Caso ‘Edifício Roma’

Após novo susto, moradores retornam as casas e reclamam de desassistência

Márcia Vieira
marciavieirayellow@yahoo.com.br
Publicado em 30/09/2024 às 19:35.
Maria Coelho pensa em se mudar para outro bairro. Sensação é de medo e insegurança (MÁRCIA VIEIRA)

Maria Coelho pensa em se mudar para outro bairro. Sensação é de medo e insegurança (MÁRCIA VIEIRA)

Depois da ocorrência da última sexta-feira (27) no Edifício Roma, quando moradores deixaram as suas casas em virtude de um estrondo, a Construtora Turano informou que foi um desplacamento de concreto esperado durante obras de reforço, sem risco para a estrutura.

Entretanto, contrariando as afirmações da construtora Turano, o Ministério Público (MP) de Minas Gerais, por meio da 13ª e 7ª Promotorias de Justiça de Montes Claros, emitiu uma nota de esclarecimento. Nela, a entidade afirma que é direito básico do consumidor a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, e, diante da atribuição conferida ao Ministério Público de zelar pela defesa dos direitos dos consumidores, as promotorias apuraram, até o momento, que o ocorrido no Edifício Roma não se trata de “desplacamento de concreto”, “mas sim de ruptura de pilar, evento que não era esperado, tampouco estava em qualquer planejamento informado aos órgãos de fiscalização. O inesperado evento, portanto, exige tempo e cautela para que sejam realizadas medições e leituras atualizadas sobre a estabilidade do prédio, assim como análise — e esperada implementação — pela Construtora e suas contratadas das recomendações que foram e estão sendo feitas pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo (IPT), tais quais reforço do escoramento em certas áreas, haja vista o rompimento do pilar P57”. Ainda conforme o MP, a desinterdição do entorno ocorreu com base em reunião entre as autoridades e obediência às condicionantes estipuladas.
 
‘NINGUÉM TEM MAIS PAZ’
Mas para os moradores do entorno, a situação real está sendo mascarada. Eles cederam imagens das câmeras de segurança no momento da ocorrência e afirmam que até os engenheiros saíram às pressas. Diante disso, temem pela permanência no local e declaram que a construtora não está prestando assistência pela situação provocada com a construção do prédio. 

Maria Coelho diz que não estava em casa no momento em que aconteceu o estrondo. Quando chegou, avistou as filhas já do lado de fora, assustadas. “A questão que fica para a gente é o medo. Não me sinto segura e infelizmente penso em me mudar do local”.

Gerson Batista, vizinho de Maria, conta que estava em casa quando foi surpreendido pelo tremor. “Não foi um evento simples. Foi até mais forte que o anterior . O lustre balançou, as paredes tremeram. Voltei para casa porque não tenho alternativa. Fico esperando cair o prédio ou me viro”, declara.

Saulo Damasceno, que vive perto do edifício Roma, está preocupado com a segurança de seus pais e de sua filha pequena após um incidente que afetou a mãe, Aparecida, levando-a ao hospital. A família teve que se abrigar na casa de parentes, pois a construtora não ofereceu ajuda para um hotel. Saulo ficou em casa e disse que dormiria no carro para não preocupar a família. Imagens da câmera de segurança foram divulgadas.

“Gravamos para que as pessoas não duvidassem do que nós temos passado desde que esse edifício chegou. As pessoas que moram na rua estão aqui há mais de 30 anos. Infelizmente, eles não estão preocupados conosco. O prédio caindo, somos os primeiros a morrer e tem uma escola ali que só tem crianças. Seremos todos afetados com a poeira no caso de uma queda ou soterrados. Não tem solução e estamos sendo tratados com descaso, como se fôssemos lixo. É desumano”, desabafa.

Ele conta ainda que, desde o mês de abril, não houve nenhuma preocupação das autoridades municipais em ir até o local saber se os moradores estão precisando de assistência. “Tem pessoas idosas aqui. Ninguém mais tem paz. Não veio ninguém, não tem um assistente social fazendo levantamento, nada. Fomos abandonados. Nossa situação é a mesma dos moradores do prédio, mas eles foram todos assistidos, enquanto nós não. Só precisamos ter sossego para trabalhar, mas infelizmente é preciso acontecer uma tragédia para depois alguém aparecer com a solução”, diz. 

O corpo de Bombeiros afirmou, que “após análise das autoridades envolvidas e Assinatura de Responsabilidade Técnica (ART) pelo responsável técnico da empresa Turano atestando que não ocorreram movimentações significativas que comprometessem a edificação, por volta das 14h do sábado (28/09), as vias e residências do entorno foram liberadas. As autoridades permanecem atentas e monitorando a situação do edifício Roma”, afirmou a corporação.

Procurado pela reportagem nesta segunda-feira (30), Pablo Martuscelli, advogado da Construtora Turano, respondeu que “tudo transcorreu muito bem. Podemos responder em relação à nossa conduta proativa. Inclusive, um morador já se encontra em processo de ressarcimento e foi atendido por mim há coisa de 15 minutos”, disse o advogado. 

A prefeitura de Montes Claros foi procurada, mas até o momento, não fez nenhuma manifestação a respeito do ocorrido. 

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