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Quarta-Feira,27 de Agosto

Das bonecas à maternidade

Brasil lidera taxa de gravidez na adolescência na América Latina, com 400 mil casos/ano

Carlos Castro Jr.
Publicado em 01/02/2019 às 07:07.Atualizado em 05/09/2021 às 16:20.

No Brasil é grande o número de meninas que saem do mundo de brincadeiras com bonecas, na infância, direto para a realidade de gerar e criar um filho na adolescência. É o que mostram os números da Sociedade Brasileira de Pediatria.

Segundo a entidade, a taxa de gravidez na adolescência no Brasil é a mais alta da América Latina, com 400 mil casos por ano. Pelo menos 18% dos nascidos brasileiros são filhos de mães adolescentes.

Dados do Ministério da Saúde indicam que no Hospital Santa Casa de Montes Claros, em 2018, de 3.546 partos, 240 (6,76%) eram de menores de 18 anos. Em 2017, os números eram superiores, com 328 mães menores em 4.180 partos (7,84% do total).

Em razão desta realidade, em que milhares de meninas costumam interromper os estudos por causa da maternidade e ainda colocam a saúde delas e do feto em risco, devido à gestão com o corpo em formação, foi criada a Semana Nacional de Prevenção da Gravidez na Adolescência, que começa hoje e vai até a próxima sexta-feira. A Lei nº 13.798, que institui a campanha, foi sancionada no início deste ano pelo presidente Jair Bolsonaro.

Segundo a lei, nesta semana, atividades de cunho preventivo e educativo deverão ser desenvolvidas conjuntamente pelo poder público e por organizações da sociedade civil.

Médica obstetra do Hospital das Clínicas Doutor Mário Ribeiro, Lorenna Brito alerta que a gravidez na adolescência configura gestação de alto risco para mãe e feto por diversos motivos.

“As adolescentes podem não ser maduras psicologicamente, financeiramente e muitas vezes não contam com o apoio familiar na gravidez. Além disso, elas têm maior risco de pré-eclâmpsia, trabalho de parto prematuro e outras questões obstétricas”.

Lorena disse ainda que, em sua maioria, trata-se de um público vulnerável a riscos, principalmente em decorrência dos fatores sociais e da assistência pré-natal muitas vezes inadequada – fatores que comprometem a evolução da gestação, parto e do puerpério.

A médica alerta para a necessidade de acompanhamento médico antes da opção pelos métodos contraceptivos. “Adolescentes com vida sexual ativa e puérperas devem ser encaminhadas à consulta ginecológica para realização de planejamento familiar”, disse.

A dona de casa Rosalice Vieira, de 48 anos, é uma das que viveu a experiência da gravidez precoce. Aos 14, ficou grávida do primeiro dos três filhos. “Foi um momento muito difícil, pois não estava preparada para a gestação. Tinha vontade de sair e não podia por conta da gravidez e depois por ter que cuidar do bebê. Acabei não estudando, o que me faz hoje muita falta. A adolescência é uma fase que não volta”, disse a dona de casa, que lembra que só conseguiu criar o filho porque teve ajuda da família e do marido.

Educação comprometida
Um dos principais impactos causados pela gestação na adolescência é na formação educacional das mães. Muitas deixam escola durante a gravidez e não voltam posteriormente.

De acordo com a socióloga, historiadora e pedagoga Carla Patrícia Melo, os problemas enfrentados estão por todas as partes e envolvem a jovem mãe, o filho, a família e a perspectiva de futuro.

“É um fator que tem que ser discutido. As meninas têm a concepção e dificilmente voltam à escola, seja por vergonha, preconceito. Outro fator é a necessidade de trabalhar para suprir as necessidades. São efeitos em cadeia que afetam todo o eixo familiar”, afirma a pedagoga.

Carla Patrícia disse que é importante ressaltar que a criança está chegando em um lar que não foi estruturado para recebê-la e isso afeta diretamente a sua formação.

“A gestação exige que os pais e mães estejam preparados para educar. Esse adolescente que, sem preparação, gera uma criança não dará valores e princípios adequados. Muitas vezes, ele coloca essa criança sob responsabilidade dos avós, gerando uma sobrecarga. Os avós então passam a ter agora a obrigação de cuidar também dos netos”.

Carla comentou ainda que não falta informação, mas falta formação para os jovens de hoje.

“O jovem tem informação. Se fizer um levantamento, quase todos têm um celular, mas não têm formação. Sabe para que serve a funcionalidade, mas não sabe aplicar. É uma sociedade muito bem informada, mas que agora se vê com a necessidade de buscar seus valores e seus princípios”, finaliza.

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