Norte sem referência para o tratamento da leishmaniose

Conselho de Saúde quer contratação de cem agentes para combater doença

Manoel Freitas Repórter
O Norte - Montes Claros
11/02/2020 às 15:20.
Atualizado em 27/10/2021 às 02:35
 (MANOEL FREITAS)

(MANOEL FREITAS)


Com uma população canina vivendo nas ruas da cidade estimada em cerca de 9 mil animais e 11 mortes de pessoas por leishmaniose nos últimos cinco anos, Montes Claros entra em mais uma situação de alarme por causa da doença. Um embate entre autoridades de saúde e o Hospital Universitário Clemente de Faria, até então referência em atendimento às vítimas da leishmania, pode deixar o município sem esse tipo de serviço.

O hospital, administrado pela Unimontes, pediu ao Conselho Municipal de Saúde para deixar de ser referência para o tratamento da leishmaniose visceral (calazar) no Norte de Minas. A alegação da unidade de saúde é a dificuldade de contratar infectologista.

No entanto, na tarde de ontem, em entrevista a O NORTE, Joaquim Francisco de Lima, presidente do Conselho Municipal de Saúde, garantiu que o colegiado não aceita essa posição do hospital, “por ser 100% SUS, hospital-escola e por ter um compromisso social com a população do Norte de Minas”.
Joaquim observou ser preocupante a posição tomada pelo Hospital Universitário, principalmente em função dos números divulgados pelo Sistema de Informação de Agravos de Notificação, segundo o qual, nos últimos cinco anos, foram notificados mais de 500 casos de leishmaniose visceral na Macrorregião Norte de Minas, dos quais 146 casos em Montes Claros, com 11 óbitos.
 
NOTIFICAÇÃO
Diante da gravidade da situação, o Conselho Municipal de Saúde, depois de notificar muitas vezes a Secretaria Municipal de Saúde, decidiu acionar o Ministério Público para que o prefeito Humberto Souto seja notificado no sentido de contratar cem novos agentes de controle de endemias.

Essa seria uma forma de amenizar o quadro de total precariedade do setor de zoonoses para o tratamento com a leishmaniose. Mantido pela Prefeitura de Montes Claros, o Centro de Controle de Zoonoses, no bairro Santa Lúcia II, é o retrato do abandono.

O NORTE foi até o local e encontrou apenas um animal nos cinco canis disponíveis. A “carrocinha”, que em administrações anteriores recolhia os cães para evitar superpopulação nas ruas, está encostada no pátio onde veículos sucateados se misturam a cascos em ambiente tomado pelo mato.

Um servidor municipal confirmou que os canis recebem, “no máximo, de dez a 15 animais doentes, isso, se os proprietários apresentarem laudos de veterinários”.
“Deveríamos ter mais agentes nesse setor. Não que a dengue seja menos importante, mas eu me preocupo muito com a questão da leishmaniose”, disse a médica veterinária Adriana Sá.
“Antigamente se combatia o mosquito-palha, ou flebotomíneo, transmissor da leishmaniose, por área. Mas hoje isso só é feito onde há o foco, onde ocorreu o caso humano, ou seja, diante de um problema mais sério”, explica a veterinária.

Adriana destaca que tirar os animais das ruas e matá-los “não vai resolver o problema. É preciso ir diretamente à raiz, ou seja, deveria acontecer um trabalho mais sério em cima do transmissor”.
 
HOSPITAL
Em nota, o Hospital Universitário Clemente de Faria informou que nos dois últimos anos diagnosticou 295 pacientes com a doença, com sete óbitos. Por outro lado, esclareceu que “mantém todos os atendimentos legalmente pactuados com a Secretaria

Municipal de Saúde, que cumpre e cumprirá com todos os contratos vigentes com o órgão”.

Atesta que, no caso específico da leishmaniose, o atendimento é via pronto-socorro, “conforme o perfil do paciente e seguindo a classificação de risco e as normatizações relacionadas, de acordo com o Protocolo de Manchester”.

O hospital informou ainda “que não há pactuação ou cadastramento específico de leitos para casos de leishmaniose no âmbito do HUCF, portanto não há como descredenciar algo que jamais foi credenciado, como chegou a ser divulgado erroneamente”, reforçando que “foge da competência do hospital discutir credenciamento ou reorganização de rede, função esta que é do município e de outros órgãos”.

A reportagem de O NORTE procurou a secretária Municipal de Saúde, Dulce Pimenta, e a Secretaria de Comunicação Social do município, mas não obteve retorno até o fechamento desta edição. 

O Conselho Municipal de Saúde, depois de notificar muitas vezes a Secretaria Municipal de Saúde, decidiu acionar o Ministério Público para que o prefeito Humberto Souto seja notificado no sentido de contratar cem novos agentes de controle de endemias
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