Construção Civil sofre com falta de mão de obra

Em Montes Claros, alternativa tem tido recrutar profissionais em cidades vizinhas

Márcia Vieira
O NORTE
16/10/2021 às 00:25.
Atualizado em 05/12/2021 às 06:04
 (FERNANDO FRAZÃO/AGÊNCIA BRASIL))

(FERNANDO FRAZÃO/AGÊNCIA BRASIL))

A indústria da construção civil foi um dos setores que mais cresceram durante a pandemia, mas o avanço agora esbarra na falta de profissionais qualificados para os canteiros de obra. Estudo realizado pela Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic) aponta: 77% das empresas do setor relatam dificuldade para preencher vagas. 

“O que favoreceu o crescimento do setor em Montes Claros foram as grandes empresas que aqui se instalaram, como Eurofarma e grandes supermercados. Essas novas instalações demandaram mão de obra local, e geraram também essa escassez atual (de mão de obra)”, pondera Osmar Cunha, presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Norte de Minas (Sinduscon). Segundo ele, uma das alternativas tem sido o recrutamento em cidades vizinhas, bem como parcerias. 

“Buscamos cursos que atendam à demanda do setor. Incentivamos a juventude a se interessar, com treinamentos e oportunidades”, diz ele. “As profissões do setor eram passadas de pai para filho, o que não é a realidade atual”, observa. 

Para 59% dos empresários entrevistados, pela Cbic o problema maior está justamente na ausência de qualificação, caso, por exemplo, de mestres de obras, encarregados e oficiais, que são funções semelhantes à gerência.

Os números do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) atentam a movimentação favorável à construção civil. Conforme o último levantamento divulgado, com dados de janeiro a agosto, a construção civil foi o setor que mais empregou no período, respondendo por 270 mil vagas com carteira abertas em todo o país. Em Minas, foram 40 mil.
 
A POSTOS
Motivado pela alta demanda, o pedreiro Edcarlos Cruz, o “Marconi”, decidiu se aperfeiçoar e buscou um curso na área. Há 10 anos no mercado, está prestes a mudar o status para engenheiro. Mas diz que não pretende abandonar a execução do serviço em todas as fases. 

“No curso se aprende a teoria. Vai agregar na questão, por exemplo, do cálculo de edificação, do projeto, mas no dia a dia já faço todo tipo de serviço, como assentamento de piso, serviço elétrico e hidráulico”, pontua. “Até hoje nunca deixei de pegar um serviço, mas por não ser engenheiro, na hora de combinar preço, perco a parte do projeto. Mesmo ensinando colegas que, apesar do diploma, não sabem ainda executar o serviço”, lamenta. 
 
FORMAÇÃO ABERTA
“Os jovens não se interessam mais por profissões que envolvem esforço humano e uma remuneração não tão atrativa. Houve fomento de políticas públicas voltadas para a valorização dos cursos superiores e aí nós temos um hiato muito grande do interesse dos jovens pelos cursos técnicos”, avalia o gerente do Sesi/Senai Ezio Darioli.

“Apesar do esforço do Senai e entidades do sistema S em oferecer cursos com maior qualidade, interesse das empresas e indústrias na cadeia produtiva, é uma minoria que se interessa e o foco é nas pessoas mais velhas. Estamos nesse vazio, em consequência de todo esse contexto”, acrescenta, lembrando que, por causa da pandemia e unidades educacionais fechadas, o Senai ficou mais de um ano sem formar profissionais. 

Com o boom da construção civil estão programadas três turmas para a área de edificação. Os cursos são gratuitos. 

“Daqui a um ano e 8 meses teremos cerca de 120 técnicos em edificação formados. Com a reativação estaremos a partir do próximo ano já com um cenário de possibilidades de voltar as aulas presenciais e oferta de cursos de qualificação e aperfeiçoamento. As empresas não têm condição de ficar custeando a formação profissional. É um investimento que elas não têm como receber. Daí a importância dessa oferta”, destacou Ézio.


 

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