A multiplicação de pombos, principalmente no centro histórico, destrói fachadas e danifica jardins de edifícios que integram o patrimônio arquitetônico de Montes Claros. Vários imóveis se transformaram em refúgio para as aves, que fazem ninhos nos topos e beirais de casarios da Praça da Matriz, cartão-postal da cidade.

A facilidade dos animais para se adaptarem a áreas com grande circulação humana e a falta de predadores naturais contribuem para a superpopulação. A expectativa de vida de até três décadas, aliada ao fato de que cada fêmea pode gerar 18 filhotes por ano, também ajudam a explicar a quantidade de aves.

Além dos danos ao casario, os pombos podem trazer riscos à saúde da população. Fezes das aves e ninhos feitos com gravetos e até esqueletos de outros pombos desafiam as autoridades sanitárias por contaminarem o ar, a ponto de provocarem doenças.

Professor do Curso de Medicina Veterinária das Faculdades Integradas do Norte de Minas (Funorte), o médico veterinário Otaviano de Souza Pires Neto defende que “o problema seja enfrentado com maior rigor na conscientização da população quanto ao risco de doenças como criptococose, alterações pulmonares e alergias”.

Ele explica que o hábito de dar comida às aves, prática comum em Montes Claros, deve ser combatido para reduzir a população de pombos. Otaviano lembra, ainda, que nos locais onde essas aves são alimentadas ocorre mais facilmente a proliferação de insetos e roedores.

O professor explica que pessoas com sistema imunológico vulnerável são mais suscetíveis às doenças transmitidas pelos pombos. Ele faz questão de destacar que os problemas não se aplicam às aves domésticas ou aos pombos-correios, criados para competição. Vacinados e, quando necessário, medicados, eles atendem às normas sanitárias e não oferecem perigo.
 
PREVENÇÃO
Foi para impedir que a criação de pombos-correios representasse risco de transmissão de doenças que, em 16 de junho de 2015, o então prefeito Ruy Muniz colocou em vigor a Lei 4.779, estabelecendo normas para a criação das aves em viveiros para fins recreativos e esportivos.

Desde então, são considerados viveiros adequados aqueles construídos em madeira ou alvenaria, exigindo dos criadores filiados às associações columbófilas a manutenção dos espaços em locais limpos, secos, livres de parasitas e expostos ao sol.

De acordo com a Federação de Columbofilia Brasileira, agregados em duas associações, Montes Claros tem hoje 156 criadores de pombos-correios, os columbófilos, que soltam as criações duas vezes ao dia, por duas horas, como parte de treinamento para competições em nível nacional.

Esses pombos têm peso médio entre 425 e 525 gramas e são capazes de percorrer por dia distância de mil quilômetros, a uma velocidade de 90 km/h.

No bairro Cintra, o motorista de aplicativo Everton de Pinho Silva, de 32 anos, que cria pombos desde os 9, aponta a limpeza do pombal como segredo não apenas para garantir a saúde das aves, mas para evitar a transmissão de doenças.

Mas a paixão pelos pombos não envolve apenas os criadores de pombos-correios. Admirá-los já deixa Josefina José dos Santos, a “Tia Nena”, que há 26 anos vende acarajé na Praça da Matriz, bastante emocionada.

Alheia ao alerta de que os pombos causam doenças e danos a monumentos e fachadas, ela caminha entre as aves no local onde monta a tenda, chamando atenção para o fato de os animais não estranharem sua presença.
Igualmente, na Praça Doutor Carlos, área de maior densidade de pombos em Montes Claros, o motorista aposentado José Martins de Freitas Silva, de 65 anos, diz que “mais forte que a possibilidade de transmitir doenças é o fascínio, a admiração que os pombos despertam”.

“Dias atrás, quando ia a uma agência bancária, vi um pombo machucado no meio da rua”, conta. Ao socorrê-lo, foi repreendido por um comerciante. “Isso corta o coração”, desabafa.