MOC à mercê dos mosquitos

Responsáveis por pelo menos cinco doenças, Aedes e Palha seguem fazendo vítimas

Calos Castro Jr.
14/12/2018 às 06:38.
Atualizado em 05/09/2021 às 15:34

Montes Claros vem sofrendo em 2018 com a proliferação de mosquitos responsáveis por cinco doenças. O Aedes aegypti, agente causador de dengue, chikungunya, zika e febre amarela, e o flebótomo, conhecido como palha, causador da leishmaniose visceral, também conhecida como calazar.

Os casos de leishmania, por exemplo, são alarmantes, levando-se em conta os dados registrados somente no Hospital Universitário Clemente de Faria. A unidade, referência nesse tipo de doença, realizou neste ano 138 atendimentos, sendo 97 de leishmaniose visceral, que acomete vários órgãos internos, principalmente o fígado, o baço e a medula óssea. Destes, cinco pessoas morreram.

Os números superam o quadro de 2017, quando foram registrados apenas 22 casos desse tipo da doença. Além disso, 41 casos da leishmaniose tegumentar – que se caracteriza por feridas na pele – foram confirmados no hospital.

Nesta semana, O NORTE recebeu a denúncia de mais duas mortes na cidade em decorrência de calazar. A reportagem tentou, logo em seguida, mais uma vez, entrar em contato com a Secretaria Municipal de Saúde para ter acesso ao levantamento de vítimas em decorrência da leishmaniose na cidade. Mas a coordenadoria optou por não nos atender.

Os números omitidos podem confirmar as suspeitas de que a situação possa ser ainda mais grave e acender o sinal de alerta na cidade.

Apesar da gravidade, a doença tem cura e o óbito pode ser evitado. O infectologista João dos Reis Canela afirmou que o tratamento tem eficácia de 95% e lamentou ser uma doença endêmica na região. O especialista lembrou ainda que, após contrair a doença, é preciso fazer acompanhamento.

“O parasita, mesmo depois do tratamento, continua ocupando espaço no organismo da pessoa e, por isso, é preciso fazer um acompanhamento de ao menos um ano”, disse.
 
DENGUE
Se a leishmaniose assusta, a dengue não fica para trás. Questionada pela Câmara de Vereadores, a Secretaria Municipal de Saúde afirmou que a cidade registrou, até agosto deste ano, 858 notificações da doença na cidade, 314% a mais que os 207 ocorridos no ano passado. E a previsão é a de que os números sejam ainda maiores, pois há 489 registros sob investigação. E a chegada das chuvas e aumento da temperatura, típicos desse período, oferecem as condições ideais para a proliferação do Aedes aegypti.

Segundo o diretor de Vigilância em Saúde de Montes Claros, Aluízio Cunha, o índice de infestação do mosquito é de 3,5%, considerado de médio risco. Os bairros mais afetados são: Santo Antônio, Eldorado, Vila Anália, Village do Lago e Ibituruna, dentre outros.

De acordo com o último Boletim Epidemioló-gico de Monitoramento, divulgado na terça-feira pela Secretaria de Estado de Saúde, até o dia 10 deste mês foram registrados 27.172 casos prováveis de dengue em Minas. Ao todo, 7,3% dos municípios mineiros estão em situação de risco para ocorrência de surto, 35,1% estão em situação de alerta e 57,5% em situação satisfatória.

COMBATE
Para que a cidade fique livre dessas doenças – ou pelo menos consiga diminuir o número de casos –, é fundamental a prevenção. E ela exige atuação do poder público e da população, porque tanto o Aedes aegypti quanto o mosquito palha gostam de ambientes com água parada e lixo acumulado.

O vereador Wilton Dias cobrou a volta do uso do fumacê em Montes Claros, principalmente no bairro Maracanã. A medida, segundo ele, ajudaria no combate às muriçocas e também ao Aedes.

“Tenho recebido queixas de várias pessoas, principalmente da área do bairro Maracanã, sobre o excesso de mosquitos em lotes vagos cheios de entulhos. Moradores cobram a volta do Fumacê, que passava pelas ruas da cidade espalhando o veneno para eliminar o mosquito. Esse serviço era muito eficaz e infelizmente não é muito utilizado pela prefeitura”, ressalta o vereador.

O coordenador de vigilância em Saúde, Valdemar Rodrigues dos Anjos, da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG), explicou que as ações contra os mosquitos mencionados acontecem de maneira diferente e que o fumacê não é eficaz no combate ao mosquito palha.

“Existe uma diferença nas técnicas de combate. Para o controle do mosquito palha, pode ser necessário a borrifação residual (em locais específicos), onde não se encaixa o UBV (popularmente conhecido como fumacê). Mas enquanto Estado, fornecemos equipamentos e inseticida, cabe ao município executar”, informa.

Valdemar disse ainda que para o Estado liberar o uso do UBV motorizado é necessário que exista uma taxa de incidência alta. Nas últimas quatro semanas, é preciso atingir uma taxa acima de 300 casos por cada 100 mil habitantes. Quando são números menores, não justifica o UBV, e fica a cargo do município a maneira de agir.

“Como Montes Claros é diferente, pelo tamanho, extensão territorial e população, realizamos ações por setores, mesmo não tingindo os 300 casos por 100 mil. Se no setor já atingiu, liberamos. Ainda não tivemos a necessidade de liberar neste ano especificamente”, disse Valdemar.

Já Aluízio Cunha afirmou que o fumacê vem sendo utilizado na cidade desde o final de novembro, mas que as ações ocorrem dentro de uma programação elaborada pelo Centro de Controle de Zoonoses.


 

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