Na contramão?

Ciclistas são deixados à margem em Montes Claros

Larissa Durães
larissa.duraes@funorte.edu.br
Publicado em 03/06/2025 às 19:00.
Ramon Guimarães (de azul), do grupo União dos Ciclistas de Montes Claros, afirma que a infraestrutura cicloviária da cidade está longe do ideal. O Dia Mundial da Bicicleta, celebrado na última terça-feira, destaca a relevância desse transporte limpo, saudável e acessível. (Arquivo pessoal)
Ramon Guimarães (de azul), do grupo União dos Ciclistas de Montes Claros, afirma que a infraestrutura cicloviária da cidade está longe do ideal. O Dia Mundial da Bicicleta, celebrado na última terça-feira, destaca a relevância desse transporte limpo, saudável e acessível. (Arquivo pessoal)

Celebrado na última terça-feira (3), o Dia Mundial da Bicicleta trouxe à tona a discussão sobre a mobilidade urbana e os obstáculos enfrentados por ciclistas nos centros urbanos. Montes Claros, apesar de sua topografia predominantemente plana, que favorece o ciclismo, ainda apresenta uma infraestrutura deficiente para os usuários de bicicletas. A cidade dispõe de 16 quilômetros de ciclovias e ciclofaixas, uma quantidade insuficiente para suportar a demanda crescente por um trânsito mais sustentável e eficiente.

Para o colecionador Cláudio Macedo, morador da cidade e integrante do “Clube das Bikes Antigas” com 72 membros, dedicado ao resgate de bicicletas antigas, a data é mais do que simbólica: é uma oportunidade de promover saúde, memória e solidariedade. “Nosso grupo tem como objetivo principal resgatar bicicletas antigas para preservar a memória da história das bikes. Restauramos essas peças não apenas como itens de coleção, mas também para exibição, uso e doação”, explica.

Segundo Macedo, o grupo atua com base em três pilares: saúde, filantropia e educação. Além de manter viva a história do ciclismo, os colecionadores realizam ações que incentivam o uso da bicicleta como ferramenta de integração social. “A bicicleta é um esporte saudável, que traz alegria, diversão e união entre as pessoas. É muito bacana saber que ela tem um dia só dela, porque valoriza todos que gostam e vivem esse universo”, afirma.

Entre as ações promovidas estão encontros, exposições e doações de bicicletas, especialmente para crianças e jovens em situação de vulnerabilidade social. “A bicicleta tem esse poder de transformar vidas, seja por meio da mobilidade, da atividade física ou como ferramenta educativa”, destaca. Para ele, a valorização da data reforça a importância de iniciativas que vão além do pedal. “Isso alcança a memória, o cuidado com o outro e a construção de uma cidade mais humana.”

Apesar do potencial da cidade, Macedo reconhece que faltam incentivos práticos para quem deseja pedalar com frequência. “É preciso criar ciclovias e uma sinalização adequada ao ciclista”, aponta.

A avaliação é compartilhada por Ramon Guimarães, integrante do grupo União dos Ciclistas de Montes Claros, que reúne entre 350 e 400 participantes por evento. Para ele, a infraestrutura cicloviária atual está longe do ideal. “De 2019 para cá, a cidade tem melhorado em relação às ciclovias e ciclofaixas, mas a política pública para o cicloturismo e a ciclomobilidade ainda está muito atrasada”, afirma.

Ramon ressalta que, embora alguns bairros novos contem com estruturas como ciclorrotas e ciclovias, a rede ainda é fragmentada. “Temos pedaços isolados, sem ligação entre eles. Quando se cria um novo bairro, é necessário conectá-lo à malha já existente. E nem sempre é preciso uma grande obra. Uma ciclorrota, com sinalização e preferência para o ciclista, já seria um avanço importante.”

Outro ponto levantado por ele é o desrespeito à hierarquia no trânsito, que deveria garantir proteção aos mais vulneráveis. “A legislação já prevê que o maior cuide do menor. Mas essa responsabilidade não tem sido cumprida. Isso precisa ser repensado para garantir a segurança dos ciclistas”, defende.

Ramon revelou ter apresentado uma proposta à Prefeitura de Montes Claros, visando expandir a malha de ciclovias para 62 quilômetros, mas, até o momento, o plano não foi implementado. Além disso, ele destaca a importância de integrar novos modais de transporte, como patinetes, bicicletas elétricas e e-bikes, no planejamento urbano contemporâneo. “Temos que rever todo o pensamento de mobilidade. É necessário ter um plano específico para isso”.

Além da infraestrutura física, ele destaca a importância da educação para o uso adequado dos espaços públicos. “Hoje em dia, as pessoas exigem muito seus direitos, mas esquecem suas responsabilidades. É preciso ensinar como usar a ciclovia, qual é o papel de cada cidadão nesse ambiente. Não adianta construir se não houver educação para o uso.”

Mesmo com o relevo favorável, o calor intenso também é um fator que desestimula o uso diário da bicicleta. “As ciclovias são construídas sem pensar no conforto térmico. Retiram-se as árvores, colocam-se faixas de asfalto, e o calor é intenso. Quem pedala para o trabalho chega suado. Isso desanima”, relata. Para ele, a arborização urbana ao longo das ciclovias deve fazer parte do projeto de mobilidade. “Não basta tratar a bicicleta como uma alternativa ‘limpa’. É preciso uma infraestrutura completa e adequada ao nosso clima”.

Compartilhar
Logotipo O NorteLogotipo O Norte
E-MAIL:jornalismo@onorte.net
ENDEREÇO:Rua Justino CâmaraCentro - Montes Claros - MGCEP: 39400-010
O Norte© Copyright 2025Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por