Medo da dengue faz morador bancar limpeza de lote alheio

Empresário teme proliferação de mosquitos, que podem ter infectado 1.800 pessoas

Carlos Castro Jr.
10/05/2019 às 07:37.
Atualizado em 05/09/2021 às 18:35
 (Carlos Castro Jr)

(Carlos Castro Jr)

Com medo da onda de dengue que já fez mais de 1.800 vítimas prováveis em Montes Claros, com duas mortes, um empresário cansado de esperar pelo bom-senso dos vizinhos, de outros moradores e da prefeitura resolver pagar do próprio bolso a limpeza de terrenos que poderiam servir de criadouros do mosquito Aedes aegypti.

Leonardo Pereira desembolsou R$ 370 para que um trator retirasse o lixo acumulado em lotes nas imediações da casa dele, no bairro Olga Benário. Segundo o empresário, a “faxina” havia sido prometida pela prefeitura há mais de um ano.

“É uma falta de respeito. Vêm e jogam o lixo, e se a gente reclama, ainda querem brigar. Aqui vem gente tanto do bairro quanto de outros lugares para depositar lixo. Prefiro pagar para limpar do que ficar essa sujeira aqui”, disse.

Apenas o Anel Rodoviário divide os bairros Olga Benário e Alterosa, que sofre com a mesma situação. Na rua do pedreiro Carlos Renei, o descarte de lixo também fica em evidência. “O pessoal vem de longe para jogar lixo. De carroça e até de carrinho de mão. Falta mesmo é educação”, pontuou.
 
SEM MÉDICOS
De acordo com o Centro de Controle de Zoonoses – CCZ, os bairros Vila Atlântida, Eldorado, Santos Reis, Major Prates, Maracanã, São Geraldo II e os conjuntos residenciais Minas Gerais, Monte Sião, Vitória e Cedro concentram a maioria dos casos de dengue.

A equipe de O NORTE visitou as Unidades de Saúde dos bairros Maracanã e Major Prates, ambos na lista vermelha de casos e que poderiam receber demanda também do Olga Benário e do Alterosa. O primeiro teria médico apenas de plantão, das 18h às 22h. Já o segundo não conta com profissional.

Para quem sofre com os sintomas da dengue, a saída é ir até o Alpheu de Quadros, do outro lado da cidade, no bairro Santo Antônio. A Unidade de Pronto Atendimento segue lotada, sem efetivo para dar conta de tanta demanda. A falta de 15 médicos – quatro na zona rural e 11 na área urbana acaba deixando o Alpheu de Quadros sobrecarregado.
 
FOCOS
O último Levantamento Rápido de Índices para Aedes aegypti – LIRAa, realizado em janeiro deste ano, já apontava o risco de epidemia de dengue em Montes Claros. O índice foi 5,9%, quando o considerado seguro é 1%.

O segundo mapeamento, marcado para os dias 6, 7 e 8 deste mês, não foi realizado. O CCZ ficou liberado do levantamento para focar apenas no combate aos focos do mosquito.

Segundo o coordenador do CCZ, Flamarion Cardoso, os agentes estão identificando os bairros com maior índice de infestação de dengue, assim como o número de pessoas com a doença, e intensificando as ações. Hoje, os agentes estarão no Eldorado.

“Vamos eliminar focos de dengue e orientar a população para não deixar água parada. Depois será aplicado o UBV móvel (popularmente conhecido por fumacê) para matar somente o Aedes. Nos demais bairros, estamos utilizando o UBV costal. Até diminuir o surto, estaremos realizando esse estudo para verificar os pontos com mais infestações para centralizar as ações”.

A reportagem entrou em contato com a Prefeitura, mas não obteve respostas até o fechamento desta edição.
*Colaboraram Christine Antonini e Gian Marlon

Automedicação é risco a mais
Quem sofre com as dores causadas pela dengue não quer esperar. Com a falta de médicos nos postos de saúde, aumenta o risco da automedicação. O infectologista do Hospital das Clínicas Dr. Mário Ribeiro, Tiago Soares Fonseca, alerta para o perigo da prática.

“A recomendação é evitar a automedicação. Nos casos de suspeita de dengue, com poucas exceções, não se deve fazer uso do AAS ou de qualquer outro medicamento anti-inflamatório pelo risco de favorecimento das complicações hemorrágicas da doença. O médico é o profissional mais adequado para orientar o tratamento”, afirma.

Tiago conta ainda que não existe um tratamento específico para a dengue, já que não há um medicamento capaz de combater diretamente o vírus que a causa.

“O tratamento é de suporte e depende da gravidade de cada caso. Nos casos leves, podem ser prescritos medicamentos para combater os sintomas da doença e fornecer alívio ao paciente, além de ser indicada hidratação por via oral. Nos casos graves, é necessário internar o paciente, fornecer a hidratação com soro diretamente na veia e tratar as complicações que porventura possam surgir. O repouso é importante em todos os casos, mas não há restrição quanto ao tipo de alimentação”.

Já para a médica clínico geral do HC, Dra. Caroline Rodarte, um problema é que muitas pessoas que estão com dengue acabam pensando se tratar de uma “simples virose”.

“A dengue se caracteriza por febre, mialgia, cefaleia, exantema (“lixa no corpo”), dor atrás dos olhos, além de alterações nos exames laboratoriais, como a queda das plaqueta. A dengue hemorrágica é uma situação muito grave. Crianças e idosos merecem atenção redobrada”, alertou.

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