
A Prefeitura de Montes Claros cortou o serviço de transporte escolar nos conjuntos habitacionais Monte Sião 1, 2, 4, Minas Gerais e Recanto das Águas, obrigando mais de 500 alunos a andarem por uma hora para chegar à escola mais próxima. Com o desgaste e o risco que têm que enfrentar diariamente para percorrer o trajeto – pois precisam passar em meio a um matagal –, muitos acabaram abandonando as salas de aula.
Moradores estão revoltados com a falta do transporte escolar, que era oferecido até o ano passado pelo município. As instituições de ensino mais próximas dos conjuntos ficam a aproximadamente uma hora de caminhada, passando por um atalho tomado pelo mato.
A suspensão do serviço é a quebra, pelo prefeito Humberto Souto, de um compromisso firmado por gestões anteriores quando os conjuntos habitacionais foram construídos. Sem escolas próximas, para convencer os moradores a se mudarem para essas comunidades, o município se comprometeu a fornecer o transporte escolar. Situação que vinha sendo cumprida há anos, até a gestão de Souto decidir interromper o serviço.
De acordo com a moradora do Monte Sião 1 Gisléia Felizarda, a falta do transporte escolar tem gerado muitos problemas aos estudantes. “Tenho observado o sofrimento desses alunos. Muitos deixaram de estudar pela distância dos bairros até as escolas estaduais e muitos têm cortado um atalho por dentro do mato – o perigo tem gerado medo nos adolescentes. É triste ver os ônibus levando os alunos da rede municipal, muitas vezes vazios, e sem poder levar junto os da rede estadual”, disse.
RESPONSABILIDADE
De acordo com o vereador Daniel Dias, presidente da Comissão de Educação da Câmara Municipal de Montes Claros, a responsabilidade de levar os alunos para a escola, mesmo que estadual, deveria ser assumida pela prefeitura.
“A Comissão de Educação é contrária à retirada do transporte. Por mais que os alunos sejam da rede estadual de ensino, a Prefeitura de Montes Claros, em gestões anteriores, ofereceu casas aos pais nesses conjuntos na condição de oferecer o transporte escolar, já que o local não possui escola próximo. Como o Estado oferece somente o transporte na zona rural, achamos que essa responsabilidade deve continuar sendo da prefeitura, como vinha sendo feito, e que o direito desses alunos de chegar até as escolas deve ser garantido”, afirma Daniel Dias.
Abaixo-assinado é levado ao Ministério Público
Na última sexta-feira foi protocolado no Ministério Público um documento contendo uma carta explicativa sobre a situação dos estudantes da rede estadual de ensino que residem nos conjuntos habitacionais Monte Sião 1, 2 e 4, Minas Gerais e Recanto das Águas. Foi anexado ao documento um abaixo-assinado pedindo a apuração da responsabilidade pelo transporte público para a rede estadual de ensino, já que não há escolas nos conjuntos.
Mãe de três adolescentes que estudam em escola estadual, Elisângela Brito, moradora do Monte Sião 1, diz que o sacrifício dos alunos e dos pais tem sido enorme. Ela mesmo faz o trajeto duas vezes ao dia para levar os filhos até a escola.
“Não estamos mais aguentando esse sofrimento. Por causa do sol quente, minha filha mais nova, que está no 6º ano na Escola Estadual Professora Dilma Quadros, chegou a passar mal várias vezes. A direção da escola solicita a minha presença e tenho que refazer o trajeto, que leva em média uma hora. Quando não posso buscá-los, fico muito apreensiva esperando por eles. A falta do transporte tem gerado muita dor de cabeça”, afirma.
Desmaios, fortes dores de cabeça, insolação e abordagens perigosas durante a caminhada pelo atalho repleto de mato são relatados pelos estudantes e pelos pais.
“Acordamos às 5h, saímos do bairro às 6h e chegamos após as 7h na escola, sempre atrasados. O trajeto é dentro do mato e é bem perigoso. Sempre andamos em grupos para nossa proteção e nunca esquecemos da sombrinha e da garrafa de água. A dor de cabeça é sempre constante. A situação está muito difícil”, conta a estudante Leidiane Soares, de 17 anos, da Escola Estadual Américo Martins.
Entramos em contato com a secretária Municipal de Educação, Rejane Veloso Rodrigues, mas ela nos informou que não poderia falar sobre o assunto e que procurássemos a assessoria de comunicação da prefeitura, que também não nos retornou.
Em nota, a Secretaria de Estado de Educação (SEE) informou que o transporte escolar dos alunos de escolas estaduais residentes em áreas rurais do município está funcionando normalmente desde o início do ano letivo, em 7 de fevereiro de 2019.