Samuel Nunes
Repórter
samuelnunes@onorte.net
- Se você quer paz, esteja pronto para a guerra. Se você quer felicidade esteja pronto para a perda, se quer carinho esteja pronto para o desprezo, se você quer vida eterna, somente em Deus. Se você quer riquezas, esteja pronto para a pobreza, se você quer beleza comece a construir a real beleza que é a beleza interior. Olha, pensando bem se você quer tudo, descubra quem é você realmente e coloque seu potencial para fora, aí sim você vai ser alguém na vida e não deixará a te levar.
- Na sombra da noite muitas vezes enxergamos o balanço das arvores que toca no ritmo do coração. Estes são poemas escritos pelos pacientes do hospital Prontomente, de Montes Claros.
Todos os poemas e poesias escritas por eles contam um pouco da personalidade e da vida de cada um, e também falam sobre a vida deles no hospital.
- De certo modo eles estão mais lúcidos diante da realidade e mais satisfeitos – diz a monitora Kassia Santos Gonçalves que mostra empreendorismo e vontade de ajudar os pacientes. O hospital Prontomente é uma instituição psiquiátrica que abrange todo o Norte de Minas, área do alto Jequitinhonha e Sul de Bahia, num raio de ação que se estende à cerca de 400km.
A psicóloga Jomária Santos Ribeiro fala ao O Norte a importância do uso da Psicologia na recuperação de uma pessoa com problemas mentais. Segundo ela, a psiquiatria atual preocupa-se em buscar não só uma clara compreensão psicopatológica da pessoa em tratamento, mas também procura enfatizar os aspectos humanos e solidários necessários às relações interpessoais.
O principal objetivo do hospital é a recuperação e inserção da pessoa a um convívio social harmônico. Umas das formas encontradas pela diretoria do hospital para conseguir atingir este objetivo foi através do Projeto Terapêutico, que consiste em desenvolver com os pacientes, atividades como artesanato, música, dança, teatro e atividades físicas.
A psicóloga Jomária Santos Ribeiro salienta ainda que o Prontomente desenvolve um tratamento especializado destinado a pacientes com dependência química e psíquica há trinta e um anos e a agora se tornou uma clínica de repouso e tratamento.
- Contamos com uma equipe terapêutica formada por: médicos psiquiatras, médicos clínicos, médicos plantonistas, psicólogos, enfermeiros, nutricionista, assistente social, auxiliares de enfermagem, farmacêutico, monitora de Terapia Ocupacional e professora de Educação Artística - diz Jomária. Ela explica que no caso específico da Terapia Ocupacional o cliente é estimulado a criar através do fazer livre propiciando ao mesmo o reencontro e exercício da sua capacidade de reflexão e crítica, buscando mudanças em seu posicionamento diante do mundo, além de ajudar a conter a ansiedade por estar internado, e se sentir útil com o resultado de seus trabalhos, dentre os quais ela destaca pinturas, desenhos, confecção de tapetes, poesias e dobraduras. Jomária conta ainda que o hospital busca atender bem sua demanda que por sinal tem sido de clientes agudos.
Com as oficinas de arte os pacientes ocupam seu tempo e se preparam para um convívio social harmônico (foto: Wilson Medeiros)
- A reinternação acontece com freqüência além do desejado, mas temos consciência de quão amplas devem ser as mudanças sociais e políticas que nossa população precisa para minimizar o sofrimento físico e mental de nossa região, principalmente na continuidade do tratamento pós-internação - conclui.
ARTE NA RECUPERAÇÃO
A monitora Kassia Santos Gonçalves diz que várias atividades são realizadas no hospital como, por exemplo, festas dos pais e as tradicionais festas juninas. Ela explica que em todas estas comemorações a presença das famílias é extremamente importante na recuperação do paciente.
Kassia revela que recentemente aconteceu no shopping center de Montes Claros uma exposição de tapetes feitos de maneira artesanal pelos pacientes do hospital, que foram vendidos e a renda revertida para a compra de material usado pelos pacientes.
Com entusiasmo ela conta sobre os resultados positivos alcançados através das oficinas.
- Aqui nós realizamos uma terapia individual com os pacientes, por isso a relação de amizade com eles é ótima. Encontramos na arte uma forma de trabalharmos com o intelecto de cada um. Com a arte passamos a conhecer mais de perto cada um dos nossos pacientes. No meu caso tenho prazer de estar aqui todos os dias trabalhando nas oficinas de dança, desenho, artesanato e pinturas – diz, enfatizado que é perceptível a mudança que cada paciente do hospital tem apresentado depois das oficinas.
Segundo ela os pacientes ali internados são pessoas capazes de aprender um oficio e que muitas vezes lhes falta oportunidade para demonstrarem os talentos.
RESULTADOS
Kassia Santos explica que o temperamento dos pacientes está melhor e, sobretudo estão sabendo agora enfrentar uma situação adversa.
- Esse trabalho ajuda os pacientes a desenvolverem a percepção, coordenação e comunicação, contribuindo significativamente para o sucesso do tratamento, além do mais eles aprendem uma profissão que poderá ser útil logo que saírem daqui - diz Kassia Santos. Com a implantação do projeto o tempo de internação e medicamentos diminui em mais de 10%. De acordo com a professora de Educação Artística, Rosinela T. Hipólito Abbiati, inserir a arte como fins terapêuticos auxiliam no aprimoramento gradativo dos pacientes e proporciona um ambiente agradável e familiar.
- Nossa preocupação além do bem-estar de todos é propiciar uma maior socialização - diz Rosinela Abbiati.
O diretor administrativo do Prontomente, Robson Vieira Porto ressalta que este conceito de humanização com os pacientes é um novo modelo de tratamento alternativo onde o paciente se recupera de maneira mais rápida por não ficar com tempo ocioso e estar diariamente desenvolvendo uma atividade que vai ser benéfica no futuro.