Prontos-socorros de portas fechadas

Plano de contingência por superlotação de hospitais expõe a fragilidade da saúde em Montes Claros

Vitor Costa sob supervisão do editor
Montes Claros
08/03/2018 às 05:09.
Atualizado em 03/11/2021 às 01:45
 (Vitor Costa)

(Vitor Costa)

Em menos de três meses, a Santa Casa de Montes Claros já acionou por duas vezes o plano de contingência, alegando superlotação da unidade de pronto-socorro. Na prática, em situações assim passam a ser feitos somente os atendimentos quando há risco iminente de morte. Agora, o mesmo ocorre no Hospital Universitário Clemente de Faria e na Fundação Hospitalar Aroldo Tourinho.

A Santa Casa de Montes Claros é referência em atendimento de média e alta complexidades para uma população estimada em 2 milhões de habitantes –incluindo nessa conta os pacientes que chegam dos demais municípios da região Norte, além dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri. 

A mãe da dona de casa Isabel Silva está internada e os filhos não podem visitá-la devido à superlotação do local. Ontem de manhã, a filha conseguiu cinco minutos com a paciente, que apresentou piora do quadro clínico. “Lá dentro é um cenário de guerra. A minha mãe está na ala vermelha sozinha desde quarta-feira com AVC grave. Tem 84 anos. O enfermeiro disse apenas para que eu rezasse porque a situação dela piorou. Por isso, permaneço aqui sem lugar para sentar, aguardando informação. Não permitem nem que a gente fique na recepção”, desabafa a filha. 

Atualmente, a Santa Casa tem 20 leitos no pronto-socorro e a lotação diária na unidade é, em média, de 50 pessoas. Quando o plano de contingência foi acionado, a instituição estava com 70 pacientes, o triplo da capacidade. Em nota, a Santa Casa informou que o hospital passaria a atender somente os casos de emergência com iminente risco de morte que chegassem inadvertidamente ao local, além de casos agudos de referência exclusiva, como os de classificação vermelha.

Não bastasse o maior pronto-socorro da região de portas fechadas, as opções ficaram ainda mais escassas. Há uma semana, o Aroldo Tourinho também recorreu ao plano de contingência. A instituição alega número de pacientes acima do que permite a infraestrutura e falta de condições de oferecer “atendimento digno, seguro e satisfatório”. Pontuou ainda que, em razão dessa situação excepcional, o atendimento foi limitado a casos com iminente risco de óbito que chegarem ao local. 
 
PRIORIDADES 
O Pronto-Socorro do Hospital Universitário Clemente de Faria tem 40 pacientes internados, quantidade superior à capacidade instalada, de 20 leitos. Diante da situação, a direção informou que a unidade prioriza também atendimento a casos extremos. 

A tempestade que atingiu a cidade no último domingo piorou a situação da saúde em Montes Claros. Parte do telhado do Hospital Dilson Goldinho foi arrancada. Segundo a assessoria de comunicação da instituição, o atendimento segue normal, na medida do possível. O bloco cirúrgico está com o funcionamento reduzido. Além do estrago no telhado, a estrutura elétrica e de abastecimento ficou comprometida com o temporal. 

Procurada, a Prefeitura de Montes Claros não se pronunciou sobre a situação crítica da saúde no município, nem informou planos envolvendo o Hospital Municipal Doutor Alpheu Gonçalves de Quadros para atender à população.

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