Nenhum poeta merece nome de ruas como as do Planalto: bairro de Moc envergonha ícones da literatura mundial, como Castro Alves e Luís Vaz de Camões

Jornal O Norte
26/04/2006 às 10:52.
Atualizado em 15/11/2021 às 08:33

Samuel Nunes


Repórter


samuelnunes@onorte.net

Montes Claros, como outras cidades espalhadas pelo Brasil, tem algumas peculiaridades e tradições. Um exemplo são os nomes de bairros e de vias públicas. No caso especifico de ruas, um bairro em Montes Claros tem um dado considerado curioso e, ao mesmo tempo, relevante no que diz respeito ao orgulho dos moradores em morar em locais que levam o nome de poetas. É isto mesmo. No Bairro Planalto I, cinco ruas têm essa peculiaridade. As ruas são: Cecília Meireles, Castro Alves, Manoel Bandeira, Vinicius de Morais e Luis de Vaz Camões. Antes, essas ruas levavam nomes de letras, contudo, a partir de 1985 mudou-se para nomes de poetas, mudança esta proposta pela câmara de vereadores de Montes Claros.

O Norte até que tentou saber de maneira precisa quem foi realmente o autor da idéia, no entanto, não obteve êxito nessa intenção. A última informação é de que a autorização foi dada pela câmara municipal. É válido ressaltar que alguma dessas ruas não tem placa de identificação.

CECÍLIA MEIRELES

Filha de Carlos Alberto de Carvalho Meireles, funcionário do Banco do Brasil, e de dona Matilde Benevides Meireles, professora municipal, Cecília Benevides de Carvalho Meireles nasceu em 07 de novembro de 1901, na Tijuca, Rio de Janeiro. Foi à única sobrevivente dos quatros filhos do casal. Conclui seus primeiros estudos - curso primário - em 1910, na escola Estácio de Sá, ocasião em que recebe de Olavo Bilac, inspetor escolar do Rio de Janeiro, medalha de ouro por ter feito todo o curso com “distinção e louvor”. Falece no Rio de Janeiro a nove de novembro de 1964, sendo-lhe prestadas grandes homenagens públicas. Seu corpo é velado no ministério da Educação e Cultura. Esta é uma síntese da vida da escritora e poeta Cecília Meireles, que empresta o seu nome a uma rua do Bairro Planalto I.




Cecília Meireles, certamente, ficaria muito deprimida


com o nome de sua rua no Planalto...



(fotos: Wilson Medeiros)

A secretária Joaquina Freitas Lima é moradora do bairro há 22 anos e trabalha na escola estadual Dilma Quadros, localizada na Rua Cecília Meireles. Se porventura a professora e escritora Cecília Meireles estivesse viva, ela ficaria triste em saber que, bem em frente ao lugar onde se aprendem as primeiras letras, que é na escola, alunos e funcionários convivem com poeira e lama. 

Parte da Rua Cecília Meireles tem asfalto, no entanto, justamente um trecho que passa em frente à escola ainda não tem nem mesmo calçamento.

Joaquina Freitas Lima diz que, em período de chuvas, a lama toma conta, e na seca, acontece o contrário, que é a poeira. Ela ressalta que tanto a poeira quanto a lama têm atrapalhado quem trabalha ou estuda na escola estadual Dilma Quadros.

Outra queixa dos moradores é quanto à quadra poliesportiva do Planalto, que não tem sido útil aos moradores. Uma das laterais da praça também faz parte da Rua Cecília Meireles. O que se vê é muito mato, lixo, quadra que não possui traves, falta de iluminação, enfim, um completo abandono. Outra reivindicação feita por Joaquina é quanto aos horários de ônibus. Ela entende que é preciso um controle de horários, pois a espera é por demais demorada.

VINICIUS DE MORAIS

Marcus  Vinicius de  Melo  Moraes nasceu em 19 de outubro de 1913, no Rio de Janeiro. Estudou Direito no Rio e  Literatura em Oxford (EUA). Também   se interessava  por cinema, tendo  sido crítico e censor cinematográfico. Ingressou na carreira  diplomática em 1943, carreira que acabaria trocando pela de músico profissional, tornando-se uma das figuras exponenciais da Bossa Nova. Vinícius morreu aos 66 anos, no dia nove de julho de 1980, em sua casa, no Rio de Janeiro.

Pedro Nogueira Peixoto é morador do Bairro Planalto há pelo menos 30 anos e reside exatamente na rua que leva o nome de um dos mais renomados músicos que o Brasil já teve. No entanto, Pedro Nogueira não tem muito que cantar em sua casa, pois a situação da rua onde mora não é das melhores. Os moradores convivem com terra, lama e poeira, e solicitam à prefeitura uma solução para esse e outros problemas que a secretaria municipal de Serviços Urbanos faz questão de ignorar, apensar de constantemente solicitada.

RUAS DE PÉ QUEBRADO

A reportagem de O Norte percorreu outras ruas do Bairro Planalto e o que percebeu foi que o que denominamos de rua está longe de ser realidade. Algumas estão intransitáveis, prejudicando o acesso à Avenida Osmane Barbosa.

O comerciante Floriano Gomes Fonseca reside no Planalto há 21 anos e lembra que, se porventura algum desses poetas estivesse vivo e visse o estado dessas ruas que levam seu nome, ele ficaria com vergonha: é uma verdadeira rima de pé quebrado, ou melhor, rua de pé quebrado...

