Falta de estrutura afeta aula a distância; aluno da zona rural é o mais prejudicado

Márcia Vieira
O Norte
29/05/2020 às 00:23.
Atualizado em 27/10/2021 às 03:37
 (GLEDSON LEÃO/ ARQUIVO PESSOAL)

(GLEDSON LEÃO/ ARQUIVO PESSOAL)

Professores da rede estadual de ensino na região e pais de alunos reclamam da falta de acesso ao conteúdo preparado pelo Governo de Minas para substituir as aulas presenciais – suspensas desde março, por tempo indeterminado, devido à pandemia de Covid-19.

Os estudantes da zona rural seriam os mais prejudicados, pois além de estarem sem o material prometido, não podem sequer acompanhar as teleaulas transmitidas desde o dia 18 pela Rede Minas. O sinal da emissora de TV, que é pública, só chega a 31% dos municípios mineiros. 

Mães apontam que o Plano de Estudo Tutorado (PET), para os estudantes sem acesso à internet, não estaria chegando até eles, apesar da ampla divulgação do Estado. Com isso, a saída encontrada por alguns seria fazer xerox das apostilas em lan-houses e copiadoras, desembolsando até R$ 25 do próprio bolso. 

“Trabalho em uma escola onde a maioria dos alunos é muito carente. No máximo, sendo bastante otimista, 40% deles têm acesso ao material virtual. Quanto a imprimir o (material) PET, acho que nem 10% vai conseguir”, diz uma professora que pediu anonimato.

Pai de um aluno de 12 anos, Edson Pereira sente na pele as dificuldades para que o filho acompanhe o conteúdo. O garoto tem dificuldade para assistir às aulas porque a internet da família é por pacote de dados, ou seja, tem acesso limitado. Ele tentou buscar o material impresso, mas encontrou a escola fechada e o pai não sabe a quem recorrer.

“Houve uma greve, que já dificultou bastante o aprendizado. Depois veio a pandemia. Meu filho está matriculado na Escola Elói Pereira e não conseguimos o material. Fomos à escola, que está fechada, e não havia ninguém para dar informação, nem aviso na porta”.

O jeito foi improvisar. “Quando possível, roteamos a internet da minha irmã, que é nossa vizinha, para que ele não fique prejudicado, mas nem sempre conseguimos e não sei se será possível recuperar o conteúdo”, diz Edson. 
 
DÉFICIT
“O principal, no processo de ensino, é o conteúdo chegar ao aluno. Se ele não assimilou, não aprendeu, é porque não houve o processo. Haverá evasão escolar e quando, no meio do ano, se constatar que muita gente desistiu, irão reduzir turmas”, diz uma professora ouvida por O NORTE, que teme pelo futuro dos profissionais da área.

De acordo com outra educadora, Iara Pimentel, apesar de o Estado ter disponibilizado as plataformas para os alunos acessarem o conteúdo, incluindo a TV aberta, muitos não têm equipamentos e a realidade é que ainda há uma dificuldade no manuseio das ferramentas, tanto pelos estudantes quanto pelos professores.

“Pedimos paciência e tolerância. Há muitas exigências para se ter acesso ao conteúdo, do CNPJ das escolas a uma série de coisas. E uma pressão muito grande para que tudo seja feito dentro do prazo. Mas não existe solução pronta. Tudo é novo e tem que ser construído. Sugerimos a desburocratização para facilitar o processo”.

Para a professora Flávia Oliveira, a realidade de Belo Horizonte é diferente da do Norte de Minas, mas o Estado teria se baseado no cenário da capital para direcionar o estudo.

“E os alunos desprovidos de material técnico? Eles não têm culpa, mas se sentem excluídos. O sistema cria algo ilusório em torno de ferramentas de alunos da capital e esquece que temos alunos na zona rural e mesmo na zona urbana que não têm acesso aos meios digitais – muitas vezes, nem um aparelho de TV em casa. O sistema não atende a todos e como professora estou imensamente triste com tudo isso. Além do mais, as disciplinas de inglês e sociologia não foram incluídas no PET. Como os alunos serão aprovados sem as disciplinas?”, questiona.

Procurada por O NORTE, a Secretaria de Estado da Educação enviou uma nota em que confirma que a principal ferramenta do Regime de Estudo não Presencial é o Plano de Estudo Tutorado (PET) – que será considerado para cumprimento da carga horária mínima anual prevista para o aluno. Segundo a SEE, cada gestor escolar ficou responsável por identificar os estudantes que deveriam receber o material impresso e providenciar a entrega do material a eles. 

Segundo o texto, cerca de 500 mil alunos que informaram não terem como acessar as apostilas pelos meios virtuais já receberam as mesmas impressas. A impressão do PET para quem necessitar estaria sendo feito pelas próprias escolas.

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