Norte calcula peso do pedágio

Tarifas começarão a ser cobradas em 1º de abril e vão impactar no custo de vida da região

Carlos Castro Jr - Manoel Freitas
19/03/2019 às 07:45.
Atualizado em 05/09/2021 às 17:51
 (Manoel Freitas)

(Manoel Freitas)

O anúncio do início da cobrança do pedágio na BR-135, a partir de 1º de abril, e a divulgação pela concessionária dos valores a serem praticados assusta os norte-mineiros e já faz empresas e entidades representativas do setor produtivo preverem um aumento do custo de vida na região.

A rodovia liga o Norte à região Central de Minas e está sendo gerenciada pela Eco135, vencedora da concessão e, portanto, responsável por administrar 363,95 quilômetros da estrada. As tarifas variam de R$ 3,60 a R$ 43,20 – de acordo com o tipo de veículo. São seis praças de pedágio entre Montes Claros e Belo Horizonte – cinco pela 135 e uma pela LMG-754, em Curvelo.

Para se ter uma ideia, um carro de passeio que for de Montes Claros até Belo Horizonte, passará por cinco novas praças, ao preço de R$ 7,20, além da praça já instalada na BR-040, cuja tarifa custa R$ 5,30. Ao todo serão gastos R$ 41,30 por trecho, ou R$ 82,60 ida e volta. Para quem precisa ir mais de uma vez ao mês à capital mineira, o custo pesará no orçamento.

No entanto, o reflexo da cobrança da tarifa vai muito além do bolso do motorista. Ele impactará no preço do frete, das passagens de ônibus intermunicipais, no valor dos produtos do agronegócio que precisam ser transportados de uma cidade para outra.

De acordo com o economista Aroldo Rodrigues, é inevitável que as novas praças gerem efeito no preço final dos produtos, pois haverá aumento no preço do frete.

“Considerando que a BR-135 é uma importante ligação rodoviária para Montes Claros, e que vários produtos e insumos chegam através dessa rodovia, um aumento de custo é repassado no preço final. É bem provável que se tenha um aumento sim”, avalia.
 
PREOCUPAÇÃO
A previsão entre os setores produtivos não é otimista. O presidente do Sindicato Rural de Bocaiuva, Mario Caldeira Brant, afirmou que os produtores da região estão preocupados com as tarifas. Na cidade e no entorno, a maior parte da produção é de mel e leite, que são entregues em Montes Claros, Sete Lagoas e Belo Horizonte.

“Estamos vendo tudo isso com muita preocupação. Já somos uma região abandonada, muito sofrida. Já temos problemas com energia, estradas de terra, além da falta de chuva”, reclamou.

A Sociedade Rural de Montes Claros deixou claro que não é contra os pedágios, desde que a rodovia onde tenha cobrança esteja em bom estado de tráfego e ofereça segurança.

“O questionamento sobre as taxas na BR-135 se deve a dois fatores: o estado atual da estrada e o valor da tarifa. O justo, neste primeiro momento, seria uma cobrança simbólica até a reconstrução total da via que liga Montes Claros à capital mineira”, afirma o presidente da entidade, José Luiz Veloso Maia.
 
CUSTO ALTO
O presidente do Sindicato das Empresas de Cargas do Norte de Minas (SindiNorte), Antônio Henrique Sapori, concordou que são inúmeras as melhorias, mas ponderou que os pedágios vão causar impacto na economia. “Será um pagamento (da tarifa) em dinheiro e vai impactar na produção e na logística, sem dúvida nenhuma”, disse.

O presidente do Sindicato Rural de Montes Claros, José Avelino Pereira Neto, alertou que a consequência será sentida no preço dos produtos.

“Estamos achando o custo dos pedágios muito alto. Para se ter um exemplo, na Fernão Dias paguei R$ 2,40, com intervalo muito maior de uma praça pra outra. O frete vai se tornar mais caro para nossa região. Um valor muito exorbitante, principalmente pelo número de praças. É preciso rever esses valores”, afirma.

Motorista desiste da rota
Na primeira praça de pedágio, na altura do km 399, o motorista Marley Rodrigues de Matos disse que não vai mais fazer frete para Montes Claros.

Ele transporta cervejas de Sete Lagoas e, de ida e volta, pagará 12 pedágios. “É muito dinheiro, não compensa”, lamenta, observando ser voz corrente entre os caminhoneiros que a cobrança das taxas vai inviabilizar a prestação do serviço.

Com 33 anos e nove como motorista, revelou que pela primeira vez vai deixar de fazer uma rota em função das tarifas.

Os reflexos da cobrança de seis pedágios de Belo Horizonte a Montes Claros serão sentidos, também, no maior centro de abastecimento de verduras e frutas do Norte de Minas, a Ceanorte.

Um dos grandes distribuidores, Vander Nunes, há 30 anos no mercado, admite que a rodovia bem conservada significa menos custo de manutenção dos veículos e a certeza de que os produtos que adquire na capital chegarão mais cedo ao Norte de Minas.

No entanto, o consumidor pode pagar a conta. “Adquirimos o que é produzido em Jaíba, que segue fretado para Belo Horizonte e depois retorna a Montes Claros, agora, com novos custos de transporte”.

SAIBA MAIS
R$ 1,9 bilhão investidos

A ECO135 afirma que estão previstos investimentos de R$ 1,9 bilhão e que a concessionária emprega diretamente mais de 200 profissionais operacionais e administrativos e que indiretamente foram abertos mais de 1.300 postos de trabalho. Disse ainda que as equipes operacionais já atendem aos usuários das rodovias BR-135, LMG-754 e MG-231 desde dezembro de 2018, duas semanas antes do prazo estipulado em contrato de concessão.

De acordo com a ECO135, ao longo do trecho, são cinco bases de Serviço de Atendimento ao Usuário (SAU) equipadas com sanitários, fraldário e totens de autoatendimento. São nessas bases que ficam alocadas as ambulâncias equipadas, socorristas de plantão e médico no Centro de Controle Operacional, que pode ser acionado 24 horas. Além de guinchos, inspeções de tráfego e veículos para apreensão de animais e combate a incêndios. Todos esses recursos já somaram mais de 2 mil atendimentos gratuitos.

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