
Em Montes Claros, a Carteira de Identificação da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista (Ciptea) tem facilitado o acesso a serviços essenciais, com 1.825 documentos emitidos desde 2021 e avanços na inclusão e no atendimento prioritário às pessoas com TEA.
A psicopedagoga Ellen Acácia avalia que, apesar dos benefícios, a Ciptea ainda é pouco divulgada. “A família precisa primeiro obter o documento normal de identidade e, depois, solicitar a carteira de identificação do autista. É um documento que assegura direitos e facilita o acesso a serviços, mas ainda é pouco divulgado”, destaca.
Gracielle Silva Araújo, mãe de Kaylane Araújo Balieiro, de 21 anos, relata que a identificação tem sido fundamental para garantir respeito e atendimento adequado para sua filha. “Antes da Ciptea, enfrentávamos muitas dificuldades, sempre precisávamos justificar a prioridade em filas e ouvíamos comentários como 'ela não parece ser autista'. O autismo não tem um padrão físico, cada autista é único”, afirma.
Desde que Kaylane passou a utilizar a identificação, seja pelo crachá, colar ou pulseira, as dificuldades diminuíram. “No hospital, por exemplo, antes falavam que não havia critérios diferenciados para a prioridade. Agora, com a identificação, o atendimento é imediato”, explica Gracielle. Em locais públicos, como supermercados e parques, também houve mudanças. “Antes, se minha filha entrava em crise, as pessoas olhavam com estranhamento. Hoje, ao verem a identificação, há mais compreensão”.
Apesar dos avanços, Gracielle pontua desafios que ainda precisam ser superados, como na saúde. “A limitação de sessões terapêuticas pelo SUS e a troca frequente de profissionais comprometem o tratamento. A falta de medicamentos também é um problema, alguns são caros e não estão disponíveis na rede pública”, pontua.
Na educação, Gracielle destaca a falta de profissionais especializados. “Não há auxiliares suficientes para atender cada aluno com autismo de forma individualizada. Os profissionais precisam de capacitação prática, não apenas teórica”, acredita.
Para ela, a inclusão ainda precisa avançar. “Com mais informação, respeito e estrutura adequada, podemos garantir que os autistas tenham seus direitos assegurados e uma melhor qualidade de vida. A Carteira de Identificação da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista ajuda, mas não é suficiente, pois precisamos combater o olhar de julgamento. Muitas vezes, em uma crise, ninguém oferece ajuda, somente julga. E as crianças também sofrem com isso, mesmo sem entender”, conclui.
*Com informações da Agência Minas