MOC tem predador do Aedes

Larva do mosquito encontrado na cidade come até 30 larvas do vetor da dengue por dia

Christine Antonini
Montes Claros
25/07/2018 às 07:31.
Atualizado em 10/11/2021 às 01:35
 (FOTOS DIVULGAÇÃO UNIMONTES)

(FOTOS DIVULGAÇÃO UNIMONTES)

Uma solução promissora de combate à reprodução do mosquito Aedes aegypti – transmissor da dengue, chikungunya, zika e febre amarela – pode estar na própria natureza. Estudo desenvolvido por pesquisadores da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes) identificou na área urbana de Montes Claros um dos mais vorazes predadores biológicos da larva do Aedes, o mosquito Toxorhynchites theobaldi.

A descoberta da espécie no município do Norte de Minas surpreendeu os pesquisadores, pois a incidência é mínima em regiões mais secas, de baixa média pluviométrica. O inseto é comum em ambientes úmidos, como em áreas de Mata Atlântica, no Leste e na Zona da Mata mineira.

E o poder de combate do pequeno mosquito contra o Aedes – considerado o terror da atualidade – é gigante. Para se ter uma ideia, uma larva do Toxorhynchites pode matar mais de 30 larvas de Aedes num único dia.

Um rival importante que pode ajudar a controlar o vetor de tantas doenças. Somente até a primeira quinzena de julho, foram registrados 22.717 casos de dengue em Minas – média de 124 por dia. Cinco mortes já foram confirmadas e 12 estão sendo investigadas. Em Montes Claros, o número no primeiro semestre é quase três vezes maior do o registrado em todo o ano passado – 585 contra 207.

E a grande preocupação das autoridades de saúde é que os últimos dados do Levantamento Rápido de Índices de Infestação pelo Aedes aegypti (LirAa) mostraram que quase 60% das cidades mineiras estão em estados de alerta ou risco para surtos de dengue, zika e chikungunya. O perigo ronda 492 localidades.

Em Montes Claros, o índice de infestação é de 8% – até 1% é considerado satisfatório, entre 1% e 3,9% é estado de alerta e, acima de 4%, risco de surto. Outros 28 municípios da região estão sob a mesma ameaça.
 
ESTUDO
A pesquisa que teve início neste ano faz parte do trabalho de conclusão de curso da acadêmica em biologia Júlia Gomes Cardoso, sob orientação do professor Magno Augusto Zaza Borges.

Os estudos estão sendo desenvolvidos no Laboratório de Ecologia e Controle Biológico de Insetos da universidade a partir da análise do ciclo do mosquito Toxorhynchites theobaldi. 

O professor Magno Augusto explica que encontrou o Toxorhynchites durante uma coleta para fazer um experimento de mecanismo de transmissão da febre amarela. 

“Já tinha conhecimento de estudos em outras regiões de Minas, como a Zona da Mata, onde o Toxorhynchites theobaldi é registrado em grande incidência por causa da alta umidade. E a impressão era a de que o mosquito não resistiria ao período seco tão intenso como é no semiárido”, explica o professor que também é doutor em ciência animal.

Júlia Gomes diz que resolveu se aprofundar nos estudos sobre o mosquito devido à problemática que existe no Brasil com a dengue e as demais doenças causadas pelo Aedes. Segundo ela, isso justifica a necessidade de buscar uma forma visivelmente eficaz de combate ao mosquito, especialmente por ser biológica.

“Com base em estudos anteriores, já sabíamos que este mosquito, em sua fase larval, é um predador de larvas. E essa grande incidência na coleta nos confirmou a impressão que tínhamos algo de grande impacto para o combate natural do mosquito transmissor da dengue em Montes Claros”.

Outro ponto favorável do Toxorhynchites é quanto à demora da larva de se transformar em adulto: enquanto o Aedes leva uma semana, ele pode demorar até dois meses. Esse tempo maior da vida larval, segundo os pesquisadores, permite que ele coma ainda mais larvas do Aedes.

ARMADILHA
O inimigo do Aedes foi descoberto por meio da instalação de 600 armadilhas para a coleta de larvas na área do Parque do Sapucaia.

Os recipientes (semelhantes a copos) feitos de bambu foram colocados em áreas de pouca luminosidade e receberam água para simular o ambiente natural de reprodução tanto para o Aedes como para o Toxorhynchites theobaldi.

Quando recolheram as armadilhas, os pesquisadores viram que havia mais Toxorhynchites do que o Aedes. 
 
DESAFIO
Para que o predador do Aedes possa realmente ter resultado no controle do mosquito causador da dengue, seria necessário a produção em massa em laboratório para soltura em campo. Mas o Toxorhynchites theobaldi não se reproduz naturalmente em laboratório. É preciso induzir a cópula através de métodos específicos.

Os próximos passos do grupo de pesquisa é estabelecer a criação em condições de laboratório, de forma que o Toxorhynchites theobaldi possa ser visto como uma alternativa de controle sanitário pelas autoridades de saúde, especialmente em cidades como Montes Claros, com registros históricos de grande incidência do Aedes nos períodos chuvosos.

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