(Márcia Vieira)
Montes Claros recebeu do governo do Estado 14.240 testes rápidos para atender a população suspeita de ter contraído a Covid-19. Foram 712 caixas contendo 20 testes cada – não foi informado quantos foram utilizados. Apesar de o Estado oferecer o acesso aos kits, criar novo protocolo para ampliação da testagem e orientar para que todos os pacientes suspeitos façam o exame, o município tem negado a assistência.
Os dados foram fornecidos pela Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG) e apontam que 3.132 exames RT-PCR foram requisitados pela rede pública. Em contato com a reportagem, a SES ressaltou que os municípios estão abastecidos com exames de RT-PCR em quantidade suficiente para testar todos os casos suspeitos e que, brevemente, mais testes rápidos deverão chegar à cidade.
Mas, em Montes Claros, as recomendações repassadas pelo governo mineiro não estão sendo praticadas e o município, inclusive, não divulga informações claras que mostrem os direitos dos cidadãos.
Boletins diários emitidos pela Secretaria Municipal de Saúde comprovam o registro de óbitos por Covid-19 em Montes Claros, mas os testes que demonstram ou não a presença do vírus no organismo são negados ao paciente que chega às unidades de saúde em busca de socorro.
Especialistas alertam que a testagem é a melhor estratégia para que o município consiga realizar uma política de saúde eficiente e até mesmo para que possa determinar outras estratégias, como a reabertura de determinados setores.
SEM CONFIRMAÇÃO
I.S. não sabe se teve Covid ou não. Um mês depois de o marido deixar o hospital e de ser considerado curado, ela acredita que dificilmente possa ter escapado do contágio, já que houve muita proximidade com o esposo.
Além dele, um dos filhos do casal precisou de atendimento especial para tratar a doença. Mas, ao procurar o posto de saúde para tentar fazer o teste, ela recebeu a negativa.
“Meu marido não teve a possibilidade de fazer o teste, que só foi realizado depois da internação. O quadro dele foi muito grave, teve dores intensas, diarreia, perdeu o olfato e, mesmo assim, não conseguimos o teste. Sem a confirmação, continuamos a conviver com ele normalmente. O quadro agravou, ele foi internado e no hospital veio então o teste e o resultado. Procurei o PSF e eles me disseram que eu só faria o teste se eu apresentasse sintomas. Como até agora não desenvolvi a doença, acredito que o meu caso tenha sido assintomático. Com o salário de professora eu não vou poder tirar do bolso para custear o teste, então, seja o que Deus quiser. Vamos na fé”, lamenta.
E é na fé que a dona de casa C.X. aposta para se livrar da doença. “Porque se depender do município, só vou saber se tenho Covid quando a doença tomar conta e eu não conseguir fazer mais nada. Eles não me testaram. Acompanho uma pessoa de risco e tenho problemas de saúde que podem afetar a chance de sucesso no tratamento, caso seja positiva. Só me resta esperar e rezar”, declara.
SEM PRESTAÇÃO DE CONTAS
Denúncias chegam constantemente à reportagem e aos gabinetes de parlamentares. Os vereadores Marlon Xavier, da Comissão de Saúde do Legislativo, e Ildeu Maia (Progressistas) questionam a prestação de contas do município, que possa mostrar onde está sendo aplicada a verba recebida pelo Estado e governo federal.
“Já pedi diversas vezes à Secretaria Municipal de Saúde os dados e eles se negam a informar. Um prefeito que esconde informações da população não pode ser uma pessoa honesta”, diz Ildeu.
Questionada sobre o recebimento de testes e de como eles estariam sendo utilizados, a Assessoria de Comunicação da Prefeitura de Montes Claros não retornou. A secretária de Saúde, Dulce Pimenta, não foi encontrada.