(fotos leo queiroz)
A situação não está nada fácil para o trabalhador. Em um período de alta taxa de desemprego e de perdas salariais por causa da pandemia, o custo de vida não para de subir. A inflação de julho em Montes Claros bateu recorde: chegou a 1,18%, pressionada pelos aumentos da energia elétrica, gás de cozinha, combustíveis e alimentação.
O índice é o maior do ano e quase o dobro da taxa registrada em junho, que foi de 0,65%. No acumulado do ano, o dragão chega ao patamar de 4,87%, já acima da meta inicialmente prevista pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) para todo o ano, que era de 3,75%.
A pesquisa de variação de preços realizada pelo Setor de Índice de Preços ao Consumidor do Departamento de Economia da Unimontes mostra que os grupos Habitação e Alimentação foram os que mais pesaram.
Para manter a casa funcionando, o consumidor precisa fazer um verdadeiro malabarismo com as contas. A pesquisa da inflação aponta alta de 10,64% no botijão de gás de 13kg e de 8% na conta de luz em julho. Esses custos pesaram para que o grupo Habitação registrasse variação positiva de 2,48%.
MESA CARA
Logo atrás dele veio a Alimentação, grupo que tem o maior peso na composição do orçamento doméstico. A alta em julho foi de 1,06%.
Destaque para o aumento de alimentos in natura, muito comuns na mesa do consumidor, como cenoura (27,38%), quiabo (18,75%), maçã (18,45%), banana caturra (6,85%), jiló (6,56%), beterraba (6,13%) e tomate (6,06%).
Nas prateleiras dos industrializados, os vilões foram a margarina (85% mais cara), o café (17%), queijo prato (5,20%), pão de queijo (4,59%), fubá (4,03%), macarrão talharim (3,05%) e pão (2,90%).
Segundo a professora Vânia Vilas Bôas, coordenadora do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) da Unimontes, é a primeira vez neste ano que a inflação sofre uma pressão maior de outros grupos além da Alimentação.
“Energia elétrica, gás de cozinha e combustíveis pesaram sobremaneira na inflação de MOC”, afirma a professora. A dona de casa Nivea Isabel Martins, de 39 anos, afirma que não sabe aonde as coisas vão parar com tanto aumento.
“Foi notável o aumento na conta de luz em julho e do gás. Antes, com um valor “x” dava para encher o carrinho do supermercado. Hoje, com esse mesmo valor não chega nem à metade. O salário continua o mesmo, mas as coisas não param de aumentar”, lamenta.
O peso dos alimentos também é considerável para o trabalhador montes-clarense, alerta Vânia. “Mais de 35% da renda desse trabalhador é gasta com produtos alimentares básicos, depois vem os custos da Habitação, com 25%”, exemplifica a coordenadora da pesquisa.
CESTA BÁSICA
Hoje, para comprar uma cesta composta por 13 itens básicos na alimentação de uma família, o montes-clarense tem que emprenhar R$ 411,82. “É um comprometimento grande da renda com itens básicos”, avalia Vânia Vilas Bôas.
A cesta, calculada para quem ganha o salário mínimo (R$ 1.100), ficou 1,23% mais cara em julho, contra uma variação negativa de 1,39% em junho.
Produtos como carne bovina, óleo, arroz, feijão, margarina e tomate, que compõem a cesta básica, têm subido de preço constantemente, relata a professora da Unimontes.
“De março de 2020 a julho de 2021 esses itens tiveram reajustes que variam de 40% a 70%. A carne teve aumento de 70%, o feijão subiu mais de 45% e o arroz, 44%”, diz Vânia.
“Hoje vim comprar alguns itens para casa e assustei com o valor de quase R$ 20 do pote médio da manteiga”, diz a auxiliar administrativo Larissa Campos, de 34 anos.
Segundo ela, as coisas não param de encarecer e é preciso aprender a equilibrar as contas para conseguir atender todas as demandas necessárias do dia a dia.
E a expectativa é a de que os preços continuem altos neste mês e em setembro, pressionados pela seca em algumas regiões e geadas em outras. “Principalmente os hortifrútis já têm chegado com preço mais elevado neste mês”, afirma a professora Vânia Vilas Bôas.
*Com Leonardo Queiroz