Pessoas com deficiência esperam há 3 anos por cadeiras de rodas

Apesar de receber recursos da União, prefeitura não atende a população

Manoel Freitas
22/11/2019 às 07:01.
Atualizado em 05/09/2021 às 22:46
 (MANOEL FREITAS)

(MANOEL FREITAS)

“É uma luta sem fim”. Essa é a frase que Maria José Jesus, mãe de Karen, de 19 anos, usa para definir a falta de atenção do município com os deficientes. A jovem está há quase três anos na fila esperando por uma cadeira de rodas do Centro de Órtese e Prótese de Montes Claros. E sempre que a moradora do bairro Santo Inácio liga para o órgão, a resposta é a mesma: “não há previsão” para liberação do equipamento.

O problema ocorre apesar de os recursos serem repassados à prefeitura por meio de pactuação do Sistema Único de Saúde (SUS), que assegura a todos os pacientes cadeiras de rodas, andadores, bengalas, muletas, botas ortopédicas, cadeiras higiênicas e outros aparelhos listados pelo Ministério da Saúde.

No entanto, na administração atual, pessoas com deficiência amargam espera superior a dois anos.

O drama de Maria José, que não tem como adquirir, por R$ 4 mil, uma cadeira com as características necessárias para atender as condições físicas da filha, poderia ser ainda maior não fossem as adaptações feitas pelo marido, Edmilson Miranda, que é serralheiro.

“Ele contou com a ajuda de um amigo, que cursa engenharia, e fez adaptações sem as quais não teríamos como oferecer o menor conforto à Karen, pois a cadeira atual estava literalmente quebrada. Improviso necessário, pois a luxação acentuada no quadril, em contato com o metal, provoca fortes dores, sem contar que uma cadeira dura no máximo quatro anos”, explica Maria José.
 
NOVELA
A precariedade no atendimento do Centro de Órtese e Prótese de Montes Claros já foi denunciada em outras edições por O NORTE. Mas a solução não chega. A situação também é constantemente abordada pelo vereador Valcir da Ademoc (PTB), que cobrou, na Tribuna do Legislativo, mais agilidade da prefeitura.

“Desde o início do mandato estamos na luta, porque o Centro de Órtese e Prótese é serviço credenciado pelo governo e o município entra com a estrutura física. Mas, há dois anos assistimos a uma novela do processo licitatório”, afirma o parlamentar.

Segundo Valcir, há pessoas acamadas, crianças que não têm como ir para a fisioterapia ou para a escola por falta dos equipamentos que deveriam ser fornecidos pela prefeitura. “Espero que, com a licitação que teve empresa vencedora em outubro, a situação seja agilizada”.

A Secretaria Municipal de Saúde foi procurada, mas não respondeu aos questionamentos de O NORTE.

Inoperância pública sacrifica quem precisa
Maria Ivete, de 41 anos, dez deles usando cadeira de rodas, também sente na pele a morosidade do poder público. Moradora do bairro Ciro dos Anjos, ela conta que recebeu uma cadeira, “mas não veio a que necessitava e não se adaptou”.

Como solução, financiou outra pelo Banco do Brasil, através do Crédito Facilidade. Agora precisa de outra. “A minha está desgastada e, na verdade, todo cadeirante necessita de duas. No meu caso, uma para lavar, cozinhar e outra para sair”.
Saber que tem que enfrentar a espera é uma agonia também para Mônica Santos. O filho dela, Salomão, que completa um ano neste mês, nasceu prematuro, de 33 semanas, e precisa usar a cadeira de rodas porque não tem firmeza no tronco e no pescoço.

“Sem a cadeirinha, ele não senta e eu não posso deixar meu filho deitado 24 horas por dia”, lamenta. Ela já sabe que o Centro de Órtese não tem esse equipamento.

Compartilhar
Logotipo O NorteLogotipo O Norte
E-MAIL:jornalismo@onorte.net
ENDEREÇO:Rua Justino CâmaraCentro - Montes Claros - MGCEP: 39400-010
O Norte© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por