Igualdade racial e cultural

Conferência em Montes Claros discute reparação e políticas raciais

Larissa Durães
larissa.duraes@funorte.edu.br
Publicado em 29/05/2025 às 19:00.
Tita Maxakali, liderança indígena, destaca que reconhecer os povos originários é essencial para criar políticas inclusivas e reparadoras (Larissa Durães)
Tita Maxakali, liderança indígena, destaca que reconhecer os povos originários é essencial para criar políticas inclusivas e reparadoras (Larissa Durães)

A Conferência Municipal da Igualdade Racial, que propõe um espaço de diálogo e construção coletiva sobre os desafios enfrentados pelas populações racializadas no Brasil, foi realizada em Montes Claros, no dia 29 de maio, no auditório do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde (CCBS) da Unimontes. A iniciativa buscou fomentar debates que interseccionem diferentes identidades e corpos historicamente marginalizados, visando promover a equidade nas políticas públicas e nos espaços institucionais.

“A conferência é considerada um passo fundamental na luta por reparação histórica e por representatividade nos espaços de decisão”, explicou a coordenadora do evento, Letícia Imperatriz. Para ela, a participação da sociedade é essencial para garantir que os direitos da população negra e de outros grupos racializados sejam efetivamente reconhecidos e protegidos.

“A conferência é uma oportunidade de retomada de espaços que historicamente nos foram negados. É um momento de afirmação e de busca por soluções concretas para as desigualdades que ainda marcam a vivência das nossas identidades nos ambientes públicos e institucionais”, afirmou.

O presidente da Associação Centro de Referência dos Cultos Afro-Brasileiros do Norte de Minas Gerais, Renato Antônio Amaral Oliveira, também conhecido como Tateto Italendé na religião de matriz africana, destacou a importância das conferências municipais como instrumentos fundamentais para a construção de políticas públicas de igualdade racial. Segundo ele, esses encontros representam uma rara oportunidade de escuta e protagonismo para comunidades frequentemente invisibilizadas. “Vejo extrema necessidade porque é um momento em que o povo preto, independentemente de ser ou não de religião de matriz africana, tem vez, voz e participação nessa construção”, afirmou.

Ao refletir sobre a presença da cultura africana no cotidiano brasileiro, ele criticou o apagamento das origens e a ausência de reconhecimento das contribuições dos povos africanos. “Justamente quando se trata de reparação, que nunca acontece, não se dá o crédito aos autores. A cultura africana está na linguagem, na comida, nas vestimentas. Abrasileiram tudo que vem de lá, e isso continua o ciclo da escravidão”, declarou.

Sobre os desafios para garantir a equidade racial nas estruturas públicas e privadas. Tateto apontou o acesso às políticas públicas como a principal barreira. “A gente sabe que existem políticas, mas a dificuldade para acessá-las deixa nosso povo nesse estágio de carência. As dificuldades são muitas, e tudo isso impede que os direitos cheguem a quem realmente precisa.”

A liderança indígena Tita Maxakali, do povo Canoeiros Maxakali, também participou do encontro e reforçou a importância do reconhecimento territorial e cultural dos povos originários. “Vou citar a minha terra, Coronel Murta, um território totalmente indígena onde não vive apenas o povo Canoeiros Maxakali, mas também o povo Aranã índio, o povo Aranã caboclo e o povo Pankararu. Houve invasão, houve apropriação do nosso território, que acabou sendo transformado em cidade. Infelizmente, até hoje, o município não reconhece que aquele é um território indígena”, afirmou.

Ela relatou ter proposto às autoridades da cidade a transformação de uma escola rural, localizada onde funcionava o antigo Aldeamento Lorena de Tocaioas, em uma escola de referência indígena. “Só estudam indígenas lá e só trabalham indígenas naquele território. Poderia ser um centro de referência dos povos indígenas, com aulas voltadas às culturas de cada povo. Mas, infelizmente, há resistência”.

O secretário de Desenvolvimento Social de Montes Claros, André Kevin, também participou do evento e pontuou que o primeiro passo para a equidade é o reconhecimento das desigualdades. “Acredito que todas as instituições precisam, primeiro, entender a necessidade de que há um grupo de vulneráveis, infelizmente, pela sua origem, pela cor da pele. Esse entendimento e o diálogo são formas de enfrentamento. E o Estado, por meio de seus agentes públicos, deve ter essa consciência desperta.”

Em resposta à sensação de abandono expressa por representantes da comunidade durante o evento, o secretário reconheceu que ainda há muito a avançar. “Ao sentir desse grupo, a Prefeitura pode avançar um pouco mais. E, no que depender da vontade política, nós estaremos cada vez mais presentes e participativos”, concluiu.

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