(Fábio Marçal/Divulgação)
Após três meses do início da vacinação contra a Covid-19, a expectativa era a de que o país já estivesse com boa parte dos idosos imunizados, ou seja, recebido as duas doses que garantem a proteção contra o novo coronavírus. No entanto, nesta quarta-feira, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, informou que cerca de 1,5 milhão de brasileiros estão com a segunda dose atrasada. A demora na aplicação do imunizante pode estar colocando esse grupo ainda em risco.
O ministro ressaltou que a pasta vai divulgar uma lista, por Estado, de pessoas que estão com a segunda dose atrasada. Em Minas, por exemplo, metade dos idosos com 80 anos ou mais não tomou a segunda dose da vacina contra a Covid-19.
Ao todo, 492 mil idosos dessa faixa etária receberam a primeira aplicação, mas pouco mais de 239 mil foram contemplados com o reforço, conforme dados da Secretaria de Estado de Saúde (SES) divulgados na segunda-feira.
Em Montes Claros, o índice é ainda mais baixo. Apenas 22% dos maiores de 80 anos que tomaram a primeira dose já receberam a segunda e podem se considerar imunizados.
Segundo especialistas, a diferença nesse índice das aplicações se deve a vários fatores. Um deles é o de que parte deste grupo recebeu a vacina da Astrazeneca, desenvolvida pela Universidade de Oxford, que precisa de um intervalo de três meses para a aplicação da segunda dose. Portanto, o prazo ainda não teria vencido para quem recebeu esse imunizante.
Para quem recebeu a CoronaVac, estudos apontam melhor eficiência quando a segunda dose é aplicada num intervalo de 21 a 28 dias.
FALHAS
Porém, outros aspectos observados por especialistas justificam a baixa cobertura, como falhas nos agendamentos por parte das prefeituras e dificuldade de acesso aos postos de saúde.
Esse tipo de situação foi registrado por um estudo divulgado semana passada por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Segundo os cientistas, apenas 33% desses idosos estão completamente imunizados no Brasil. “Grande parte depende de alguém para levar. Eles não têm autonomia para ir sozinhos ou podem ter medo de ir sozinhos”, diz o professor da UFRJ, Guilherme Werneck.
Para ele, para que a campanha acelere, é preciso ampliar os horários de funcionamento nos postos de saúde, principalmente aos fins de semana.
Há também a possibilidade de falha no agendamento de quem precisa receber o reforço em casa por conta de alguma condição de saúde.
Werneck afirma que os municípios precisam de um sistema que dê conta de monitorar quem não recebeu a segunda dose, incentivando que voltem às unidades de saúde.
PROTEÇÃO PREJUDICADA
Para a infectologista Cláudia Biscotto, deixar de tomar a segunda dose é uma situação preocupante, pois “pode interferir negativamente na indução da resposta imunológica”. “A mensagem sempre deve ser de tomar as doses conforme a data estipulada, manter os cuidados de distanciamento, uso de máscaras quando estiver fora de casa e higienização frequente das mãos e superfícies”, alerta a médica.
A Secretaria de Estado de Saúde (SES) garante que não há falta de vacina para a segunda dose, pois as unidades são disponibilizadas pelo Ministério da Saúde e enviadas em “tempo oportuno”.
A secretaria também informou que a busca pelos faltosos na vacinação é feita pelas equipes de saúde dos municípios, especialmente de Atenção Primária, que possuem contato direto com o usuário.
A secretária de Saúde de Montes Claros, Dulce Pimenta, foi procurada na tarde de ontem, estava em reunião e disse que retornaria mais tarde, o que não ocorreu.
*Com Agência Brasil e Hoje em Dia