Catadores de recicláveis se integram ao cenário do quarteirão da São Francisco

Jornal O Norte
25/07/2005 às 16:32.
Atualizado em 15/11/2021 às 08:48

Railda Botelho


Repórter


railda@onorte.net

O quarteirão fechado da Rua São Francisco é fonte e cenário para da história de Montes Claros, contada por gente muito simples, de forma natural. Sebastião Augusto Silva, 47 anos, é o primeiro a aparecer no quarteirão para iniciar o dia e, com ele, o oficio de catador de papel, sucata, garrafas pet e outros recicláveis. O corpo sem agasalho chama a atenção, por causa do frio intenso que faz no início da manhã, mas que ele ignora quando já está em plena atividade.

Sebastião conta que nunca teve oportunidade de estudar e que está nessa atividade há mais de 15 anos. Quando não tem o trabalho impedido pelos fiscais, consegue fazer de R$ 60 a R$ 70 por dia com o material que recolhe.

Segundo Sebastião, o principal empecilho para que pessoas como ele sigam trabalhando é a ação dos fiscais, que não dão sossego e tomam o material recolhido, com a alegação de que estão atrapalhando o trânsito de pedestres...

CUIDAR DO FILHO

Ali perto, a doméstica Maria Solange, 28 anos, diz que cata papéis para cuidar do filho, que vive em uma cadeira de rodas. Explica que trabalhou durante muitos anos em uma empresa que foi fechada tempos atrás na cidade. E que, desde essa época, não conseguiu outro tipo de trabalho, não tendo outra opção senão ir para as ruas recolher sucata para o sustento da família.

- Por que o quarteirão da Rua São Francisco parece ser o local preferido por você e outros catadores?

- É que, aqui, os donos de loja são mais legais, compreendem o nosso drama, o sofrimento da gente, e até separam o material a ser recolhido- responde.

FISCAL EXPLICA

O fiscal municipal João Aparício Silva diz que os catadores de papel promovem muita bagunça no local, e inclusive arrumam brigas entre eles por causa da divisão do material.

A empresária Maria Ione Fonseca, que tem uma loja no quarteirão, diz já ter se acostumado com os catadores, e admira o trabalho deles, que começa muito cedo, faça chuva ou faça sol.

Há mais catadores também na área do Shopping popular, onde se juntam ao barulho e ao drama de tantas outras pessoas em sua pressa de chegar a algum lugar.

JOVENS PANFLETEIROS

Existe em Montes Claros uma razoável quantidade de jovens, adolescentes, adultos e crianças que executam todo tipo de trabalho, desde a venda de vários produtos à distribuição de todo tipo de propaganda.

Diego e Iago, 9 e 13 anos, são irmãos, moram no Bairro Renascença, e trabalham no ponto de ônibus da Praça dr. Carlos, vendendo frutas, sempre no período das férias, para ajudar a mãe, que é viúva. Os meninos dizem não ter tempo para brincar, pois estudam e trabalham.

João Batista, 24 anos, que distribui panfletos sobre empréstimos para aposentados, trabalha como ambulante para o banco Bom Sucesso, e diz que essa foi a única alternativa que encontrou para se virar e não passar fome, já que se encontra desempregado há mais de 10 anos.

Conforme explica, não sente muito bem fazendo esse tipo de trabalho e acha que, de alguma forma, está contribuindo para enganar as pessoas.

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