Railda Botelho
Repórter
railda@onorte.net
Ruas esburacadas, mato por todo lado, montes de poeira, esgoto a céu aberto, focos de muriçoca, dengue, calazar. É esta é a realidade do bairro Cidade Industrial, popularmente conhecido como Coberta suja, apelido, aliás, que os moradores abominam, e dizem ser discriminatório. Eles atribuem o preconceito ao fato de o bairro viver afastado do resto da cidade, ter uma população extremamente carente e esbarrar no total descaso da administração.
Antônio José Pereira de Araújo, que mora no bairro há seis anos, diz que no Cidade Industrial falta tudo, desde os serviços básicos de esgoto a um policiamento mais efetivo, sendo que a incidência de violência é enorme: quase todos os dias acontece um crime, praticado por gangues que vivem próximo ao local.
Até o nome é repudiado pelos moradores: Coberta Suja, bairro que só é
lembrado em época de eleições (Foto: Adriano Madureira)
COMBATE AO CALAZAR
O coordenador Antônio Carlos Santos, um dos responsáveis pelos serviços de combate ao endema (mosquito que transmite o calazar), diz que o controle no bairro é feito duas vezes ao ano, oportunidade em que é realizada borrificação no interior das casas e, também, diretamente nos focos.
A situação em que se encontram as ruas 37, 45 e a Avenida Planetária é alarmante, sendo que lá existem verdadeiras crateras, muito mato, sem se falar no esgoto que corre a céu aberto, passa nas portas das casas e é despejado na porta de uma creche, colocando em risco a saúde principalmente das crianças.
O bairro se encontra mergulhado em escuridão quase total, já que existem postes apenas em algumas ruas, aumentando, desta forma, os riscos de violência, ocorrendo assaltos, agressões físicas e estupros, sendo que as vitimas são, quase sempre, jovens que se deslocam a outro bairro para estudar.
Existem no Cidade Industrial uma creche, capela, posto de saúde e pequenas igrejas evangélicas, que emprestam ao bairro algum tipo de serviço social. De acordo com a dona de casa Maria Aparecida dos Santos, esses são os únicos atrativos para os moradores, que vivem à mercê da própria sorte, o que faz com que até se esqueçam de que também fazem parte de Moc.
Maria diz que são também merecedores da mesma atenção que a administração dispensa aos outros bairros, uma vez de lá foi extraída boa parte dos votos que elegeram Atos Avelino, e também parte dos vereadores.
NÃO COOPERAM
Antônio Carlos da Silva, conhecido como Joaquim, encontra-se à frente da Associação dos moradores do Cidade, Industrial há dois anos. Conforme informa sua esposa, Maria Augusta da Silva, Antônio se empenha o máximo que pode no sentido de levar melhorias para o bairro, mas os moradores não se empenham em comparecer às reuniões, para se inteirar das necessidades que precisam ser reivindicadas junto à administração. Inclusive, marcou-se encontro de pelo menos parte dos moradores com a câmara municipal. Apenas Joaquim, a esposa e um filho compareceram.
- Desta forma fica difícil trabalhar em prol de uma causa que possa beneficiar a todos – diz Augusta.
Segundo informou, já foram enviados vários ofícios à Cemig, reivindicando iluminação para o bairro, principalmente a Avenida Planetária, que está totalmente no escuro.
As reuniões da associação são realizadas a cada final de mês, sendo que, durante a semana, ocorrem às 8 horas da noite, e aos domingos, na parte da tarde.
Maria Nazaré dos Reis, uma antiga moradora, diz que o bairro só é lembrado em época de eleições, e só vira notícia quando ocorre algum tipo de crime.