Rubens Santana
Repórter
A notícia de que a saúde pública em Montes Claros se encontra esfacelada em todos os sentidos ultrapassou as fronteiras interestaduais e chegou ao estado de São Paulo. Solidarizado com as informações do jornal O NORTE, na sua versão on-line, o médico veterinário Andrei Nascimento, especialista em Leishmaniose visceral, o calazar, entrou em contato com a reportagem para esclarecer para a população dois aspectos importantíssimos no combate à proliferação do Flebótomo, mosquito transmissor do calazar: a prevenção e o tratamento.
Embora as autoridades responsáveis pela equipe de combate ao calazar na cidade e a administração do prefeito Luiz Tadeu Leite não admitam, o caso é grave e precisa urgentemente de programas de conscientização da população, a fim de acabar de uma vez por todas com a proliferação do mosquito.
Andrei Nascimento informa que a Leishmaniose é uma zoonose que pode ser transmitida entre os animais pelo mosquito Flebótomo, e nunca por uma mordida de um cachorro que esteja contaminado. E, no Brasil, por uma determinação do ministério da Saúde, não existe tratamento recomendado para cães. Embora o tratamento exista, o MS não o recomenda.
- Os medicamentos usados no tratamento canino são os mesmos usados no tratamento de humanos. Mas o ministério da Saúde proibiu o tratamento dos cães no Brasil e, como forma de combate a doença, eles indicam que os cães sejam eutanasiados - afirma o especialista.
Diz ainda que o ideal é que todos os veterinários trabalhem com a indicação do que prega o ministério da Saúde.
DIFICULDADE DE RECOLHIMENTO DO CÃO CONTAMINADO
Uma das dificuldades encontradas pelos poucos agentes do CCZ – Centro de controle de zoonoses em Montes Claros é que os donos de cães infectados não os entregam para a eutanásia, morte do cão.
- O comprometimento de todos é essencial. Nestes casos, a direção do centro de controle das zoonoses pode pedir uma autorização judicial para recolhimento do animal - afirma.
Andrei completa que, para esses casos, não existe diferença de cor, sexo, raça ou classe social.
- É um fator que envolve a saúde de uma população. É preciso criar programas de conscientização dos moradores. Será que o afeto por um cão contaminado é maior do que a vida de um ser humano? - Questiona o especialista.
Andrei observa que o ministério da Saúde tem a obrigação e trabalha com doação de inseticidas para evitar que o mosquito transmissor se prolifere.
De acordo com o especialista, o programa oficial do MS consiste em três pontos: diagnóstico e tratamento dos humanos, eutanásia dos cães infectados e controle das densidades dos vetores através de inseticidas.
POPULAÇÃO PODE SER A PRINCIPAL ARMA CONTRA O CALAZAR
Ainda de acordo com o especialista, existem pesquisas recentes que mostram a necessidade de uma proteção individual, indiferente do controle vetorial do MS. O proprietário do cão pode e deve proteger seu animal através da base Deltamitrina 4% recomendada pela OMS – Organização mundial de saúde.
- O proprietário de um cão é o principal responsável pela erradicação do calazar. Através desta prevenção pela coleira Escalibor, que é praticamente um repelente, ela mata o inseto - observa o especialista.
O encoleiramento do animal somente funciona em cães sadios. Se o animal já estiver positivo, a única recomendação do MS é a eutanásia.
Ainda para prevenir a proliferação do mosquito transmissor do calazar, uma questão cultural deve ser observada pela população em geral: muitas pessoas da Zona Rural migraram para as grandes cidades e trouxeram com eles várias tradições.
- Existem pessoas que têm o hábito de ter em seus quintais um pomar, galinheiro e até um chiqueiro onde criam porcos. Esses são os lugares onde matérias orgânicas em decomposição são deixadas pelos moradores e lugares onde o Flebótomo deixa seus ovos, que viram larvas e se alimentam desse material em decomposição. Com isso, vira um ciclo vicioso e nunca combateremos a proliferação do mosquito. É preciso uma maior conscientização de toda a população - afirma.
Andrei lembra que não só os proprietários dos cães podem evitar a proliferação do mosquito, mas todos os moradores, não permitindo que lugares como pomares, galinheiros e chiqueiros sejam mantidos nos quintais das residências.
COLEIRA EXCALIBUR VARIA DE R$ 50 A R$ 60 EM MOC
Já que a CCZ em Montes Claros está totalmente sucateada, com falta de funcionários e veículos, a população tem uma arma no combate à proliferação do mosquito transmissor. Além de evitar que áreas com materiais orgânicos em decomposição sejam mantidas nos quintais, Andrei Nascimento lembra que existe a coleira Scalibur de prevenção, que atua em todo o corpo do cão e age como repelente, matando o mosquito. Com valor aproximado de R$ 50, a coleira atua em todo o corpo do animal e dura cerca de seis meses.
- Com menos de R$ 10 por mês, o cão e os moradores ficam livres desse mal que insiste em atormentar a população brasileira – diz o especialista.
Andrei observa que o mosquito transmissor sai em busca de alimentos no final da tarde e início da noite, horário em que a população precisa redobrar a atenção e não sair com os cães para caminhadas.
Preocupado com a situação, o vereador Valcir da Ademoc (PTB), durante reunião ordinária na câmara dos vereadores na manhã de ontem, terça-feira, deu entrada no projeto de lei 33/210, que institui a semana municipal de controle à Leishmaniose, no início do mês de agosto, com eventos e palestras alusivos ao tema, com intuito de erradicar o calazar em Montes Claros.