Vendedores ambulantes fazem de tudo para sobreviver, até correr da fiscalização

Jornal O Norte
08/02/2007 às 10:25.
Atualizado em 15/11/2021 às 07:57

Há um código entre os


ambulantes para fugir da


fiscalização e das apreensões

Naíma Rodrigues


Repórter


onorte@onorte.net

Existem diversos tipos de vendedores ambulantes: aqueles que vendem pipoca, outros que vendem churros, brinquedos, doces, chaveiros, CDs, etc. Alguns deles trabalham com carrocinhas e são praticamente fixos. Outros são vendedores ocasionalmente: desempregados e aposentados que trabalham em dias festivos e em finais de semana. Há diversos deles pelas ruas de Montes Claros. Basta olhar para o lado para encontrá-los.

De toda forma, eles são ambulantes e desempenham atividades técnicas e espontâneas para vender o produto e apresentá-lo ao público. Essas propagandas são adquiridas através do conhecimento diário de aprendizado espontâneo e de imitação inconsciente. E, para isso, têm como maior instrumento de trabalho a voz. Gritam durante todo o dia para chamar a atenção do cliente. Frases do tipo - É do papai é do papai – são ditas pelo vendedor que comercializa o brinquedo do homem aranha. Outra frase famosa no centro da cidade é: – Olha, olha. caiu. O preço do quebra-queixo acaba de cair.




A venda varia de acordo com o humor dos clientes,


que são sempre incentivados
(foto: Wilson Medeiros)

Existem vendedores ambulantes que são empregados de outros vendedores, que possuem mais de uma carrocinha, alguns deles recebem acima de um salário mínimo, mas trabalham aos sábados, domingos e feriados. 

O vendedor W.R. (o nome é preservado por causa da fiscalização), que vende churros há seis meses, diz que começou o trabalho de ambulante, para complementar, a renda da família garante que o emprego de vendedor de churros é melhor que um emprego de carteira assinada:

- Eu vendo muito bem, vendo churros de 50 centavos e 1 real; eles vêm com recheio de doce de leite e de chocolate. 

PERSEGUIÇÃO

Todos os vendedores entrevistados disseram que existe uma camaradagem grande entre eles. O que é de suma importância, pois impede que sejam multados e que tenham os instrumentos de trabalho e produtos apreendidos. Quando o carro de fiscalização da prefeitura se aproxima, um avisa ao outro, para que possam sair correndo na direção oposta. Dificilmente eles são surpreendidos, porque há sempre um ou mais olheiros andando de um lado para o outro, com o objetivo de alertar os colegas de trabalho sobre a presença dos fiscais pela redondeza. 

- Os fiscais perturbam muito, mas, graças a Deus, eu nunca fui pego. Quando sabemos que eles estão por perto, procuramos alertar a todos, para que eles possam sair do lado oposto... Depois que eles vão embora, nós voltamos sossegados para vender nossas mercadorias – diz o vendedor de CDs H.G.

Quando apreendem a mercadoria e os instrumentos de trabalho dos ambulantes, torna-se um problema muito sério, pois nem sempre o trabalhador consegue recuperá-los ou adquirir outros.

- Entendemos que os fiscais estão cumprindo o papel deles, o nosso é nos esconder para poder continuar trabalhando e sustentar nossa família – afirma o vendedor de doces C.R. 

DIFICULDADES

Mas a vida dos vendedores ambulantes não é fácil, pois, segundo eles, quando não estão fugindo dos fiscais estão empurrando seus carrinhos e gritando, para vender a mercadoria. O dinheiro, de acordo com eles, entra mas não é sempre. Tem dia que vende, tem dia que não vende nada e tem ainda dia que vende bastante.

Quando a mercadoria não é vendida, o sofrimento é maior para aqueles que moram longe, como é o caso da vendedora de doces E.S.

- Não tenho outra opção de trabalho, vendo isso para os outros, sou apenas revendedora. Moro no Bairro Clarissa Ataíde, e de lá para cá gasto dois vales transportes. Quando não vendo nada, sou obrigada a voltar andando. Eu estou só lutando para sobreviver e a minha arma é a venda dos meus doces.

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