De mão dadas com o crack: Drogas destroem casamentos e sonhos de famílias em Montes Claros

Jornal O Norte
Publicado em 13/12/2010 às 17:21.Atualizado em 15/11/2021 às 06:46.

Samuel Nunes


Repórter



O uso de qualquer droga, muitas vezes, também pode ser a fuga de uma realidade difícil de lidar, como, por exemplo, brigas, desentendimentos e desunião no seio familiar. Na série de reportagens sobre o vício do crack, você vai conhecer a rotina de alguns usuários da droga que tem feito cada vez mais vítimas em todo o país.



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Mãos de uma dependente química demonstram como


a droga destrói o corpo humano



J.P.S, 25 anos, solteiro, membro de família humilde, diz que não estuda e que entrou para o mundo das drogas depois de um desentendimento familiar. Segundo ele, há sete meses, praticamente todos os dias, faz uso do crack. Revela que muitos podem ser os motivos que levam um jovem para o mundo das drogas, como, por exemplo, a procura de um prazer que para o jovem representa o êxtase, a euforia.



Com detalhes, J.P. conta que na hora de fumar o crack é necessário o auxílio de algum objeto, como um cachimbo. Ele explica que muitos desses objetos são feitos artesanalmente, a partir de latas, pequenas garrafas plásticas e canudos ou canetas.



J. P.S lembra que os pulmões conseguem absorver quase 100% do crack inalado.



- O uso de qualquer droga pode ser também muitas vezes a fuga de uma realidade difícil de lidar conscientemente, conta.



Segundo ele, o relacionamento entre os usuários de drogas é tido como algo que não se encontra em determinadas famílias.



- Muitos entram para a droga por influência de um amigo. Se tem briga na família, por exemplo, o usuário procura encontrar abrigo na roda de ‘amigos’ e no uso da cocaína, maconha e crack , observa.



DEPENDÊNCIA



Aos 35 anos, mãe de três filhos, Amanda se divorciou recentemente do esposo em virtude do vício nas drogas e perdeu por completo o contato com os filhos.



Amanda é o nome fictício da dependente química que mora em uma casa confortável no bairro Cristo Rei. Ela diz que vende tudo que tem para alimentar o vício. Vendeu recentemente uma cama no valor de R$ 500,00, que no mercado custa cerca de R$ 3.000, tudo para satisfazer e manter o uso de crack. Ela diz que toda vez que usa esta droga se sente um nada.



- Acho que tem alguma coisa no meu corpo que faz com que eu use drogas. Perdi amigos, família, dignidade e, devido ao uso permanente do crack, estou constantemente com depressão, ansiedade, irritada com tudo e com todos, agitada e com sentimento de raiva por qualquer coisa - afirma. 



A dependente química afirma que por usar diariamente drogas seu corpo está definhando, os dedos das mãos calejados pelo uso diário do crack e tendo emagrecido mais de 10 quilos.



CASAMENTO



A reportagem conheceu também a história da dona de casa M. S. M, 45 anos, moradora no grande Renascença. Grávida de oito meses, ela afirma que o esposo é viciado em cocaína e crack e que chega a ficar até cinco dias longe de casa, sem dar qualquer notícia à família.



- O desaparecimento dele geralmente acontece quando recebe pagamento. Ele chega a gastar os R$ 750,00 que recebe para comprar drogas. Devido a toda esta situação triste que estou vivendo, cheguei a pensar em assim que ganhar o bebê deixar ele no hospital, pois não aguento mais esta vida, ele não merece viver em um lar destruído pelas drogas , desabafa.



Ela afirma ser comum o esposo vender alguns pertences da família para manter o vício, como DVD, tênis, bicicletas, roupas e até mesmo as alianças de casamento.



Salienta que seu casamento está destruído pelas drogas, entretanto, ela diz ter esperança de que a situação se reverta com o marido entrando para um centro de recuperação.



Ela diz clamar por socorro. Pelo fato do esposo ser um viciado em drogas, ela toma remédios controlados e ainda tem que cuidar de um filho de nove anos de idade que não tem, pela situação atualmente vivenciada, nenhuma referência paterna.



- É importante que o município crie uma clínica municipal para atendimento a usuários de drogas. Minha família não tem condições de pagar, o tratamento em uma clínica particular, sendo assim não temos a quem recorrer,  diz.



RELIGIÃO



Idealizador e fundador do projeto social Resgatando Vidas, entidade sem fins lucrativos de assistência social que presta orientação a dependentes químicos, Varlon Rosilan de Medeiros Santos fala da necessidade de investir no amparo a dependentes químicos e principalmente na união entre uma família por meio da religião.



Aos 33 anos, casado e pais de três filhas, Varlon revela que durante 14 anos usou maconha, cocaína e crack.



- Comecei a usar drogas aos 13 anos, aos 18 anos usei maconha, isto até os 22 anos, quase que diariamente, com intervalos de dois dias aproximadamente. De 23 para 24 anos, conheci o crack, que acabara de chegar a Montes Claros. O crack é uma droga que causa alucinação, traz ansiedade e euforia e gera medo e é sobremaneira prejudicial. Durante um ano usei a droga - afirma.



Segundo ele, sua saída do mundo das drogas só foi possível mediante o contato com a religião.



- Só fui liberto das drogas devido à ajuda espiritual. Com droga, sem caráter e sem dignidade; sem a droga, sou um ser humano completo – comemora.



Na próxima edição, a série de reportagens mostra exemplos de ex-dependentes químicos que estão, gradualmente, sendo devolvidos à sociedade. E ainda, o trabalho realizado pelas clínicas de reabilitação.

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