minha mãe já estava com sangramento e não conseguia nem urinar”, explicou Kelly.   
 
NOVO RUMO
Preocupada, a filha pagou uma consulta particular e recebeu do médico a indicação de que a mãe deveria retirar o útero. Pagou também os exames de risco cirúrgico e foi novamente até a secretaria municipal. Com a indicação de urgência, o caso foi reclassificado e ela novamente entrou na fila, desta vez com cerca de 200 pessoas à frente. 

Na última semana, Kelly foi até o hospital Santa Casa e saiu de lá com novo encaminhamento, mas na secretaria teve novamente negada a urgência. 

“Quando mostrei as imagens fortes e falei que iria divulgar, eles se apressaram e me deram um encaminhamento para ir ao hospital fazer consulta com médico e anestesista na mesma hora. No papel constava uma indicação de abdômen de parede, que nada tem a ver com o problema dela. Achei estranho, mas fomos. Quando o médico nos atendeu, constatou o erro do encaminhamento. Em 15 dias, a Secretaria de Saúde mandou dez pessoas com os papéis errados ao hospital. No momento em que eu estava lá, havia outra pessoa na mesma situação”, explica Kelly que mais uma vez procurou a secretaria, onde uma outra atendente corrigiu o erro e marcou uma nova consulta para o dia 14 de março. 

Entre idas e vindas, desempregada e com um irmão acamado, gastou o que não tinha e lamenta pelo sofrimento da mãe.

“Ver a minha mãe sem condições de se mexer, com tanta dor, e saber que era simples de resolver, sem precisar chegar a esse ponto. Somos diaristas, a minha mãe não pode trabalhar por causa do problema e eu também não estou trabalhando porque preciso cuidar da situação dela. Não sei se os exames poderão ser aproveitados, porque tem validade. De novo, vamos enfrentar uma consulta, mas cirurgia mesmo não temos sequer uma previsão. Que sistema é esse que não cuida dos seus doentes?”, questiona.

A reportagem procurou a Secretaria de Saúde de Montes Claros para saber sobre a situação, entretanto, até o fechamento desta edição não houve retorno.

Compartilhar
Logotipo O NorteLogotipo O Norte
E-MAIL:jornalismo@onorte.net
ENDEREÇO:Rua Justino CâmaraCentro - Montes Claros - MGCEP: 39400-010
O Norte© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por