Sob o temor de uma epidemia

Morte de Artur Leite e vários casos de internação acendem alerta contra a leishmaniose

Márcia Vieira
O Norte - Montes Claros
04/12/2018 às 05:59.
Atualizado em 28/10/2021 às 04:03
 (MANOE FREITAS)

(MANOE FREITAS)

A morte do jornalista montes-clarense Artur Leite na semana passada, vítima da leishmaniose visceral, colocou em alerta a população de Montes Claros, que teme estar enfrentando uma epidemia da doença.

Dados apontam que até o mês de agosto foram registrados 92 casos da doença, sendo 71 de leishmaniose visceral (Calazar) – com três óbitos – e 21 de leishmaniose tegumentar. Os números superam em muito o quadro de 2017, quando foram registrados 22 casos.

A morte do jornalista engrossa esses números – são, agora, pelo menos quatro óbitos – e há informações extraoficiais de outros casos. No entanto, a assessoria de comunicação da Prefeitura de Montes Claros, embora procurada desde a última sexta-feira, não repassou os dados atualizados, que poderiam mostrar uma situação mais grave do que os números até agosto retratam.

A veterinária Roberta Maia faz questão de esclarecer que o cão, ao contrário do que muitos pensam, não é o vilão da doença: ele é apenas o hospedeiro. Entretanto, a falta de cuidados da prefeitura com os animais abandonados nas ruas da cidade deixa a população mais exposta à leishmaniose.

“De forma nenhuma os cães têm capacidade de transmitir a doença. Isso é feito por meio do mosquito palha. Mas se houvesse um trabalho para tratar os animais quanto à doença, os índices diminuiriam bastante. Com os animais na rua, temos mais fontes de contaminação para o mosquito. Se tratados, a carga parasitária reduz tanto que ele deixa de ser capaz de infectar o mosquito”, alerta a veterinária.

Hoje em dia, a leishmaniose em cães já possui tratamento e o animal não precisa mais ser sacrificado. “O Centro de Zoonoses não se responsabiliza pelo tratamento, então cães positivos normalmente são eutanasiados”, diz Roberta, que sugere medidas de prevenção à doença que deveriam ser adotadas pelo poder público.

“A popularização da medicação é uma alternativa, porque o custo ainda é relativamente alto. Mas enquanto isso não acontece, é necessária a conscientização de castração para diminuir o número de cães de rua e projetos sociais para a limpeza de lotes vagos, quintais e espaços públicos abandonados, porque é onde se tem a alta circulação do mosquito em razão do acúmulo de matéria orgânica”.

SINTOMAS
Febre intermitente por mais de duas semanas, perda de peso, sudorese noturna e mal-estar são sinalizadores da doença. O infectologista João dos Reis Canela salienta que, a partir deste quadro, é necessário que o paciente procure um serviço de referência para um diagnóstico mais preciso.

“Se observado fígado ou baço aumentados, é necessário desencadear toda uma quantidade de exames necessários, incluindo a punção de medula óssea e abordagem sobre o histórico do paciente”, explica.

Só no Hospital Universitário – referência nesse tipo de atendimento –, são recebidos, em média, de três a quatro pacientes semanalmente, de Montes Claros e região. Para o diagnóstico certeiro é necessário o envolvimento de vários profissionais, incluindo, além de infectologista, patologista clínico, dermatologista e hematologista. Apesar da gravidade, a doença tem cura e o óbito pode ser evitado.

“A eficácia do tratamento é de cerca de 95%. Pesquisas e evidências mostram que pode haver recidiva, porque o parasita, mesmo depois do tratamento, continua ocupando espaço no organismo da pessoa e, por isso, é preciso fazer um acompanhamento, nos protocolos mais eficazes, de ao menos um ano depois do tratamento. Mas, de modo geral, a resposta é muito boa. Lamentavelmente, é uma doença endêmica na região”, pontua João Canela.


 

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