Perigo está em casa

Armazenamento de água sem vedação adequada é o principal vilão

Manoel Freitas
O Norte - Montes Claros
25/01/2020 às 07:02.
Atualizado em 27/10/2021 às 02:25
 (MANOEL FREITAS)

(MANOEL FREITAS)

A exemplo do líder em infestação – o Maria Cândida –, os bairros Maracanã (31,6%) e Monte Sião (28,9%), distantes 5,9 km e 8,4 km, respectivamente, do Centro da cidade, contabilizam várias áreas propícias à reprodução do mosquito. Novamente, os terrenos abandonados e mesmo aqueles murados, com mato alto e sem possibilidade de acesso para os agentes sanitários, escondem o perigo. Mas dentro das casas e nos quintais estão as situações mais preocupantes. 

No Grande Maraca-nã, que engloba parte do Major Prates e o bairro São Geraldo II, foram coletadas, só na última segunda-feira, 34 amostras suspeitas de conterem larvas do Aedes aegypti. A informação é do ex-supervisor de equipe de combate à dengue Édson Rodrigues, a quem compete, na atualidade, condensar os dados aferidos pelos agentes de saúde.

“Por serem suspeitas, as enviamos o mais rápido possível para o Centro de Controle de Zoonoses, porque é de acordo com o índice de infestação que apontarem é que a saúde desloca as equipes para fazerem o trabalho, hoje concentrado no bairro Maracanã I, que é o quarto colocado (em infestação)”, explica.

ÁGUA ARMAZENADA
No conjunto residencial Monte Sião, com quase 500 domicílios, o índice de infestação é o quinto maior da cidade. Mas, para o agente sanitário Carlos de Jesus Santos, a taxa deve ser ainda maior. “Ao meu ver, a incidência aqui atinge 95% das casas, porque a população local não tem o hábito de trocar a água dos recipientes usados para armazenamento do produto, principalmente depois do racionamento imposto pela Copasa”, diz.

Carlos conta que achou um foco em caixa d’água de mil litros. “Mas a proprietária da casa limpou e encheu novamente. Nós a instruímos a armazenar apenas o que vai usar, cerca de 200 litros, por exemplo. Mas tanto aqui como no bairro Village do Lago, nos deparamos a cada inspeção com lona, churrasqueira, piscina, pneu, lata, vaso, laje, calha, tanquinho, bacia e até fogão depositados a céu aberto. E muitas vezes é a população que acaba jogando”, alerta.

O NORTE acionou a Assessoria de Comunicação da prefeitura e a própria secretária de Saúde, Dulce Pimenta, para saber quais ações estão sendo feitas para evitar que o município enfrente uma epidemia de dengue novamente neste ano. Questionou também a possibilidade de decretar emergência, até para que seja possível entrar em imóveis e lotes fechados. Mas, até o fechamento desta edição, não foi dada qualquer resposta.


Medo ao redor dos focos
Apesar da queixa dos moradores do Maria Cândida com relação aos lotes vagos, foi na casa de um morador, na rua Franklin Tayvora, que O NORTE encontrou um quadro que justifica o fato de o bairro liderar o ranking de infestação do mosquito.

Já na entrada, garrafas long neck indicavam o que viria pela frente: focos espalhados pelos quatro cantos do terreno do aposentado Paulo Roberto Nobre, de 64 anos.

“Aqui tem um monte de lixo, mas a prefeitura disse que não recolhe mais e eu não tenho dinheiro para pagar carreto, portanto, jogo lá fora (na calçada) tudo o que você está vendo aqui”, diz Paulo Roberto.

Ele alega que mora sozinho e não tem condições de fazer a limpeza do local. “Ganho pouco mais de R$ 800 por mês e não tenho condições financeiras para descartar isso aqui”, afirma, apontando para muita água acumulada em tanques, baldes e materiais oriundos de reciclagem, que são um convite para o Aedes aegypti colocar os ovos.
 
APREENSÃO 
Enquanto Paulo Roberto alega não ter dinheiro para fazer a limpeza necessária no quintal e na calçada, o vizinho dele, o mecânico Waldemar Lopes de Jesus, pai de três filhos, está apavorado.

“A coisa aqui está feia. Todos estamos preocupados porque, só na casa do Paulinho tem foco para prejudicar todo mundo”, afirma. Waldemar diz que na rua todos reclamam, mas o aposentado age toda vez do mesmo jeito: “pega o lixo e o entulho lá do fundo e joga na frente da casa. “Penso que a situação só será resolvida se as autoridades tomarem providências”, ressalta.

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