Precariedade prejudica ação de agentes contra o Aedes

Sindicato reclama de falta de pessoal, de equipamentos de segurança e vale-transporte

Márcia Vieira
23/02/2019 às 06:46.
Atualizado em 05/09/2021 às 16:41
 ( MANOEL FREITAS)

( MANOEL FREITAS)

Montes Claros apresenta um alto índice de infestação do Aedes aegypti, transmissor da dengue, zika e chikungunya, doenças que, como O NORTE mostrou na edição de ontem, têm avançado na região. Atores fundamentais no combate aos focos do mosquito, os agentes de endemias têm atuado em condições precárias, o que pode favorecer ainda mais o surgimento de uma epidemia no município.

O Levantamento Rápido de Índices para Aedes aegypti (LirAa), realizado pelo Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) em janeiro deste ano, apontou infestação de 5,9% – bem acima do 1% considerado aceitável pelo Ministério da Saúde.

A prevenção passa pela ação da população em manter quintais livres de objetos que possam acumular água e, na maioria das vezes, esse alerta é dado durante as visitas dos agentes de endemias.

Mas os servidores alegam que estão trabalhando sem os equipamentos de proteção necessários. Além disso, o número de agentes é inferior ao preconizado, tornando mais longo o calendário de visitas aos domicílios. Isso torna falho o combate aos focos.

Com uniformes desgastados, bolsas rasgadas e máscaras de proteção vencidas, os servidores ficam expostos a substâncias tóxicas com as quais têm que lidar diariamente.

“Você acha que as pessoas vão nos deixar entrar em suas casas quando olharem para nossa situação? Os uniformes estão velhos e já deveriam ter sido trocados, mas a secretaria diz que está dependendo de licitação. Desde o início da gestão estamos aguardando essa licitação, que não sai nunca. A secretária chegou a me dizer que tem uma empresa vencedora, mas que não entrega o material. Todos os dias tem uma desculpa”, diz o presidente do Sindi-Saúde, Valdeci Alves.
 
VALE-TRANSPORTE
Outra situação considerada preocupante pela categoria é a redução pela metade do vale-transporte, insuficiente para cumprir a jornada de trabalho de 40 horas semanais.

Sem possibilidade de bancar os deslocamentos, os agentes reivindicaram da prefeitura a redução da jornada, porém um parecer da assessoria jurídica do município, com data de 17 de janeiro de 2019, confirmou a necessidade de o município retornar com o benefício.

“Apesar de o próprio advogado da prefeitura ter reconhecido a nossa necessidade, não temos qualquer sinalização da Secretaria de Saúde sobre isso. As vistorias são realizadas, muitas vezes, com os agentes tirando da boca pra cumprir a meta, que são de 25 visitas por dia”, diz o presidente.

De acordo com Valdeci, os agentes recebiam os vales em dinheiro, cerca de R$ 220 mensais. Com a redução, eles recebem apenas R$ 110.

“Os agentes se encontram em pontos de apoio e, em cada um deles, o guarda-chefe fica responsável por distribuir o material que será manuseado. Usamos o vale-transporte para chegar ao local de serviço, mas temos intervalo de almoço e precisamos retornar para a vistoria. Só na parte da manhã já utilizamos os dois vales. Para o retorno ao serviço e na volta para casa, ao final do dia, temos que ter o dinheiro no bolso. Isso sem contar a solicitação do Centro de Controle de Zoonoses para irmos a alguns lugares que não estavam previstos. Estamos pagando para trabalhar”, lamenta Valdeci.
 
FALTA PESSOAL
Ainda segundo o sindicato, o número de agentes é insuficiente e está deixando parte da cidade descoberta.

“Tem muita gente que está afastada do serviço ou de férias. Eles não colocaram outras pessoas no lugar. Com isso, apenas 60% da cidade é atendida dentro do tempo previsto. É a população quem sai prejudicada”, pontua Valdeci. Segundo ele, dos 374 agentes, apenas 200 estariam ativos.

Cidade descoberta nas vistorias significa possibilidade de aumento dos focos de proliferação do mosquito.
 
RECOMENDAÇÃO
De acordo com o Ministério da Saúde, cabe ao município a contratação de novos agentes de saúde e o credenciamento deles junto à pasta federal para que os recursos sejam repassados à cidade.

“A recomendação é que o município solicite o credenciamento de novos agentes comunitários de saúde seguindo o fluxo instituído na Política Nacional de Atenção Básica (PNAB)”, diz nota enviada pelo Ministério da Saúde.

Procurado pela reportagem, o gabinete da Secretaria de Saúde disse que a responsabilidade de dar retorno aos questionamentos seria da Assessoria de Comunicação e que já havia encaminhado o e-mail, mas a Ascom, mais uma vez, não deu retorno.

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