A disparada da inflação – que deve fechar 2021 em 10,04% – e o achatamento de renda da população fizeram evaporar o 13° dos trabalhadores em Minas. Um dia após o prazo final para os patrões depositarem a segunda parcela do abono natalino, muita gente já não tinha nem R$ 1 na conta.
No total, o benefício injetou R$ 233 bilhões na economia do país, sendo R$ 21,4 bilhões na mineira, calcula o Dieese. Tudo indica, porém, que mal chegou ao bolso, o dinheiro foi comprometido.
Com alto índice de endividamento, muita gente decidiu usar o abono para o pagamento de dívidas. Foi exatamente o que fez Alexandra dos Santos, de 50 anos. Funcionária terceirizada de uma instituição de ensino, ela recebeu o 13º em duas parcelas.
“Paguei a internet, completei o aluguel do mês, comprei alimentos para casa”. Algum item de luxo? Nem pensar. “O valor do 13º foi o mesmo do ano passado, só que dessa vez deu para menos, porque está tudo bem mais caro”, lamenta.
Pelo pacote de frango que custava, lá nos idos de 2020, R$ 9, Alexandra desembolsou R$ 16,90 nos últimos dias. “Acho que está todo mundo na mesma situação, usando o 13º para pagar contas, independentemente de ganhar muito ou pouco. As coisas encareceram demais”, diz.
O abono natalino foi a conta de pagar gastos e cartão de crédito na casa da vendedora Flávia Cristina Rocha, de 43 anos. “Não consegui guardar nem investir meu 13º salário. Ele acabou todo e vejo que para muitas pessoas a situação foi a mesma”, diz.
Flávia conta que a pandemia colocou muitas pessoas na situação de tentar sobreviver e trabalhar para honrar os compromissos. “Mesmo eu trabalhando e meu esposo em dois empregos, temos filhos e o valor do salário mínimo está muito defasado. A inflação está altíssima e tudo está muito caro”.
Segundo cálculos do Dieese, em Minas o trabalhador do mercado formal recebeu em média R$ 2.589,64 de 13º salário este ano. O valor é um pouco maior entre assalariados do setor público e privado (R$ 2.644,74) e bem inferior para os empregados domésticos com carteira assinada (R$ 1.166,74). Entre aposentados e pensionistas do INSS, o abono ficaria, em média, em R$ 1.380,27.
ENDIVIDAMENTO
Pesquisa da Fundação Ipead, da UFMG, mostrou que 35% dos entrevistados pretendia usar o 13º para quitar dívidas e pagar contas atrasadas em 2021. Na época, mais da metade das pessoas ouvidas (52%) afirmou não receber o salário adicional nem benefício similar.
Poupar para outros fins ou para os impostos de janeiro, como IPTU e IPVA, estava nos planos de 23% e 12% dos entrevistados, respectivamente. Viagens apareciam na quarta posição, sendo a intenção de 10% dos participantes, contra 3,42% no ano anterior.
Professora de Economia das Faculdades Promove, Mafalda Valente chama atenção para que não sejam criadas novas dívidas em razão das festas natalinas e Réveillon, já que janeiro é a época de pagamento de outros compromissos, como IPTU e IPVA, além do material escolar e a matrícula escolar. “O 13º chegou e tem gente que está usando para pagar dívida, mas muitos vão contrair novas, comprando presentes”.
* Com Luiz Augusto Barros e Leonardo Queiroz