Samuel Nunes


Repórter


samuelnunes@onorte.net

No Brasil, o número de cegos foi estimado em 0,4 a 0,5% da população, ou seja, de 4 a 5 mil pessoas por milhão de habitantes. Se já não bastasse a dura realidade, muitos dos direitos de cidadania ainda são negados aos portadores de deficiência visual.

Mesmo cego dos dois olhos, Renilson dos Santos diz que é importante as pessoas não olharem para as dificuldades e, sim, viverem um dia após o outro com alegria no coração


(foto: Wilson Medeiros)

Apesar das dificuldades encontradas por quem é deficiente visual, existem aqueles que se sobressaem e buscam ocupar o seu espaço na sociedade. Um exemplo é Renilsom dos Santos, conhecido como Titã, que tem 36 anos de idade e mora no bairro Major Prates.

Com apenas 3% de visão, entretanto, a cegueira não interrompeu seu desenvolvimento físico normal. Gozando de perfeita saúde, Titã aprendeu a andar e a movimentar-se pelas ruas do centro e de bairros de Montes Claros sem a presença de um guia, ou de qualquer outro tipo de ajuda.

- Já nasci com este problema e tenho enfrentado muitos obstáculos na cidade, como ruas esburacadas e, principalmente, as calçadas que são ocupadas por cavaletes e material de construção, atrapalhando a passagem dos pedestres. A prefeitura tem que tomar providências com relação ao que vem acontecendo - diz Renilsom dos Santos, que conta ainda ser preciso também uma atenção melhor da prefeitura no que se refere ao transporte coletivo urbano e, ainda, uma melhoria nos banheiros públicos do centro da cidade onde quem tem deficiência visual tem dificuldades para usar.   

FALTA DE RESPEITO

Outra observação feita por ele é quanto ao trânsito de Montes Claros, quando ele e outros deficientes visuais enfrentam várias situações adversas em decorrência da falta de educação de alguns motoristas que não respeitam a faixa de pedestres.

- Muitas pessoas agem com preconceito comigo. Uns me criticam e zombam de mim, mas eu não me importo, pois tenho muitas amizades sinceras que fazem com que eu esqueça das coisas ruins.

Renilsom dos Santos afirma que mesmo sem enxergar, não tem dificuldades de sair da sua casa todos os dias, para ir ao ponto de lotação ou para se deslocar ao centro da cidade sem a companhia de nenhuma pessoa.

Com alegria e otimismo quanto ao seu futuro, ele diz que se barbeia, amarra o cadastro do sapato e ainda aprendeu a fabricar produtos de limpeza, do quais ele tira mais de um salário mínimo por mês.

- Apesar de eu ter apenas 3% de visão, Deus me concedeu todos os dias uma folha no grande livro da vida, o que for escrito nela, só depende de mim, por isso eu trabalho todos os dias e procuro sempre plantar coisas boas.

TATO

Indagado sobre como consegue andar sem um guia, Tita Santos como gosta de ser chamado, diz que mora com alguns parentes e que a sua mãe, Maria de Lourdes, reside atualmente em Belo Horizonte. - Aprendi a andar pelas ruas através da sombra dos meus 3% de visão.

Renilsom entende que isto é um dom de Deus, e salienta ainda que muitos motoristas de lotação ajudam-no indicando em qual lugar ele deve descer.

- Isso acaba facilitando o meu dia a dia.

Renilson critica o fato de muitos jovens terem tudo na vida e não darem a isso valor merecido. Na opinião dele, muitas pessoas se entregam ao pessimismo e acabam gerando a depressão que é uma doença comum nos dias de hoje.

- Não compensa ficar em casa sem fazer nada e reclamando da vida e de todos. Temos que ocupar o nosso tempo com alguma coisa e não ficar de braços cruzados diante das dificuldades.

FREGUESIA

Tita afirma que, no que diz respeito aos produtos de limpeza fabricados por ele, muitos lojistas do centro da cidade se tornaram seus fregueses. Perguntado se tem algum sonho, ele diz que o seu é trabalhar em uma rádio comercial da cidade, mas que enquanto este sonho não se concretiza ele vai continuar trabalhando, vendendo produtos de limpeza, e com um programa em uma rádio comunitária do bairro Major Prates.

- A minha paixão pelo rádio está presente em minha vida deste quando eu era criança. Quero agradecer a algumas pessoas que me ajudaram nesta minha caminhada: a dupla sertaneja, Ribeiro e Ribeirinho, Geraldo Silva, Antônio Augusto, William Edvan e Fernando Daimom. Estas são pessoas que me dão todo tipo de apoio que preciso e estão do meu lado para o que der e vier - conclui.