Bairro vira lixão a céu aberto

Moradores do Canelas II convivem com mau cheiro e fumaça em cenário degradado

Manoel Freitas
10/07/2019 às 06:45.
Atualizado em 05/09/2021 às 19:28
 (MANOEL FREITAS)

(MANOEL FREITAS)

“Isso aqui parece um campo de batalha. Um cenário horroroso, que lembra um filme de guerra, com muita destruição”. O desabafo é de Neiva Mendes Lopes, moradora do bairro Canelas II, ao falarsobre o cenário de entulhos, lixo, fogo e fumaça que toma conta de uma área extensa às margens do Córrego Vargem Grande, naavenida Vicente Guimarães.

O fato de o terreno estar nos fundos do Montes Claros Shopping e bem perto de uma unidade do Corpo de Bombeiros não o livrou de se tornar um lixão a céu aberto.

Neiva vive no local há seis anos com o marido, o filho, nora e dois netos. Possui no local uma distribuidora de água mineral, na rua Herculano Miranda, e lembra que o lixão já virou até pontode referência.

A comerciante conta que a comunidade tentou resolver o problema com a ajuda da associação de moradores, sem êxito. “Não tem jeito, parece que a prefeitura nos abandonou mesmo”, lamenta.

Na área que tem o tamanho de um quarteirão, cercado por bairros de alta densidade populacional, é assustadora a quantidade de lixo, entulhos, pneus e garrafas. Os resíduos formam montanhas que crescem mês a mês e oferecem risco de doenças à vizinhança.

O terreno, segundo os moradores, abrigava quatro cascos (caçambas) para receber entulhos levados por carroceiros. No entanto, desde o fim do ano passado a Prefeitura de Montes Claros recolheu os equipamentos, o que fez a situação só piorar.

O quadro agora caótico chegou à Câmara de Vereadores e foi exposto ontem, na última reunião do Legislativo antes do recesso parlamentar, pelo parlamentar Fábio Neves.

Apesar do grande número de moradores na região, que faz a ligação da área central da cidade com a zona Sul e com o Anel Rodoviário Norte, o local destinado pela administração ao despejo transformou-se em um imenso lixão a céu aberto.

Montes de garrafas de vidro, plásticos, móveis e até mesmo aparelhos de TV, além de lixo orgânico, formam um quadro bem mais preocupante do que o revelado em setembro de 2018 por O NORTE.

Além da sujeira, o mau cheiro é insuportável, e os moradores têm que conviver com muita poeira e fumaça resultante da queima do lixo e de pneus. O ambiente favorece a proliferação de animais peçonhentos e insetos, principalmente o mosquito da dengue.

Segundo os moradores, a fumaça, aliada ao tempo cada vez mais seco, tem agravado doenças respiratórias em idosos e crianças.

COBRANÇA
“Secretário Vinícius, será que vocês estão brincando com a minha cara? Não é possível, isso é desumano”, desabafou da tribuna o vereador Fábio Neves, referindo-se ao secretário de Serviços Urbanos, Vinícius Versiani de Paula.

Com a mesma veemência, cobrou atitude do titular da Secretaria de Infraestrutura, Guilherme Augusto Guimarães Oliveira, lamentando que ambos se declarem incapazes de determinar a limpeza da área de descarte sob a alegação de que a prefeitura não dispõe de uma pá carregadeira.

Há dez anos vivendo no Canelas II, Maria das Graças Teixeira diz que os moradores estão sendo obrigados a conviver com o que chama de “pesadelo”. “Às vezes, a fumaça toma conta da paisagem, como se fosse neblina, não é possível enxergar nada”, conta a moradora, apontando para a calçada de casa onde não conseguiu impedir que o lixo fosse descartado. “Eles alegam que lá (no terreno) não cabe mais nada”. Dona Maria diz que toda semana aparece rato e escorpião em casa e na vizinhança.

Dilma Noronha reside há 15 anos na rua Herculano Miranda. “Aqui a gente sofre o ano inteiro. O canteiro de obras (do Córrego Vargem Grande) não é molhado, todo o entorno do lixão é poeira e arrumei uma tosse que não consigo dormir. Na verdade, durmo dentro da poeira”, fala.

Walter Teixeira Cardoso, de 34 anos, cinco dos quais como carroceiro, é morador do Major Prates, bairro vizinho ao Canelas II, e convive diariamente com esse “cenário de guerra”.

“Tem muito tempo que a prefeitura retirou os cascos, desde que começou a obra ao lado”, confirmando a denúncia do vereador. Walter diz que chega a fazer até seis descartes no lixão do Canelas. E não esconde: vai continuar, pois é seu ganhapão. Cobra de R$ 15 a R$ 25 por frete.

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