A moderna arquitetura do Cine Fátima: considerado na época um grande empreendimento, o cinema era motivo de orgulho para a população de Montes Claros

Jornal O Norte
Publicado em 25/10/2006 às 11:38.Atualizado em 15/11/2021 às 08:43.

Samuel Nunes


Repórter


samuelnunes@onorte.net



A reportagem de O Norte iniciou na edição do último final de semana uma série sobre o antigo Cine Fátima, que definitivamente entrou para os anais da história de Montes Claros. A série começou com um depoimento do cronista do suplemento Opinião Raphael Reys que falou com saudade sobre cinema que embalou os sonhos da juventude montes-clarense da década de 1960. Com uma incessante busca pela informação de qualidade, a reportagem foi uma vez mais ao fundo do baú para saber mais sobre a estrutura física do Cine Fátima.



LINHA DE ARQUITETURA



Tendo com fonte de informação a revista Encontro do mês de junho de 1960, a edição de hoje traz dados sobre a estrutura física do Cine Fátima que foi um marco na história da cidade, único motivo de diversão e lazer da época. O cinema foi construído obedecendo às linhas da moderna arquitetura, considerado na época um grande empreendimento em que foram empregados alguns milhões de cruzeiros, moeda corrente da época. Era um orgulho para a população de Montes Claros.






Vista panorâmica do cine Fátima (foto: arquivo)



O proprietário Euller de Araújo Lafetá não poupou dinheiro e esforços no sentido de dotar a metrópole sertaneja de uma casa de diversão à altura de seu progresso. O Cine Fátima foi um dos maiores empreendimentos no gênero em todo o país, pois foi equipado com os maiores recursos da arte cinematográfica da época, exibiu filmes de todos os gêneros. O Cine Fátima foi projetado e construído para um publico exigente de técnica e conforto para acompanhar o desenvolvimento da técnica cinematográfica nos idos de 1959. Tinha 1.300 poltronas estofadas, sendo 900 na platéia e outras 400 na galeria, ar-condicionado, som perspecta magnético estereofônico de 4 faixas, tela flutuante - a primeira no estado de Minas Gerais e a terceira no Brasil.



OPERADOR CINEMATOGRÁFICO



Através de uma intensa investigação a reportagem encontrou o operador cinematográfico do Cine Fátima Almir Ferreira Lima. Mostrando lucidez e boa memória ele conta que durante aproximadamente 15 anos dedicou tempo integral ao cinema.



- Trabalhei um período também em Belo Horizonte em cinemas e teatros, mais ou menos 3 a 4 anos, na rede de cinema Brasil – conta.



Almir Ferreira afirma que o Cine Fátima representou muito para sua vida, mas ao mesmo tempo era um trabalho cansativo devido o cinema exibir na época 2 sessões e ele ficava rodando os filmes até 12 horas, pois ele tinha que chegar ao cinema 1 hora antes das apresentações.



- O ex-prefeito de Montes Claros, Mário Ribeiro da Silveira, o Marão, era meu patrão. Várias vezes elogiou meu trabalho que era feito com dedicação e amor por que eu gostava do que fazia - lembra. Almir Ferreira diz que recebia mensalmente em torno de 1 salário e algumas vezes passavam alguns cruzeiros. Mas ele diz que o trabalho não era feito pelo dinheiro e sim por uma causa nobre, que era o de contribuir para a diversão e crescimento intelectual das pessoas através dos filmes. 



CUIDADO NO TRABALHO



Almir Ferreira diz que os filmes rodados no cine Fátima vinham de Belo Horizonte já que em Montes Claros não tinha distribuidora.



- Os filmes vinham para nossa cidade via linha férrea, pela Central do Brasil. Algum tempo depois eles passaram a vir de ônibus. Estes filmes eram alugados pelo um preço fixo e em alguns momentos um fiscal era mandado para Montes Claros para fiscalizar a renda. Almir Ferreira completa dizendo que os filmes saíam de Belo Horizonte com boletim de revisão e quando aqui chegavam eram revisados novamente.



Outro ponto enfatizado por ele é que em algumas situações os filmes eram danificados em parte ou na sua totalidade. Ele explica que alguns filmes geralmente eram danificados tanto na parte sonora como na perfuração. Isto acontecia muitas vezes devido à falta de habilidade do operador cinematográfico. Os filmes que rodávamos tinham de 1h até 4h30 de duração. Grandes produções da época era certeza de bilheteria como, por exemplo, Bem Hur e Fugindo do Inferno.



Almir Ferreira lembra que a aparelhagem era limpa diariamente e tudo era feito em uma sala de projeção. Segundo ele, um dos compartimentos a ser limpo era a lanterna que tinha um espelho que jogava luminosidade, sendo que a mesma tinha o carvão positivo e negativo. Ele queimava o positivo pela frente e por traz da lanterna como se fosse uma solda elétrica. Depois de todo esse processo considerado não moderno na época, veio a lâmpada.



- O sistema usado nos cinemas pelo Brasil atualmente são mais modernos, muito diferente do empregado no cine Fátima – conclui.

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