
Depois de portas fechadas durante o feriado prolongado da última quinta-feira (20), a Unidade de Saúde do bairro Jardim Primavera, em Montes Claros, retomou o atendimento com déficit de profissionais e reclamações da população que buscou atendimento nesta última segunda-feira (24). Usuários recorreram às redes sociais para manifestar a insatisfação e solicitar providências do município.
Dois dos três médicos vinculados à unidade não compareceram para trabalhar. G. N. reclamou que a esposa chegou ao local com forte dor de cabeça, tendo sido ignorada. “Minha mulher, chorando com fortes dores de cabeça e pressão baixa, não teve prioridade. A pessoa que a atendeu falou, sem fazer exames, que era só uma dor de cabeça e que pressão baixa era bom, pois não seria hipertensão. Minha esposa achou que estavam debochando dela. Achei o comentário inconveniente”, disse, reiterando que, na hora de entregar as senhas, é preciso mais sensibilidade e um bom tratamento a todos.
A assistente de tecnologia Cristiane Dias, moradora do bairro, diz que prefere não depender do “postinho”, pois o tratamento da sua enfermidade é descontinuado em razão da demora. “Tenho usado apenas para pegar remédio e, na semana passada, na farmácia, me deram o remédio errado. No dia seguinte, quando abri a bolsa para pegar o remédio, percebi que era outro, bem diferente. Se fosse uma pessoa mais idosa e tivesse ingerido, poderia ter acontecido algo pior”, afirma.
Procurada, a prefeitura informou, por nota, que a Unidade de Saúde da Família (USF) Jardim Primavera conta com três equipes da Estratégia Saúde da Família (eSF): eSF Primavera II, eSF Turquesa e eSF Flor de Lótus. Atualmente, a unidade dispõe de três médicos, cada um responsável por uma dessas equipes. “Após verificação dos fatos relativos à alegada ausência de assistência médica, a gerente da unidade esclarece que, no momento, apenas a médica responsável pela equipe eSF Jardim Primavera II encontra-se em período de férias, com retorno previsto para esta terça-feira, 25. Informa ainda que o médico da equipe eSF Flor de Lótus esteve afastado por motivos de saúde na data de hoje (24). No entanto, a médica da equipe eSF Turquesa atendeu normalmente a população de sua equipe, bem como os pacientes acolhidos e classificados das demais equipes. A gerente reforça que nenhum paciente está ficando desassistido. Todas as demandas das equipes, incluindo cuidados continuados, estão sendo plenamente atendidas pelos demais médicos da unidade, em conjunto com os profissionais de enfermagem”.
DESCUMPRIMENTO
As reclamações em relação à falta de acesso à saúde e descumprimento das regras do SUS acontecem reiteradamente em diversas partes da cidade. No último dia 17 de novembro, foi a nossa vez de constatar ‘in loco’ mais uma falha da administração municipal. Desde o dia 2 de abril de 2025, aguardamos na fila por uma consulta especializada de ginecologista. Após 7 meses e 15 dias de espera, fomos avisadas da consulta na Policlínica Alto São João — Saúde da Mulher, marcada para as 14h do dia 17 de novembro. O documento traz a informação em negrito de que “não será permitido atraso”.
Ao chegar à policlínica em data e horário marcados, fomos surpreendidos com a informação de que havia mais 15 pacientes marcados para o mesmo horário e para uma única médica. A lei 8.080/1990, que regula o Sistema Único de Saúde (SUS), prevê o dimensionamento adequado de pacientes para assegurar a qualidade do atendimento. Questionados sobre a infração, fomos orientados a esperar, se pretendêssemos a consulta e exames no prazo máximo de 60 dias, direito preconizado pelo programa Saúde da Mulher, que garante assistência integral e acompanhamento de mulheres no climatério. A profissional responsável pelo atendimento chegou depois do horário marcado e, até às 16h30, não havia atendido nem metade das pessoas marcadas.
A única alternativa seria esperar. Afetada pelas dores da fibromialgia e sem almoçar, no esforço para chegar ao local na hora marcada, não conseguimos permanecer na unidade. Solicitamos o protocolo da situação na unidade de saúde e fomos informados de que não havia autorização para emitir um documento dando conta do ocorrido. Fizemos então uma ligação para a ouvidoria, solicitando a remarcação da consulta sem passar pela fila de espera, já que o município falhou na prestação do serviço. Fomos orientados a aguardar um retorno da ouvidoria no prazo de até 30 dias. Até a última terça-feira (25), ainda não houve manifestação por parte dos responsáveis.
