Anny Muriel
Repórter
A população não suporta mais audiências e discussões sobre o caos da saúde em Montes Claros. Nas unidades básicas, os gerentes sempre estão em reunião, segundo afirmam os funcionários. Os jornais noticiam audiências com os gestores de saúde para sanar o descaso com a saúde da população da quinta maior cidade do Norte de Minas. Este cenário, que tem deixado os montesclarenses atordoados, é preocupante.
A estudante Amanda Silva está há quatro dias com sintomas de dengue, apresentando febre, dores musculares e dor nos olhos, sem condições sequer de frequentar as aulas, como de costume.
- Eu esperei estes quatro dias para ver se melhorava, mas é muito ruim, não dá para suportar as dores no corpo e o mal-estar, porque toda hora faço vômito e isso me deixa até com falta de apetite, e por isso estou com essa fraqueza. É preocupante tantos casos de dengue na cidade, e pior que todo mundo já procura logo o hospital Alpheu de Quadros, porque é onde é feito o diagnóstico para saber se realmente é dengue ou uma simples sinusite, como aconteceu recentemente com uma jovem. Quando chega lá, ainda tem que esperar horas, porque é gente demais da conta para ser atendida - afirma a estudante.
Para piorar a situação, mesmo com os alarmantes números da dengue em Montes Claros, amplamente divulgados pela imprensa, a prefeitura demitiu 40 agentes de combate a endemias. Os moradores afirmam que a falta da visita dos agentes de saúde nas residências contribui para a proliferação do mosquito transmissor.
- Aqui em casa mesmo, este ano não veio nenhum agente para fazer o controle, saber se estava tudo limpinho, se havia algo que facilitasse a procriação dos ovos do mosquito, apesar de que tenho consciência de que grande parte depende é da gente mesmo, não deixando vasos de planta com água limpa acumulada, pneus e garrafas pet com a boca virada para cima. Tudo isso evita esta doença que vem fazendo tantas vítimas aqui na nossa cidade - afirma Milta Pereira, que se diz assustada com o índice da doença em Montes Claros, divulgado pela televisão.
Com a morte de uma provável vítima de dengue hemorrágica, a população está ainda mais assustada.
- Agora, a dengue hemorrágica está vindo com tudo. Antes, a gente só dava notícia da dengue comum, agora vem esta hemorrágica. Segundo o que eu sei, a demora no diagnóstico é que leva às vezes o paciente a morrer, é horrível – diz a dona-de-casa, moradora do Bairro Maracanã.
E os diversos casos de dengue se estendem bairro a fora, como relatou a moradora do Vargem Grande Maria Kátia dos Santos, que falou da dificuldade para conseguir uma ficha no Bairro do Major Prates, que abrange a área de sua residência.
- Eu fui às 5h40 da manhã a fim de conseguir uma declaração para exame de vista para meu filho de doze anos, que também estava com dengue há duas semanas. Só que o gerente simplesmente me informou que quem saberia responder onde eu faria o exame era um enfermeiro. E nisso ficou. Até 7h30 não fui atendida, porque me informaram que as fichas já haviam acabado. O que me deixou intrigada foi a falta de comunicação num posto de saúde onde um usuário chega para ser atendido e nem o próprio gerente sabe dar informações. Fica difícil. Fiquei aguardando por atendimento uma semana. Eu acho um absurdo este descaso que a comunidade enfrenta. Francamente, é muito lamentável passar por isso - afirma.
A dona-de-casa disse ainda que, mesmo que tivesse sido atendida, não resolveria muita coisa, pois as marcações são feitas na sexta-feira, por exemplo, para que o paciente seja atendido somente na segunda-feira, o que, para ela, é muito demorado.
Maria Santos procurou por atendimento no hospital Alpheu de Quadros, onde, depois de aguardar por um tempo, conseguiu somente o diagnóstico de dengue, que foi confirmado no seu filho. Mas, em relação ao exame oftalmológico, disse que o hospital não estava marcando no momento.
Segundo moradores e usuários do Bairro Major Prates, o centro de saúde foi reformado, mas não foram resolvidos problemas como a demora no atendimento, a falta de profissionais e de qualidade nos serviços prestados aos usuários do Bairro Major Prates, que continuam reclamando do atendimento.
Quarta-feira, 12, Valdeir da Silva foi ao posto, como de costume, saber da situação após a reforma da unidade, uma vez que é morador do bairro e diz se interessar pela situação da comunidade. Para ele, o atendimento deixa muito a desejar e a população não é devidamente atendida quanto aos seus direitos em relação à saúde.
- Agora, quem procurar por consulta no posto do Major Prates deve apresentar um cartão do Sus, que é preciso fazer na secretaria municipal de Saúde. E isso gera gastos no bolso do paciente, uma vez que a secretaria fica bem distante do bairro. O ideal seria que a própria unidade disponibilizasse o documento, facilitando assim a vida das pessoas que necessitam dos serviços do posto - disse o morador.
Valdeir disse ainda que as pessoas precisam estar mais alertas, pois não basta apenas ampliar o espaço, pintar e ficar tudo muito arrumadinho, se a população que carece dos serviços não tem atendimento de qualidade.