
Montes Claros vive um cenário preocupante quando se trata de violência contra idoso, tema da campanha Junho Violeta. Dados do Conselho Municipald do idoso indicam que entre janeiro e junho de 2025, foram registradas 362 denúncias de maus-tratos a idosos: 251 delas encaminhadas pelo Disque 100 da Polícia Civil e outras 111 recebidas diretamente pelo Conselho Municipal do Idoso.
“A campanha Junho Violeta tem dado mais visibilidade ao tema, e isso é positivo. As pessoas estão conhecendo os diferentes tipos de violência, não apenas a física, mas também a psicológica, patrimonial e sexual”, afirma Newton Juneo Pereira, diretor de Programas Sociais da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social de Montes Claros.
Comportamento
Segundo o último Censo, o Brasil possui mais de 32 milhões de pessoas idosas, sendo aproximadamente 17 milhões mulheres.
O médico geriatra Thomaz Colares também acompanha o avanço desses casos e destaca a importância de observar sinais comportamentais, como isolamento, medo e apatia. “Esses sinais podem indicar sofrimento ou maus-tratos no ambiente de cuidado”, explica. Ele alerta que, embora seja comum que idosos apresentem hematomas por fragilidade da pele, é preciso atenção quando surgem com frequência e sem explicação.
Outro ponto delicado é o uso indevido de sedativos, especialmente em pacientes com doenças neurodegenerativas. “Há cuidadores que usam esses medicamentos para manter o idoso sedado o dia todo, dificultando a alimentação e aumentando o risco de quedas. É uma prática perigosa e silenciosa”, afirma o médico.
Thomaz também chama atenção para a síndrome do cuidador sobrecarregado. “Quando um único familiar assume todos os cuidados, sem apoio ou preparo, pode haver esgotamento emocional e até agressões involuntárias. É fundamental capacitar e orientar essas pessoas”, ressalta.
Em Montes Claros, o médico observa aumento principalmente nos casos de negligência afetiva. “Há muitos relatos de abandono emocional. A pessoa oferece comida, remédio, mas não oferece o principal: carinho, atenção, escuta. Isso é subestimado, mas tem impactos profundos na saúde mental do idoso”, alerta.
Como medidas de enfrentamento, Thomaz defende a valorização do envelhecimento ativo. “O idoso precisa ser respeitado e se sentir útil. Participar de grupos comunitários, fazer atividades, manter vínculos, tudo isso fortalece a autoestima e o bem-estar”, diz. Ele também reforça a necessidade de capacitação dos profissionais da rede pública.
Denúncias
]Entre os serviços disponíveis estão o Disque 100, o aplicativo Direitos Humanos Brasil, os centros Centro de Referência de Assistência Social do Brasil (CRAS) e Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS), os conselhos municipais e o Centro de Referência em Atenção à Saúde do Idoso, vinculado ao Hospital Universitário. “Toda denúncia deve ser levada a sério. Todos podem denunciar. Qualquer profissional de saúde está apto a acolher, encaminhar e garantir a proteção da pessoa idosa. Cuidar dos nossos idosos é responsabilidade de todos”, conclui o geriatra.
Minas Gerais
Em Minas Gerais, a violência contra idosos aumentou 73% nos últimos cinco anos. Só entre janeiro e abril de 2025, foram registrados 7.651 crimes contra pessoas com mais de 60 anos, média de 64 por dia. Os crimes mais comuns são estelionato (35%), furto (33%) e ameaça (8%), geralmente cometidos por pessoas próximas às vítimas.