O número de vítimas de animais peçonhentos cresceu 8% no primeiro semestre deste ano em relação ao mesmo período do ano passado. Mais pessoas foram atendidas no Hospital Universitário Clemente de Faria (HUCF), referência nesse tipo de socorro de janeiro a junho, e com um agravante: o estoque de soro está baixo.
A unidade de saúde alerta para a possibilidade de faltar doses do antiveneno. No estoque já não há o escorpiônico, para tratamento contra picadas de escorpião, ocorrência que mais cresceu neste ano – 7,73% de janeiro a junho (veja dados no infográfico).
De acordo com a unidade, a Superintendência Regional de Saúde (SER) enviou o soro antiaracnídeo, que pode ser usado no tratamento contra o veneno de escorpião.
Em diversas cidades de Minas, os soros antiescorpiônico e antibotrópico (cobras) estão em falta ou com poucas doses disponíveis. O problema se arrasta desde 2015, quando os quatro laboratórios do país responsáveis pela produção iniciaram uma extensa reforma para se adequarem a um conjunto de medidas impostas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), conhecido como Boas Práticas de Fabricação.
Com isso, a produção dos antídotos foi reduzida e já começa a afetar a população. No Estado, a Fundação Ezequiel Dias (Funeb), responsável pela fabricação das doses, está em obras. A previsão é a de que as intervenções sejam encerradas no fim deste ano.
O HU informou que, apesar de o estoque estar baixo, ainda não deixou de atender os pacientes que necessitaram desse tipo de medicamento.
Segundo o último levantamento do Núcleo de Vigilância Epidemiológica em Ambiente Hospitalar (Nuveh), em todo o ano de 2018 foram atendidos 3.217 casos de ataques de animais peçonhentos. Desse total, 2.908 foram de escorpiões. Somente entre janeiro e junho do ano passado foram 1.280 ataques do aracnídeo. No primeiro semestre deste ano, o número passou para 1.379 – alta de 7,73%.
“Continuamos atendendo normalmente a população da nossa área de atuação. Nada mudou”, afirma o médico e coordenador do Pronto-Socorro do HUCF, Guilherme Braga Muniz.
MOBILIZAÇÃO
Preocupados com a situação, gestores municipais de saúde do Norte de Minas aprovaram o encaminhamento de um documento à Comissão Intergestora Bipartite (CIB), solicitando que o Ministério da Saúde (MS) seja acionado para resolver o problema da regularização dos estoques de soros antibotró-pico, antiescorpiônico e antirrábico no Estado.
Em nota, o Ministério da Saúde informou que apesar das reformas, o Instituto Butantan havia concluído a obra. No entanto, o suprimento produzido pela instituição, que fica em São Paulo, não foi suficiente para suprir a produção que não foi efetivada pelos laboratórios da Funed e do Instituto Vital Brasil (IVB), do Rio de Janeiro.
A nota ainda ressalta que, mesmo em obras, as instituições realizaram diversas reprogramações de entrega, não cumprindo o cronograma acordado com o Ministério da Saúde.
Diante dessa situação, a pasta iniciou 2019 apenas com os estoques de soros já existentes. Assim, o Ministério da Saúde ampliou o contrato mantido com o Instituto Butantan, que liberou 3 mil ampolas do soro antirrábico que foram avaliadas e liberadas pelo Instituto Nacional de Controle de Qualidade e Saúde (INCQS/Fiocruz) e já devem ser distribuídas aos estados.
Até julho deste ano, o Ministério da Saúde programou a distribuição de 20,7 mil ampolas aos estados que será realizada de acordo com o cumprimento das entregas pelos fornecedores. A previsão para que a distribuição comece a ser normalizada é a partir de setembro deste ano.
CUIDADOS
Em caso de picada de escorpião, o médico não recomenda fazer manobras caseiras para evitar que o veneno afete a vítima. “Não acreditar que amarrar o local com torniquetes pode evitar que o veneno corra pelo sangue, nem fazer sucção do veneno, destacou o clínico geral.
Segundo o Centro de Controle de Zoonoses (CCZ), os bairros com maior incidência de escorpião em Montes Claros são o Major Prates, Independência e Maracanã.
Morador do bairro Vila Campos, Luís Henrique Batista conta que encontrou, em três dias, dois escorpiões – um dentro do quarto e outro na sala. “Era um filhote e um adulto. Em maio também achei dois. Meu quintal é limpo e todo cimentado, mas no fundo da minha casa tem um lote vago que sempre está sujo”, cita.