MOC libera volta às aulas presenciais; decisão da prefeitura desagrada professores

Márcia Vieira
O NORTE
28/04/2021 às 00:30.
Atualizado em 05/12/2021 às 04:47
 (leo queiroz)

(leo queiroz)

Escolas privadas de Montes Claros já podem retomar as aulas presenciais imediatamente. Já na rede pública, a data marcada para os alunos e professores voltarem às salas de aula é 24 de maio. As definições foram publicadas no Decreto Municipal nº 4204, divulgado na noite desta segunda-feira.

Na rede privada, já podem retornar à escola as crianças que estão no maternal e na educação infantil. Mas os pais que não quiserem mandar os filhos para a sala de aula podem optar por continuar com o ensino remoto. Já na próxima semana, a escala chega aos alunos do ensino fundamental.

Após a publicação do decreto, professores começaram a se mobilizar para impedir que o prefeito Humberto Souto coloque em prática a medida, considerada por eles imprudente. O principal argumento da categoria é a falta de vacinação dos docentes – não há previsão para que sejam imunizados. Nesse momento, Montes Claros está vacinando idosos com mais de 62 anos.

Além disso, muitos questionaram nas redes sociais se o município irá fornecer os equipamentos de proteção individual (EPIs) que terão que usar, como jaleco, face-shield e luvas.

O documento traz todas as regras que deverão ser cumpridas pelas escolas, professores, pais e alunos para ter uma volta com mais segurança. Determina, por exemplo, que haja revezamento entre alunos e que a capacidade da sala seja limitada a 50% em cada dia, com os demais estudantes acompanhando as aulas remotamente. 

A decisão, no entanto, foi alvo de críticas nas redes sociais, tanto de professores como de pais. Com a frase “Escola sem Vacina é Chacina”, eles pedem que a data seja adiada e temem pela vida dos filhos. “Quem fez este decreto não tem filho em idade escolar ou familiares do grupo de risco. O prefeito segue em home office, vacinado, e a população em sua grande maioria achando que professor não quer trabalhar”, disse a mãe de aluno L.L., que pediu para que não fosse identificada.
 
TRABALHO DOBRADO
Outro ponto muito criticado nas redes sociais foi o fato de o decreto e a divulgação do mesmo terem abordado o tema como “volta às aulas”, como se as atividades não estivessem acontecendo.

A professora V.S. diz que o trabalho aumentou muito com o ensino remoto. São mais horas trabalhadas, gasto com material, internet e um desgaste muito grande. Mesmo assim, ressalta que ainda não é a hora de retomar o trabalho presencial.

“Estamos trabalhando o triplo, preenchendo fichas, planejando atividades, participando de capacitação e auxiliando nossos próprios filhos em idade escolar. Estamos exaustos, mas mandar crianças para a escola sem vacinação é loucura. Queremos voltar, mas antes queremos ser vacinados. A gente já não tinha o básico antes, imagina agora”, desabafou.
 
SEM OBRIGATORIEDADE
Em entrevista à rede de TV local, o prefeito Humberto Souto afirmou que ninguém é obrigado a voltar. “Quem quiser, volta. Não é obrigatório. A mãe que não quiser, não manda o filho para a escola. A escola vai ser obrigada a manter o ensino a distância”, disse. Mas, embora os pais possam decidir sobre mandar o filho ou não à escola, os professores não terão essa opção.

“O profissional da educação não tem alternativa. Ele está se sentindo pressionado. Ou ele vai trabalhar e corre o risco ou fica sem emprego. Infelizmente, colocam a faca no pescoço dos profissionais da educação. Temo muito por uma terceira onda”, disse a vereadora Iara Pimentel (PT).
 

Retorno atrelado à vacina

A decisão da Prefeitura de Montes Claros de voltar às aulas presenciais foi publicada no dia em que Belo Horizonte reabriu as escolas para os alunos do ensino infantil da rede privada, após 13 meses suspenso devido à pandemia da Covid-19.

Segundo a direção do Sindicato das Escolas Particulares da capital, a adesão das famílias foi de aproximadamente 70%. Na rede pública, as aulas presenciais só devem voltar na próxima semana, mas os trabalhadores deveriam se apresentar às unidades de ensino nesta segunda-feira. Porém, uma greve sanitária foi iniciada pela categoria, que questiona as condições de retorno às salas de aula.

A presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Montes Claros (Sind-educamoc), Juliana Miranda, afirma que o sindicato é favorável ao retorno presencial, desde que todos os profissionais da educação já estejam vacinados.

“Além da vacinação, as escolas têm que estar estruturadas e organizadas com EPIs para um retorno presencial seguro. Esperamos também que a prefeitura apresente um plano de retorno presencial antecipadamente para avaliarmos as viabilidades do plano”, disse a representante da categoria no município.

Em âmbito estadual, o Sindicato dos Professores de Minas Gerais (Sinpro-MG) informou que está se reunindo com advogados para discutir as medidas a serem tomadas junto aos órgãos competentes para denunciar a impossibilidade de retorno.

“Vamos acionar também as escolas que descumprirem o acordo. O nosso trabalho é inicialmente buscar pela negociação e, assim que voltar, caso não tenhamos sucesso, vamos acionar judicialmente, chamar reunião, assembleia da categoria, assim como temos feito nas outras regiões também”, disse a presidente do Sinpro, Valéria Morato.

Sobre a decisão municipal, Valéria alertou que o prefeito de Montes Claros assumiu a prioridade na vacinação dos trabalhadores em educação. 

“Não há nenhum motivo técnico para o retorno presencial antes da efetividade da vacinação. Esperamos que o prefeito não ceda àqueles que tratam a educação como mercadoria. Até aqui, o prefeito seguiu a ciência. Esperamos que ele reveja sua posição e continue com a posição de defesa da vida”, disse Valéria.
 
ESCOLAS
Em documento enviado a O NORTE, o presidente do Sindicato das Escolas Particulares do Norte de Minas (Sinepe Norte de Minas), Elio Soares Ribeiro, afirma que o ensino presencial é fundamental para a aprendizagem do aluno. 

“No Brasil, ele foi deixado de lado e permanece figurando em último lugar nas prioridades estabelecidas pelo poder executivo, apesar das repetidas evidências científicas e experiências de países de primeiro mundo apontarem para a direção contrária, valorizando a essencialidade da educação e reconhecendo a segurança da reabertura das escolas”.

Segundo ele, as escolas irão fazer a sua parte e todas as regras sanitárias serão cumpridas para garantir a segurança de todos.

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