Pesquisador divulga projeto que procura difundir o Grande Sertão

Jornal O Norte
16/11/2005 às 10:32.
Atualizado em 15/11/2021 às 08:54

Tendo como presidente o maestro, compositor e pesquisador Armênio Graça Filho e como diretora executiva a agente cultural Elfi Fenske, o Ibraec – Instituto brasileiro de arte, ação, educação e estudos culturais, com sede no Rio de Janeiro, desenvolve o projeto Nas trilhas do Grande Sertão, com apoio da secretaria municipal de Cultura de Montes Claros. O objetivo, segundo Armênio, é pesquisar, documentar, recolher, registrar, disponibilizar e difundir os tocares, cantares e dançares, os pensares, saberes e fazeres do Grande Sertão.

Eis o que diz o projeto:

“Vou lhe falar: lhe falo do sertão. Do que não sei. Um grande sertão! Não sei, ninguém ainda não sabe. Só umas raríssimas pessoas e essas poucas veredas.”

1. Objetivo geral:

O objetivo do presente projeto, que tem por base uma orientação antropológica, é documentar, registrar, recolher e disponibilizar para o conjunto da sociedade, o patrimônio cultural, imaterial e material do Grande Sertão, também por nós chamado: Os tocares, cantares e dançares, os pensares, saberes e fazeres do Grande Sertão, patrimônio este ainda existente em uma área geográfica específica, compreendida pelas mesorregiões: Noroeste de Minas, Norte de Minas, Vale do Jequitinhonha, Vale do Mucuri, Vale do Rio Doce, Metropolitana de BH, Central de Minas e Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba.

1.1 Objetivos específicos:

I. Pesquisar, localizar, recolher, registrar e documentar, o patrimônio cultural imaterial e material do Grande Sertão, também por nós chamado: Os tocares, cantares e dançares, os pensares, saberes e fazeres do Grande Sertão, advindos das populações residentes no Grande Sertão de Minas Gerais. O recolhimento deste vasto material cultural, extraído do patrimônio imaterial e material, será feito com a ajuda de equipes especializadas em etno-musicologia (áudio – gravação digital); antropologia visual (vídeo com captação de imagem digital e fotografia) como também o registro etnográfico de campo, através de entrevistas, anotações, desenhos, esquemas, gráficos etc.

II. Disponibilizar também, o resultado desta pesquisa, para o conjunto da sociedade brasileira, preferencialmente, através da produção de produtos, bens e serviços culturais, ou seja: documentários, CDs, site, livros: de partituras musicais, história oral, ciência sertaneja, culinária do sertão, artesanato, patrimônio histórico e ecológico do Grande Sertão. Esses produtos culturais serão feitos a partir do vasto material cultural extraído do patrimônio imaterial e material resultante do recolhimento, documentação e registro que serão feitos pela ação de campo do projeto. Outro aspecto importante e fundamental é a disponibilização para o conjunto da sociedade, possibilitado, através do fácil acesso, tanto econômico (preço), bem como logístico (farta e continua distribuição nacional).

III. Geração de emprego e renda; ganho financeiro através de práticas culturais, práticas estas das quais as populações da área geográfica em foco são herdeiras, sabedoras, detentoras e guardiãs, buscando com isto a promoção e a melhoria de vida dessas populações carentes, bem como a sobrevivência da cultura popular regional do Grande Sertão.

Acreditamos que, através do conhecimento, contato e fruição desse rico acervo cultural, contido no patrimônio cultural imaterial e material desta região, este gesto, pensado como um elemento sinalizador e sensibilizador para as pessoas, poderá desta forma estar colaborando e estimulando, para que relações solidárias e socialmente mais justas possam e venham a se estabelecer entre o todo da sociedade brasileira, e essas populações sertanejas do Grande Sertão de Minas Gerais.

