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Terça-Feira,23 de Dezembro

Cemitério fecha pela primeira fez em 71 anos

Jornal O Norte
Publicado em 06/01/2007 às 13:19.Atualizado em 15/11/2021 às 07:54.

Manoel Freitas


Repórter



Um fato inusitado ocorreu no Cemitério do Bonfim, inaugurado em 1935. No Dia de Natal, 25 de dezembro, o portão principal amanheceu lacrado com cadeado, sob a alegação de que, em função do prefeito Athos Avelino ter cortado as horas extras dos funcionários, nenhum encarregado se dispôs a trabalhar sem a remuneração extra naquele dia. O fato não apenas surpreendeu quem foi visitar entes queridos no campo santo, como, também, as funerárias, obrigadas a passar com os funerais pela entrada lateral do outro cemitério, o Parque Jardim da Esperança, construído pela iniciativa privada e adquirido pela Prefeitura em 1989.



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Cortejo fúnebre entra pelos fundos do Cemitério do Bonfim: não pagamento de horas  extras impediu abertura do portão principal, constrangendo familiares (Foto:Manoel Freitas)









O maior constrangimento, no entanto, foi passado por familiares e amigos do ex-caseiro Olegário Maciel Azevedo, falecido um dia antes, aos 56 anos, por conseqüência de um infarto. É que, como o enterro seria feito em terreno de familiares, no Cemitério do Bonfim, o cortejo fúnebre teve que passar pelo Parque Jardim da Esperança, aumentando o trajeto é, também, a dor de Maria Salete Lopes, com quem Olegário Maciel vivia há oito anos. “Depois de tanto tempo morando juntos, iríamos nos casar em janeiro” – disse emocionada, lamentando o embaraço provocado pela ausência de um encarregado apto a autorizar a entrada do funeral pela porta central do cemitério.






GAVETAS A R$ 840



Anteontem, a Secretaria de Serviços Urbanos, responsável pela administração dos cemitérios, já havia concluído a construção de 360 gavetas de alvenaria, solução encontrada pela municipalidade para “otimizar os sepultamentos” em função da superlotação do Cemitério do Bonfim. A ampliação está sendo feita numa área de 5.913 onde funcionava o depósito de combustível da Esso.



De acordo com a administração, novas gavetas continuam sendo construídas, uma vez que, mensalmente, são realizadas em média 120 sepultamentos. As gavetas de alvenaria tem apenas 2,20 X 0,80 metros, vendidas a R$ 840,00, valor que pode ser dividido atualmente em até 12 vezes. Só os indigentes são enterrados sem nenhum custo.









ROUBO DE PLACAS



A administração dos dois cemitérios assegura que a presença diuturna de quatros vigilantes, desde junho de 2006, colocou fim ao constante roubo de placas de identificação e imagens em bronze, que eram vendidas pelos marginais em empresas da cidade, notadamente àquelas situadas em bairros periféricos. O furto chegou a tal ponto que no ano passado o gerente dos cemitérios foi afastado depois que foram subtraídas placas de identificação de praticamente quadras inteiras.





Poucas peças foram recuperadas. Na quadra 02, quarteirão 08, foram recuperadas placas de bronze, encontradas pela Polícia Militar, após denúncia, num lote vago no bairro São Judas II. A família, para evitar novos furtos, teve que parafusar as placas e confeccionar o crucifixo que não foi recuperado.



 



AMPLIAÇÃO POLÊMICA



A ampliação da área para atender ao déficit de túmulos, de aproximadamente mil metros, teve início na verdade desde o ano passado, antes da liberação do Laudo de Impacto Ambiental por parte da Fundação Estadual do Meio Ambiente. É que foi constatado vazamento na área onde a Esso armazenou seus combustíveis por 56 anos, que podem ter provocado doenças graves em moradores do bairro São Judas, de grande densidade populacional, que cultua o hábito de consumir água de cisternas. Tanto é verdade, que o processo de monitoramento e remediação da área (recolhimento de água e solo), prossegue sendo feito pela Fundação Estadual do Meio Ambiente, sob acompanhamento do Ministério Público e análise dos materiais em laboratórios do Brasil e do exterior.





Isso, sem contar que os compostos químicos fósseis trazem sérios prejuízos ao organismo, em especial à flora intestina, como o necro chorume, substância altamente tóxica liberada pelos cadáveres, contamina o lençol freático, sendo letal à vida animal em contato com água. É que, embora o sistema de gavetas tenha sido adotado recentemente, pela Prefeitura de Montes Claros, no ano passado, na área então pertencente a Esso, foi realizada mais de uma centena de sepultamentos em túmulos sem impermeabilização, sem, portanto, recurso para retenção do negro chorume.






CEMITÉRIOS TÊM 130 ZELADORES



Atualmente, de acordo com a Associação dos Zeladores de Túmulos, 130 pessoas cuidam de jazidas, tanto no Cemitério do Bonfim como no Parque Jardim da Esperança. Cobram, para cuidar dos “canteiros”, de R$ 10,00 a R$ 40,00, embora seja de responsabilidade da Secretaria de Serviços Urbanos não apenas a limpeza e manutenção dos cemitérios, como – igualmente – o controle das pessoas que realizam o serviço de modo informal.





Arminda Firmina da Conceição, de 60 anos, disse à reportagem que cuida de poucos túmulos e o que ganha mensalmente é muito pouco, em torno de um salário mínimo “mas o suficiente para sustentar meus sete filhos”. Contudo, admite que outros zeladores, pelo volume de jazidas que tomam conta, chegam a ganhar mais de dois salários mínimos por mês.

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