Sentenciadas à morte

Árvores velhas e doentes viram problema na Praça da Matriz e outros pontos da cidade

Manoel Freitas
21/03/2019 às 08:18.
Atualizado em 05/09/2021 às 17:53
 (MANOEL FREITAS)

(MANOEL FREITAS)

Árvores que oferecem sombra e frescor para a cidade estão sofrendo com a ação do tempo, manejo inadequado e pragas. Várias delas caíram, tiveram que ser arrancadas ou parcialmente cortadas, prejudicando o cenário urbano. A cidade não possui um plano de arborização, muito menos um inventário das árvores de praças, ruas e avenidas.

A Praça Doutor Chaves, ou da Matriz, no centro histórico, é um dos locais de Montes Claros que pouco a pouco perde a cobertura vegetal. Nos três últimos anos, vários Ficus rubiginosa, que circundavam toda a área, estão morrendo. São árvores com mais de 60 anos atacadas pela mosca-branca e pela erva-de-passarinho, pragas que comprometem igualmente indivíduos em outras áreas públicas, como a Praça da Estação.

A maioria das espécies foi plantada há décadas e hoje, com o tronco e galhos fragilizados, contribuem para os acidentes. No último sábado, uma Canafístula (Peltophorum dubium) de médio porte caiu em frente ao Centro Cultural Hermes de Paula. Até o final da tarde de ontem a árvore não havia sido retirada pela Secretaria de Serviços Urbanos.

De acordo com a coordenadora do curso de Engenharia Florestal da UFMG, Rú-bia Fonseca, o planejamento de arborização deveria vir antes do planejamento urbano. “Se ele fosse planejado, deveria ser feito em sucessão, ou seja, quando uma árvore estivesse mais velha, naturalmente seria substituída”.

Rúbia observa que tanto na Praça da Matriz como em outras áreas públicas de Montes Claros, “os indivíduos estão muito velhos, de forma que precisam de um acompanhamento para saber se têm doenças, com algum tipo de mortalidade parcial”.

Para a engenheira de Dendrologia e Sistemática Vegetal da UFMG, doutora em Botânica, Montes Claros poderia fazer opção pelas chamadas “arvoretas”. São espécies que florescem e frutificam em até cinco metros.

Para Rúbia, o principal problema enfrentado na atualidade é que “as pessoas fazem opção por espécies debaixo de fio. “Sem contar que em Montes Claros ocorre um manejo incorreto das árvores”.

No ambiente urbano, a vida útil dessas espécies maiores, como Ficus, oscila entre 30 e 50 anos, de acordo com o consultor ambiental Eduardo Gomes, do Instituto Grande Sertão.

O NORTE constatou que 14 Ficus rubiginosa foram retirados da Praça da Matriz por estarem comprometidos devido à incidência de diversos parasitas. Dez foram replantados, mas apenas cinco conseguiram sobreviver.
 
RISCOS
Além do prejuízo ambiental, a queda de galhos e da própria árvore oferece riscos à população. Em um acidente, uma pessoa, imóvel ou veículo podem ser atingidos.

A assessoria de imprensa do 7º Batalhão de Bombeiros Militar foi procurada para informar o número de ocorrências com quedas de árvore na cidade. Entretanto, não deu retorno até o fechamento desta edição.

E foi sob a sombra do Ficus rubiginosa, espécie mais sacrificada, que a reportagem encontrou a designer de sobrancelhas Flávia Gonçalves amamentando o filho Daniel, de 5 meses. “Todas as vezes que venho aqui no Centro, paro aqui um pouquinho. Gosto, é fresquinho e fico olhando a paisagem, que me transmite paz”, diz Flávia, mesmo reconhecendo o perigo das árvores caducas.

Já em frente à Matriz de Nossa Senhora da Conceição e São José, a estudante Maria Eduarda Dourado, de 16 anos, disse que todo dia, entre a escola e as aulas de dança, procura a sombra das árvores para se refrescar. “Eu espero esse meio tempo aqui, às vezes só contemplando. Mas normalmente aproveito para desenhar. Por isso incentivo o replantio, porque a cidade está precisando de árvore, aqui faz muito calor e é importante para refrescar”, avalia.
 
PREVENÇÃO
A Prefeitura de Montes Claros informou que vem trabalhando em ações preventivas, com vistorias e cortes. O secretário Municipal de Meio Ambiente, Paulo Ribeiro, observou que o grande desafio do município é a arborização urbana. “Além do replantio para compor os espaços na Praça da Matriz, esse ano nós colocamos como meta plantar 10 mil mudas, principalmente flores”, explicou.

No entanto, apresentou uma triste estatística. “Na realidade, de cada 100 mudas plantadas em Montes Claros, algo em torno de cinco são salvas. É um trabalho de persistência”, afirmou Paulo Ribeiro, também presidente da Fundação Darcy Ribeiro.

Por mais árvores e canteiros de flores na cidade
Montes Claros tem buscado conscientizar a população para evitar a retirada de árvores. “É incrível, todo mundo quer sombra, mas ninguém quer plantar árvore”, lamentou o secretário Municipal de Meio Ambiente, Paulo Ribeiro.

Por outro lado, salientou que o município tem registrado algumas iniciativas interessantes, “como na beira da linha da rede ferroviária, onde a população tem transformado lixões em canteiros de flores”. Revelou que a Secretaria do Meio ambiente buscou parceria com o Google. “Foi feito um levantamento excepcional de rua a rua, de modo que sabemos quantas árvores são plantadas, as espécies e isso servirá de referência para definirmos ações conjuntas com vários órgãos governamentais e com a iniciativa privada nos próximos anos”.

Para a professora Rúbia Fonseca, “a presença, o cheiro de mato combatem o estresse, diminuem a violência, melhorando a saúde pública”.

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