Pandemia escancara saúde frágil em Montes Claros

Cidade possui 99 UTIs, número insuficiente em uma explosão de casos

Márcia Vieira
O Norte
Publicado em 18/04/2020 às 05:22.Atualizado em 27/10/2021 às 03:18.
 (Divulgação)
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Com o aumento das notificações de Covid-19 em Montes Claros, a Secretaria Municipal de Saúde teme o colapso do sistema público para atendimento à população. O risco maior é que faltem leitos para atender a demanda da região em uma eventual explosão de casos.

Atualmente, a cidade possui 19 leitos no Hospital Universitário, 20 no Hospital das Clínicas Mário Ribeiro, 30 na Santa Casa, dez leitos no Aroldo Tourinho, dez no Dílson Godinho e dez no Prontosocor, somando 99 leitos para a população local de mais de 400 mil habitantes e demais municípios da região.

Na manhã desta sexta-feira, já eram contabilizados cinco casos confirmados da doença, mas com 271 ainda em investigação. A secretária de Saúde, Dulce Pimenta, voltou a pedir à população que reforce o isolamento social. Segundo ela, a única maneira de conter a pandemia.

O último boletim informa que há 13 pessoas internadas no momento, sendo uma delas de Capitão Enéas. “Há uma falta de teste no país como um todo. Aqui no Norte de Minas isso é pior ainda. Não temos disponíveis testes para fazer diagnóstico de todos os casos suspeitos. É importante colocar que o isolamento social é a melhor medida, assim como a higienização”, admitiu a secretária, acrescentando que “o relaxamento pode ter como consequência o aumento exagerado no número de casos e, com isso, haver um caos no serviço de saúde”.

A princípio, a possibilidade de instalar um hospital de campanha no município está descartada pela prefeitura, que alega não ter recursos suficientes para montar o espaço. A alternativa seria a ampliação da rede.

“O número de leitos que temos disponíveis não será suficiente para atender o número de casos que vão agravar. Quem fez hospital de Campanha em todo o país foi com mobilização da sociedade civil, de empresários e indústrias que ajudaram. Em Montes Claros temos uma área com essa possibilidade, que seria a UPA. Estamos fazendo levantamento de equipamentos que precisamos e, quando não tivermos mais como expandir a rede, abriríamos estes leitos”, disse.

TESTES
Outro ponto de combate seria a realização de testes para diagnóstico, mas estes esbarram também no gerenciamento dos recursos e fornecedores de matéria-prima. A secretária afirmou, em entrevista, que o Estado habilitou o laboratório do HU para realizar os exames, mas não garantiu os insumos necessários, por isso eles ainda não foram iniciados.

O recurso que teria vindo de indústria para a compra de testes para a população foi cedido para a compra de insumos ao laboratório do HU. “O desafio é conseguir o fornecedor para entrega dos insumos. Os que foram contatados pediram prazo de 40 a 45 dias. Mesmo com recursos de voluntários, a gente não tem garantia de entrega dos insumos e o prazo pedido vai comprometer o nosso planejamento”, pontuou a secretária Dulce Pimenta.

MOC teria respiradores para montar UTIs
Na manhã desta sexta-feira, o ex-prefeito de Montes Claros Ruy Muniz questionou onde estariam 90 respiradores que foram doados ao Hospital Universitário em anos anteriores. Muniz afirma que se os aparelhos forem colocados imediatamente em funcionamento, há uma grande possibilidade de salvar vidas na região.

Há informações de que apenas 19 equipamentos estariam em funcionamento no HU. Do número restante,30 teriam sido doados a hospitais de Montes Claros e região.

“Querendo ou não, o destino colocou mais 90 respiradores em Montes Claros. São equipamentos que dariam para montar 90 leitos de UTI, que podem ser instalados imediatamente. Isso é a salvação. Vamos concentrar esforços para consertar se, por ventura, tiver algum quebrado, como fomos informados. Temos equipamento que outras cidades estão lutando para ter. Priorizem isso”, disse Ruy Muniz.

O ex-prefeito alertou ainda para o fato de que está aumentando a velocidade de transmissão do vírus. Ele estima que cerca de 80% da população não terá nada, mas 15% poderá ter sintomas leves e 5% vão precisar de internação, o que é suficiente para criar um caos no sistema.

“Pedimos aos gestores de saúde, às autoridades, para que estes leitos sejam instalados e colocados à disposição da população. Com mais 90 leitos poderíamos dobrar a capacidade de proteção ideal para a população. Estamos aqui para discutir estrutura para salvar vidas”, reforçou Muniz.

Em nota, o Estado afirmou que “em relação aos 86 municípios que integram a região ampliada de saúde do Norte de Minas a SES está em fase final de análise e definição dos leitos que serão disponibilizados para atendimento de pacientes com Covid-19. Essa avaliação envolve as referências técnicas da SES, prestadores de serviços hospitalares e o Conselho de Secretários de Saúde de Minas Gerais (Cosems)”.

O Hospital Universitário Clemente de Faria informou, por meio de nota, que “todos os equipamentos recebidos em doação foram instalados e passaram a integrar o suporte tecnológico do HUCF”.

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