Floriano critica ainda o estreitamento da Avenida Osmane Barbosa. Segundo ele, é nítido o estreitamento dessa avenida em aproximadamente dois metros, resultando em mais acidentes, uma vez que praticamente não existe passagem para pedestres.

Ele conta que faltam pavimentação, meios fios e segurança nas nada poéticas ruas do bairro.  Floriano enumera à reportagem de O Norte as ruas do bairro que carecem de um olhar da administração municipal, que parece nada entender ou não gostar de literatura, como o secretário Jessé Lima.

Outro morador que prefere não se identificar diz que é uma vergonha homenagear um poeta com uma rua em estado precário, como é o caso de algumas ruas do bairro que leva o nome de grandes figuras da literatura brasileira.

São elas: Justino Câmara – necessita de asfaltamento

Lucas Bezerra – parte da rua não tem asfaltamento

Osvaldo Teixeira – Está intransitável – necessita de calçamento e asfalto

Cecília Meireles – Parte da rua não tem nem mesmo calçamento.

Castro Alves – Esburacada, sem pavimentação, entregue a cobras e lagartos.

PALAVRA DO VICE-PRESIDENTE

O Norte ouviu também o vice-presidente da Associação dos moradores do Bairro Planalto, Enedino Vieira, que mora há 20 anos no bairro. Ele diz que falta o asfaltamento dessas ruas e sinalização em alguns cruzamentos, pois é alto o índice de acidentes.

LADO DA PREFEITURA

Sobre os pedidos dos moradores do Planalto, a informação que O Norte obteve é que a prefeitura de Montes Claros, por meio da secretaria de Planejamento, depende de recursos que a administração vem tentando conquistar por meio de convênios com o governo federal e com o governo do estado. Nada se fala sobre a arrecadação do IPTU, que deveria ser aplicado na melhoria das condições de vida da população.




Rua Gentil Gonzaga, também no bairro Planalto

Sobre o mato alto que toma conta das ruas dos poetas, a secretaria de Serviços Urbanos informa que o cronograma de roçamento foi retomado com o fim do período do chuvoso. Outra informação passada pela Ascom é que a prefeitura está adquirindo, por meio de licitação, uma nova roçadeira mecânica para ampliar os trabalhos. Por fim, no que diz respeito à iluminação pública, a prefeitura informa que, em cumprimento a convênio firmado entre a administração municipal e a Cemig, até o final de 2006 Moc terá 100% de iluminação.

CASTRO ALVES NÃO MERECIA UMA RUA COM ESTE NOME

Aos quatorze dias do mês de março de 1847 nasceu Antônio de Castro Alves, na fazenda Cabaceiras, a sete léguas da Vila de Curralinho, hoje cidade de Castro Alves. Era filho do Dr. Antônio José Alves e D. Clélia Brasília da Silva Castro. Passou a infância no sertão natal, e em 54 iniciou os estudos na capital baiana. Aos dezesseis anos foi mandado para o Recife. Ia completar os preparatórios para se habilitar à matrícula na Academia de Direito. A liberdade aos 16 anos é coisa perigosa. O poeta achou a cidade insípida. Em São Paulo, nos fins de 68, feriu-se num pé com um tiro acidental por ocasião de uma caçada, do que resultou longa enfermidade, em que teve o poeta que se submeter a várias intervenções cirúrgicas e finalmente à amputação do pé. O depauperamento das forças conduziu-o à tuberculose pulmonar, a que sucumbiu em 71 no sertão de sua província natal.

E MUITO MENOS MANUEL BANDEIRA

Manuel Carneiro de Souza Bandeira Filho nasceu no Recife no dia 19 de abril de 1886, na Rua da Ventura, atual Joaquim Nabuco, filho de Manuel Carneiro de Souza Bandeira e Francelina Ribeiro de Souza Bandeira. Em 1903, a família se muda para São Paulo, onde Bandeira se matricula na Escola Politécnica, pretendendo tornar-se arquiteto. Estuda também, à noite, desenho e pintura com o arquiteto Domenico Rossi no Liceu de Artes e Ofícios. 

Começa ainda a trabalhar nos escritórios da Estrada de Ferro Sorocabana, da qual seu pai era funcionário. No final do ano de 1904, o autor fica sabendo que está tuberculoso, abandona suas atividades e volta para o Rio de Janeiro.  Em 1940 é eleito para a Academia Brasileira de Letras, na vaga de Luís Guimarães Filho. No dia 13 de outubro de 1968, às 12 horas e 50 minutos, morre o poeta Manuel Bandeira, no Hospital Samaritano, em Botafogo, sendo sepultado no Mausoléu da Academia Brasileira de Letras, no Cemitério São João Batista.

QUE DIZER, ENTÃO, DE LUÍS DE CAMÕES?

1524 ou 1525: Datas prováveis do nascimento de Luís Vaz de Camões, talvez em Lisboa. Poeta português. As informações sobre a sua biografia são relativamente escassas e pouco seguras, apoiando-se num número limitado de documentos e breves referências dos seus contemporâneos. Da obra de Camões foram publicados, em vida, três poemas líricos, uma ode ao Conde de Redondo, um soneto a D. Leonis Pereira, capitão de Malaca, e o poema épico Os Lusíadas. Amplamente traduzido e admirado, é considerado por muitos a figura cimeira da língua e da literatura portuguesas. Sua morte, segundo consta, aconteceu em 1580.

Compartilhar
Logotipo O NorteLogotipo O Norte
E-MAIL:jornalismo@onorte.net
ENDEREÇO:Rua Justino CâmaraCentro - Montes Claros - MGCEP: 39400-010
O Norte© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por