Preço de material dispara e onera construção civil; com itens em falta, espera pode chegar a 60 dias

Márcia Vieira
O NORTE
18/08/2020 às 06:30.
Atualizado em 27/10/2021 às 04:18
 (O Norte/Arquivo)

(O Norte/Arquivo)

Se por um lado ganhou impulso no início da pandemia, a construção civil vem sofrendo nos últimos dias com o alto custo dos produtos e a falta de alguns deles no mercado. Há itens que tiveram reajuste de 33% - e a espera por eles é de dois meses. 

“O cimento que a gente comprava no início do ano por cerca de R$ 19 (o saco) está em R$ 24. Já o tijolo, cujo milheiro era R$ 600, está R$ 800, e nos pedem para esperar até 60 dias, porque está em falta na cidade. Minha previsão era a de terminar a casa até o fim do ano, mas acho que vou esperar o preço baixar”, diz a engenheira ambiental Thalita Nunes.

Engenheiros e construtores já se mobilizam em busca de uma saída.

“A construção civil não parou na pandemia. No início, tivemos um aquecimento. Além das novas construções, muita gente que começou a trabalhar em casa precisou reformar e adequar os espaços. Mas depois desse aumento, alguns clientes resolveram parar, com isso eu deixei de contratar cerca de 30 pessoas” diz o engenheiro Cláudio Macedo, dono de uma construtora e prestador de serviços.

Segundo ele, nos depósitos de material de construção a justificativa para o reajuste é a de que os fabricantes aumentaram os preços. Já quem vai direto ao fabricante ouve que, por causa da pandemia, a mão de obra está escassa e a demanda alta, por isso os preços teriam subido. “Além do cimento, encareceram areia, brita, ferragens e todos os materiais e insumos referentes a construção”, diz.

O arquiteto D.S. relata que fez uma consulta de preços na cidade e se surpreendeu com os valores.

“Uma vendedora me passou o preço de R$ 500 o milheiro (de tijolos). No final da tarde esta mesma loja me informou que o valor foi corrigido para R$ 930. Na falta do material vou ter que comprar onde encontrei, porque a obra não pode parar, mas é um aumento exagerado”.

Um outro construtor que pediu para não ser identificado sugeriu que pode haver um cartel. “Os reajustes de 2020 foram iguais em todas as fabricantes de cimento. Este ano já aconteceram três aumentos: em janeiro, julho e agosto”, pontuou.

Para o economista Aroldo Rodrigues, várias podem ser as explicações para os aumentos. “O setor da construção é muito complexo para analisarmos causa e efeito. O mercado imobiliário em Montes Claros é muito bom, pujante, e dificilmente a pessoa que está em meio à construção de um prédio vai parar. Uma outra vertente pode ser o fato de a cidade estar mais distante de alguns distribuidores que fornecem matérias-primas ou materiais. O fato é que de acordo com o IPC (Índice de Preço ao Consumidor) fornecido pela Unimontes, a inflação em Montes Claros foi maior do que no Brasil e o setor de construção civil compõe esse índice”.

O presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil em Montes Claros, Osmar Cunha, diz que a preocupação já chegou aos Sinduscons estaduais e entidades afins, e há um consenso entre eles sobre a refreada nos serviços até que a situação seja entendida.

“Todos estão fazendo a mesma pergunta. A gente não sabe se é uma inflação de demanda, ou seja, uma alta em razão de muita procura e pouca oferta. Algumas indústrias chegaram a desativar nesta pandemia e muitas diminuíram a produção. Por outro lado, o volume de dinheiro circulando em razão dos benefícios é grande e movimentou o segmento”, explicou, acrescentando que os próximos 90 dias servirão como uma referência para análise da situação, pois os incentivos do governo estão programados para terminar em outubro. “Apressar os projetos e correr atrás dos insumos gera especulação. A sugestão dos sindicatos é deixar os projetos maiores para mais adiante para frear as próximas altas”.

O diretor do Procon, Alexandre Braga, afirmou que não houve ainda denúncias sobre o assunto, Entretanto, pontuou que, se houver demanda de consumidores, a fiscalização poderá ser iniciada imediatamente. 

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