Praça imunda recebe ‘maquiagem’ para festa

Moradores de rua devem deixar o local para a Festa do Pequi, mas retornam

Manoel Freitas
O Norte - Montes Claros
31/01/2020 às 08:58.
Atualizado em 27/10/2021 às 02:29
 (MANOEL FREITAS)

(MANOEL FREITAS)

Há uma semana do início da 29ª Festa Nacional do Pequi, a Praça Doutor Chaves, mais conhecida como Praça da Matriz, ainda é o retrato do descaso da Prefeitura de Montes Claros com o patrimônio histórico municipal. A gestão tenta dar uma maquiada no espaço que será palco de uma das festas mais tradicionais da cidade. Mas, nem mesmo o “mel de coruja” que a prefeitura promoveu consegue mascarar o completo estado de abandono do local.

Ponto de visitação obrigatória para turistas, a praça abriga cada vez mais pessoas em situação de rua. Nos períodos que antecedem as festas, como a do Pequi e as Festas de Agosto, esses ocupantes fazem um acordo com a administração, por meio da Secretaria de Assistência Social, para desocuparem o coreto – um dos símbolos do espaço público.

No entanto, além desse pacto com os moradores de rua, nenhuma medida para recuperação e revitalização da praça é adotada pelo município. Enquanto isso, a população se vê privada de um espaço de lazer e assiste, diariamente, ao contínuo processo de deterioração da Praça da Matriz.

Na tarde de quarta-feira, a reportagem de O NORTE esteve na Praça Doutor Chaves, que abriga a Matriz de Nossa Senhora da Conceição e São José. No local, muita sujeira, com colchões e cobertores espalhados pelos quatro cantos. Sem contar os objetos pessoais e de reciclagem armazenados pelos ocupantes de modo improvisado em carrinhos de supermercado ou mesmo amontoados nos jardins.
 
SAÍDA TEMPORÁRIA
O secretário de Cultura, o artista plástico João Rodrigues, recebeu O NORTE em seu gabinete e, sem rodeios, disse que “antes das festas a gente sempre tem uma conversa com os moradores para aliviar o coreto da Matriz, porque é onde fazemos exposição de cordel, onde acontecem as oficinas. Então eles dão um tempo, quando vem a Secretaria de Serviços Urbanos, limpa e entrega para a organização dos eventos. Mas, de resto, vai ficar tudo do jeito que está mesmo, ou seja, ninguém vai sair da praça”.

O secretário ressalta que é difícil encontrar uma solução para aquele quadro. “A abordagem ocorre como tem que ser, porque o Ministério Público está em cima da gente. Se você tocar em um papelão deles, está ferrado”, explica. Além disso, segundo Rodrigues, os moradores de rua não se importam se ali é um centro histórico. “O morador de rua quer é a rua, não quer quarto para dormir. Mas quem cuida da abordagem é a assistência social. Eles se afastam, num primeiro momento, mas no mesmo dia ocupam novamente”.
 
SEM OPÇÃO
Desde o ano passado, após a separação da esposa, a Praça da Matriz se tornou a casa do pizzaiolo desempregado Lucas Pereira, de 25 anos. Ele conta que vive ali por absoluta falta de opção. “Eles (a prefeitura) pediram para nós não ficarmos aqui durante as festas, mas a gente volta novamente porque é muito difícil, não tenho para onde ir. E estou sendo submetido a tratamento de câncer de medula”, diz.


Morador reclama de falha social e urbana
Esse cenário que em nada convida o montes-clarense ou turista a frequentar a Praça da Matriz assustou a moradora Valéria Monteiro. Na tarde de quarta-feira, acompanhada pelo filho Rafael, ela contou que há mais de 20 anos trocou a capital mineira por Montes Claros justamente para procurar um lugar onde os problemas urbanos não fossem tão complexos. Mas, acabou frustrada.

“É muita sujeira. A praça deveria ter boa estrutura e a prefeitura deveria atender aqueles que vivem em situação de rua”, disse Valéria, decepcionada com o quadro que encontrou.

A empresária Lícia Macedo, após atravessar a praça com o filho, disse que “não tem como não notar tantos moradores de rua na Praça da Matriz. Percebo, inclusive, que hoje deu uma diminuída no número deles”.

Para ela, esse é um problema social que as autoridades têm que enfrentar com determinação. E dá exemplo: “eu e minha família já ajudamos quatro moradores de rua, com internamento e assistência, através de grupos de apoio e da minha igreja”.

O secretário de Defesa Social, Anderson Chaves, disse que “temos equipes multidisciplinares qualificadas para assistir as pessoas em situação de rua, cabendo à Secretaria de Defesa Social, através da Guarda Municipal, fazer o acompanhamento das ações para garantir a segurança e integridade física de todos os envolvidos”.

Já o secretário de Assistência Social, Aurindo Ribeiro, não respondeu até o fechamento da edição.
Colaborou Leonardo Queiroz

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