Motoboys têm demanda ampliada, mas estão expostos à contaminação pelo coronavírus

Christine Antonini
O Norte
03/04/2020 às 00:21.
Atualizado em 27/10/2021 às 03:10
 (Christine Antonini)

(Christine Antonini)

Desde o início da pandemia do coronavírus no país, o serviço de delivery tem sido a principal saída para empresas amenizarem as perdas com o fechamento do comércio e para o consumidor receber produtos em casa, pois precisa ficar em isolamento. O trabalho dos motoboys, então, está a todo vapor. E, com isso, eles ficam mais expostos aos riscos de contaminação – ou de transmitirem o vírus.

Em Montes Claros, após o decreto municipal, comércios tiveram que fechar as portas e somente o serviço de entrega foi liberado. A circulação de motoboys aumentou na cidade, que está com fluxo reduzido de veículos e pessoas, assim como o serviço de bikeboy – meio de entrega que veio como um alívio para quem vive do trabalho informal e ganhou uma oportunidade para aumentar a renda.

Entretanto, esses profissionais ficam expostos a um possível contágio pelo vírus, pois precisam ter contato com os clientes ao entregar o produto e receber o pagamento.

Para tentar proteger os entregadores, as empresas aderiram ao “Entrega sem Contato”, que recomenda que o entregador não entre nos condomínios, deixe o produto exposto para que o cliente possa pegar, muitos andam de máscara e levam álcool em gel para higienizar as mãos e objetos.

“Não tem jeito. Temos que trabalhar e fazemos o que podemos para nos precaver. Os clientes também entendem a situação e não importam em adotar certas medidas”, ressalta o motoboy Flávio Brum e Souza. 

Valdir Ramos Filho trabalha como mototáxi há cinco anos. Nesse período, ampliou a atuação fazendo entregas. “Nossa! O aumento foi grande no número de viagens. Além de fazer entregas particulares, me cadastrei em um aplicativo que faz delivery de comida. Faço mais de 30 entregas diárias”, conta o motoboy, que diz tomar os cuidados necessários para se proteger do vírus.
 
RESPONSABILIDADE
No último dia 18, o Ministério Público do Trabalho (MPT) emitiu a Nota Técnica nº 01/2020, que determina às empresas de transporte de passageiros e de transporte de mercadorias que funcionam por plataformas digitais a distribuição de produtos e equipamentos necessários à proteção e desinfecção. A norma também deixa claro que é obrigação das empresas “providenciar espaços para a higienização de veículos, bem como credenciar serviços de higienização, e, no caso de veículos locados, buscar negociar a higienização junto às locadoras, sem ônus para os trabalhadores”.

Em informação repassada à Agência Brasil, o iFood, uma das principais empresas nacionais de delivery, disse que tem encaminhado aos entregadores mensagens que orientam a limpar as bolsas de armazenamento dos alimentos e a entregar as encomendas sem ter contato físico com os clientes, deixando-as em locais como caixas de correio.

Os clientes, por sua vez, são estimulados a efetuar pagamento pelo aplicativo. “O mês de março continua com muitos pedidos! Se tiver algum problema com o pedido ou desejar fazer a entrega sem contato físico, use o chat ou telefone para falar com o seu cliente”, diz uma das mensagens endereçadas aos entregadores.
 
LEGISLAÇÃO
De acordo com o advogado trabalhista Nestor Rodrigues, diante do cenário imposto pela Covid-19 e com as mudanças nas leis do trabalho, algumas situações têm sido aceitas para evitar a demissão, como o remanejamento de funcionário. “O empregado pode entrar em acordo com o empregador e aderir às mundanças de função. Não se faz necessário a participação dos sindicatos, ressaltando que não pode abrir mão dos direitos indisponíveis, constitucionais. Quanto à redução do salário, só pode ser feito se houver algum benefício para o empregado. Por exemplo, exigir que o funcionário trabalhe meio expediente e receber 50% do salário”, explica Rodrigues.  

Para sair do aperto
Dono de um restaurante italiano na cidade, Andrea Carpentieri se reinventou nessa pandemia. Ele já oferecia o serviço de delivery de alguns pratos, agora trabalha com a linha de congelados. A comida que era oferecida no restaurante chega às casas em uma embalagem personalizada com a marca do Bottega Coppolla. Com a adaptação de Andrea, o serviço de entrega em domicílio aumentou e, com isso, ele remanejou alguns funcionários. O garçom e ele fazem o delivery e os outros ajudam na cozinha.

“Fizemos ‘milagre’, pois em uma semana tivemos essa ideia, elaboramos as embalagens, fizemos os testes dos pratos e depois divulgamos”, destaca o empresário, que estima prejuízo de R$ 25 mil caso o estabelecimento fique fechado até o fim de abril. 

O empresário Daniel Froes, que vende peças automotivas, ampliou o delivery. “Tínhamos o serviço de entrega, porém era reduzido. Agora, remanejei um atende meu para ajudar na entrega”, pontua Froes, que teve queda de 70% nas vendas.

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