Noêmia das Mercedes, membro do quilombo dos Nogueiras, destacou que “a busca por respeito e igualdade precisa ser constante” (LARISSA DURÃES)
No Dia da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro, o Brasil reflete sobre o combate ao racismo e a desigualdade social, valorizando a contribuição da população negra ao país. A data homenageia Zumbi dos Palmares, símbolo de resistência à escravidão, e reforça a luta contra o preconceito histórico.
“A resistência e celebração da negritude acontecem diariamente, mas a existência de uma data específica é essencial, especialmente no âmbito educacional, como ferramenta de reflexão e conscientização”, ressalta a estudante de História da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), Anna Flávia Rodrigues Dias, de 21 anos. Para ela, a luta antirracista e a valorização da cultura afro-brasileira não devem se limitar a um único dia, mas devem estar presentes no cotidiano. “No entanto, considero que o 20 de novembro destaca a importância da negritude e da população negra, trazendo ao debate questões que, por muito tempo, o Brasil ignorou”, diz.
Segundo o Censo Demográfico de 2022, 55,5% da população brasileira se autodeclara preta ou parda. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) classifica como negros a soma dessas duas categorias, que juntas representam cerca de 56% da população nacional. Em Montes Claros, 60% dos habitantes se identificam como pardos, 28% como brancos e 10% como pretos. Já em Minas Gerais, 11,8% da população se declarou preta, equivalendo a aproximadamente 12 milhões de pessoas.
Noêmia das Mercedes Nogueiras, membro do quilombo dos Nogueiras, localizado em Montes Claros, destacou que, para reforçar a luta diária contra o racismo e o preconceito, a data é importante e traz visibilidade. “Mas a busca por respeito e igualdade precisa ser constante. Apesar de avanços graduais, o preconceito ainda é percebido, especialmente de forma velada, como em exclusões sociais”, relata.
Ela ressaltou a diversidade religiosa no quilombo, onde convivem evangélicos, católicos e adeptos da Umbanda, como exemplo de respeito e união. Para ela, a conscientização, especialmente nas redes sociais e na educação, tem sido essencial para combater estigmas e mostrar que a cor da pele e a religião não definem o valor de uma pessoa. “Por isso, seguimos firmes na luta por respeito e igualdade, porque somos todos iguais”, afirmou.
LUTA POR LIBERDADE
Zé Gomes Filho, coordenador da Comunidade Municipal da Igualdade Racial e presidente do Conselho Municipal da Igualdade Racial em Montes Claros, destacou que essa data é fundamental para o movimento negro, representando uma conquista significativa ao se tornar feriado em algumas localidades. Contudo, Zé Gomes lamenta que, em Montes Claros, o comércio permaneça aberto, desrespeitando o caráter da data. “É um absurdo, porque outras datas, como o 15 de novembro, são respeitadas. Mas é o 20 de novembro que deveria ser visto como o dia da verdadeira república, quando Zumbi dos Palmares reuniu negros, indígenas e brancos excluídos na luta pela liberdade”, declarou.
Para Zé Gomes, o 20 de novembro contrapõe ao 13 de maio, Dia da Abolição da Escravidão, que ele considera um marco importante, mas insuficiente. Ele explicou que a Lei Áurea foi assinada quando muitos escravizados já haviam conquistado sua liberdade por outros meios e a abolição foi fruto de pressões econômicas, mais do que uma verdadeira preocupação com a população negra. “O Dia da Consciência Negra é sobre refletir e promover a conscientização racial, algo que o Brasil ainda precisa alcançar plenamente”, destacou.
Sobre os avanços na redução do racismo, o coordenador afirmou que a sociedade tem se tornado mais consciente, embora o racismo continue presente, muitas vezes veladamente. “O Brasil é um país racista. O problema é que o racismo aqui era oculto, com os incentivos dos últimos anos, vem aflorando e ficando cada vez mais explícito. Agora, as pessoas estão assumindo racistas, reforçando nossa luta para combater com mais fervor esse crime”, pontuou.
Sobre as ações para marcar a data em Montes Claros, Zé Gomes informou que haverá atividades na Praça da Matriz, a partir das 8h30, com encerramento previsto para o meio-dia. A programação inclui apresentações culturais, falas sobre o tema e grupos religiosos de matriz africana, promovendo reflexões sobre intolerância religiosa. “Mesmo com os desafios, seguimos lutando e celebrando a cultura negra, mostrando a importância dessa data para nossa história e nossa identidade”, concluiu.