2. Relevância histórica e cultural

Este será o primeiro projeto que se faz sobre o Grande Sertão e o legado dele advindo e que acreditamos seja pioneiro no Brasil. Com uma visão interdisciplinar, fará a primeira e a mais completa pesquisa na área geográfica, por onde Guimarães Rosa andou, viajou pesquisando, prospectando, recolhendo, preservando e recriando, no veio primordial da cultura do sertão, pois foi o primeiro a perceber a dimensão deste legado. Nós, do projeto Nas trilhas do Grande Sertão, tomando como referência o gesto e a obra de Rosa, faremos o mesmo na música etnográfica/ folclórica como foco e na cultura do sertão de modo geral, como área correlata e afim. E, segundo o ministério da Cultura, em matéria publicada no Jornal do Brasil, em 13 de dezembro de 2000, afirma:

“A dimensão do projeto Nas trilhas do Grande Sertão é a mesma que Mário de Andrade imprimia a suas pesquisas sobre a nossa cultura popular na década de 30. Em outras palavras, o projeto é mais um passo para que o Brasil conheça o próprio Brasil”.

Além disso, o nosso desejo (do projeto) é proporcionar, apoiar e estimular o encontro do artista e seu país, sugerir a importância da oportunidade deste encontro, entre “o pensador, o fazedor de arte”, no dizer de Mário de Andrade, e a cultura popular. Quando toma contato com um valor cultural que lhe é próprio, que lhe diz respeito, que é próprio da sua vida e de sua terra e dá prosseguimento nesta experiência-vivência, dando o seu testemunho do tempo em que vive, que é a obra de arte, faz girar a roda da cultura, e por conseqüência, a vida de uma nação.

O nosso projeto ainda incorpora, como um dos seus principais fundamentos, o conceito de cultura na educação, com inserção social e geração de renda. Nós entendemos que só preservaremos a cultura do Grande Sertão, ou de qualquer outra área, em situação similar de risco de apagamento e/ou aniquilamento cultural, se ela, a cultura, for: um elemento de inserção social experimentada, apreendida e valorizada através das vivências sociais, de cidadania, resultando em uma cidadania cultural, ou seja, a cultura criando um lugar (lócus) comum e possibilitando assim ao indivíduo a experiência vivencial do que é comum a todos (sócios). Esta experiência é proporcionada pela prática cultural das formas, ritos e saberes, emanados e embasados na tradição e na vivência do legado cultural, próprio daquele grupamento humano, transmitido de geração em geração, criando um “lugar cultural”, onde todos se encontram, pois ele, o “lugar cultural”, é a mais perfeita imagem e semelhança sonora, coreográfica ou culinária e a mais comple


ta tradução daquele povo.

Sendo assim, não há estranhamento entre o pessoal e o social, entre o indivíduo, o lócus e o sócios. Há a sinergia proporcionada pela cultura. Essa sinergia predisporá o individuo a uma reciclagem de vida, conseqüentemente de conhecimento e informação, trazendo e oportunizando educação para a sua vida. Todos são um e o um é o todo. Nestas condições estimuladas de “sensibilidade social”, advinda, estimulada e criada a partir de uma prática cultural específica, tanto o indivíduo como o grupo a que ele pertence estão completamente inclinados, propensos e permeáveis a idéias que promovam, reflitam e estimulem o aumento da auto-estima individual e grupal, o gregário, o sentimento de referência e pertencimento cultural e geográfico, idéias e ideais conservacionistas, enfim, a posse e a vivência do que lhe é próprio e a conseqüente utilização dessa experiência vivencial/ cultural, em ferramenta de transformação da sua própria vida.

Como resultado final, ganha o indivíduo e a comunidade, sendo esses ganhos alcançados e proporcionados por práticas que proponham a permeabilidade, a absorção e a adoção de práticas e conteúdos que estimulem e reforcem o gregário, o social, o educacional, o ético, o conservacionista. O justo, o útil, e o bom para todos.

Além das possibilidades acima citadas, o projeto fomentará as potencialidades turísticas da região do Grande Sertão.

O que seria esse turismo cultural e ecológico na área do Grande Sertão? Seria o aproveitamento desse potencial cultural e ecológico da região do Grande Sertão, para a indústria do turismo. Ela, a indústria, transformaria cultura regional e patrimônio ecológico em elementos de motivação, mobilização, captação e sedução de turistas, para o turismo cultural e ecológico regional.

Dentro da cultura e da ecologia da região, serão escolhidas as mais expressivas festas e os mais importantes e representativos sítios ecológicos e históricos. Essas festas e sítios serão posteriormente submetidos a estudos específicos e criteriosos, que avaliarão suas potencialidades ou não como pontos de turismo cultural e ecológico.

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