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Quarta-Feira,20 de Agosto

Apae realiza primeiro casamento entre excepcionais

Jornal O Norte
Publicado em 20/08/2010 às 10:38.Atualizado em 15/11/2021 às 06:36.

Anny Muriel


Repórter



Com semblante alegre e cheio de expectativas, o casal de alunos da escola Apae - Associação dos pais e amigos dos excepcionais Fábio Pereira da Silva, 29 anos, e Graciele Machado Sampaio 26, vai subir ao altar amanhã.



DIVULGAÇÃO


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Segundo a assistente social Shirley Monteiro Soares, este é o primeiro casal especial a oficializar uma relação matrimonial em Montes Claros. O casamento acontece na Semana Nacional da Pessoa com Deficiência Intelectual e Múltipla, antes chamada de Semana Nacional do Excepcional, comemorada há 42 anos nas 2 mil Apaes do Brasil.



Neste ano, o tema é Autogestão e autodefensores: Conquistando caminhos para ser e conviver. Trata-se de um evento em que a família apaeana se reúne e previamente programa atividades criativas que incluam a sociedade e a comunidade local. A programação tem por objetivo apresentar o potencial artístico, intelectual e atlético dos alunos e também revelar sua capacidade de entrar no mundo do trabalho.



Shirley Monteiro afirma ainda que, além do atendimento educacional, é oferecido aos alunos atendimento odontológico, psiquiátrico, de assistência social, fisioterápico, fonoaudiológico, psicológico e terapêutico ocupacional.



- Todo o trabalho desenvolvido pelo serviço social é de inserção, promoção dos alunos e familiares, e visa desenvolver a autoestima, estimular a criatividade, trabalhar oficinas com os pais, promovendo dessa maneira a maior integração entre os mesmos, além de ações educativas junto aos familiares, propiciando novas atitudes a preparação dos alunos para inserção no mercado de trabalho - afirma a educadora assistencial.



Os noivos já usam aliança de compromisso na mão direita. Segundo a noiva, o pedido de casamento foi iniciativa do Fábio. E ele confirma:



- Eu que comprei a aliança, porque eu trabalho na minha escola, comprei com meu dinheiro. Agora a gente vai usar aliança de casados – diz, entusiasmado, o noivo.



Segundo Graciele, o casamento será totalmente tradicional, com direito a vestido branco com calda, véu e grinalda,



Fábio e Graciele estão juntos há nove anos e afirmam estar muito felizes com a chegada do casório. Por enquanto, não pensam em ter filhos, mas, com o tempo, contam que vão querer ter apenas um.



Para a mãe da noiva, Maria Ivonete Machado Sampaio, a ideia da união dos dois é algo normal.



- A gente sempre pensa que somente a gente é que é normal, mas o amor dos dois é lindo demais. Um cuida do outro, não se desgrudam. E, depois, ela é minha única filha, então eu estou muito feliz por isso - afirma a mãe.



Já o pai de Graciele confessa que no início não apoiou e nem aceitou a ideia do casamento.



- Não aceitei por saber da realidade dos dois, e pensei que talvez não conseguiriam manter um casamento, pois a mentalidade é praticamente de dois adolescentes. Cheguei até a conversar com a assistente social da Apae, porque não me conformava, mas hoje estou muito feliz pela união dos dois. O amor deles é realmente puro e verdadeiro. E eles vão conviver na mesma casa que a gente, isso nos deixa mais seguros - afirma Francisco Sales Cardoso Sampaio.



Shirley Monteiro explica que o portador de síndrome de Down já nasce com a deficiência, pois se trata de uma doença congênita. É uma condição genética na qual existe um material cromossômico excedente ligado ao par de número 21, por isso chamado de trissomia do 21.



- As pessoas com a síndrome de Down apresentam, em consequência, retardo mental, de leve a moderado, e alguns problemas clínicos associados - explica a profissional.



Ela diz que ainda há, em grande parte da sociedade, o preconceito contra os excepcionais, embora existam as leis que garantem e amparam os seus direitos, como igualdade de condições para acesso e permanência de pessoas com deficiência no mercado de trabalho e escola, por exemplo.



- Infelizmente, o preconceito é cruel, é excludente e maltrata. Vale dizer que, uma vez disponibilizados os meios e instrumentos necessários para as pessoas com deficiência realizarem seu trabalho, elas mostram seu potencia. Sabe-se, contudo, que em um país com tantas dificuldades sociais, como o nosso, o caminho da transformação é longo. Não se pode, assim, ficar aguardando que cada etapa seja totalmente vencida sem iniciar a outra, sob pena de eternizar o processo - diz.



Em Montes Claros existem várias escolas que trabalham com pessoas excepcionais, dentre as quais a Vovó Clarice, Capelo Gaivota, Abdias e Apae.

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